“E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.” (Mateus 13:22)
No nosso primeiro e último texto, mencionamos que catecismo está dividido em quatro partes, sendo a primeira delas destinada à profissão da fé. Muito bem, mas o que é fé? E como vamos professa-la?
Professar é um verbo que remete a declarar; reconhecer publicamente algo de que tenha convicção. Por isso, quando dizemos “Eu creio” ou “Nós cremos”, estamos professando nossa fé. Já esta última se traduz em uma crença em algo ou alguém sem que se tenha evidência física. É um sentimento contrário à dúvida, sendo nossa maior e melhor resposta a Deus. Digo isso porque fomos criados por Deus e para Deus. Exatamente, se existimos é porque Deus nos criou por amor e, por amor, nos dá o ser. Não sou Eu dizendo isso, consta do Catecismo da Igreja Católica:
“O aspecto mais sublime da dignidade humana está nessa vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor, e por amor, não cessa em dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador.”
Se ainda tem dúvidas disso, leia At 17,23-28: “De um só, Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, fixando os tempos anteriormente determinados e os limites de seu habitat. Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora Ele não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos.”
Conseguem perceber o quão profunda é esta passagem da bíblia? Confesso que fiquei um bom tempo refletindo. Ela revela que o ser humano é por natureza um ser religioso, na medida em que provém de Deus e em sua direção tende a seguir. Por isso, SOMOS CAPAZES DE DEUS.
Somos capazes de Deus não só pela nossa natureza, mas também por meio de nosso potencial conhecimento e interação com o mundo. Ora, a partir da ordem de contingência do mundo e de suas belezas, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo. Não por menos consta dos sermões de Sto. Agostinho[1]: “Interrogue a beleza da terra, a beleza do mar, a beleza dessa vasta e imensa atmosfera, a beleza do céu. Interrogue a harmonia que reina nas estrelas, o sol que ilumina o dia com seus raios, a lua que diminui as trevas da noite que substitui o dia, os animais que se movem nas águas, aqueles que vivem sobre a terra e aqueles que voam pelos ares. Tantas almas que não se vê e tantos corpos que impressionam os olhares. Tantos seres visíveis que precisam ser guiados e tantos seres invisíveis que os guiam. Interrogue tudo isso. Tudo isso não responderá: “Olhe, admire nossa beleza”? Sua própria beleza é uma resposta. Ora, quem foi que fez essas belezas mutáveis, se não foi a Imutável Beleza?”
Já fizeram essa reflexão? Se não, sugiro que façam, ajudará em muito a perceber que, a partir das coisas criadas, somos sim capazes de Deus. As criaturas, todas elas, trazem em si alguma semelhança com Deus, muito particularmente o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. Por isso, tudo o que existe reflete a existência de Deus, que transcende a toda criatura.
Por outro lado, nosso potencial de conhecimento também nos torna capazes de Deus. Embora nosso conhecimento seja limitado, temos sendo do bem moral, livre arbítrio e consciência. Com isso, podemos nos interrogar acerca da existência de Deus e percebermos sinais. Mas claro, nas atuais condições em que nos encontramos, há grande dificuldade para conhecer a Deus apenas com a luz da razão. Como consequência, o homem tem necessidade de ser iluminado pela revelação de Deus, pois ainda há coisas que ultrapassam nosso entendimento. Em arremate:
“Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.“ (Romanos 1:19,20)
[1] https://ia804501.us.archive.org/view_archive.php?archive=/4/items/santo-agostinho-sermoes-pdf/Santo%20Agostinho%20-%20Serm%C3%B5es%20%28PDF%29.zip&file=Santo%20Agostinho%20-%20Serm%E2%95%9Eo%20241%20%28A%20ressurrei%D0%97%E2%95%9Eo%20dos%20mortos%20II%29.pdf