Josué Bem Josuá era um jovem, famoso na Mesopotâmia, conhecido como pescador de homens. Nas guerras, ele usava uma rede bastante pesada feita com fios metálicos que era atirada sobre os inimigos para capturá-los. Essa arma era conhecida como uma maldição, símbolo da morte, de cativeiro, de tormento.
Por sua vez, Jesus, andando à beira mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. Disse a eles Jesus: “sigam-me, e eu os farei pescadores de homens”. No mesmo instante, deixaram suas redes e o seguiram. Indo um pouco mais adiante, encontrou em um barco Tiago e seu irmão, filhos de Zebedeu, preparando as redes e a eles fez o mesmo inusitado convite. Eles também o seguiram, deixando seu pai, Zebedeu, com os empregados no barco (Marcos, 1:14-0).
Essa passagem bíblica pode nos fornecer material para uma ótima reflexão a respeito de nós mesmos: que tipo de pescadores de homens nós temos sido?
Vivendo em sociedade, nos é impossível não influenciar e não ser influenciado pelas pessoas que habitam ao nosso redor. Então, é essencial pensar na qualidade da ação que exercemos sobre os outros, sejam por palavras, atitudes, comportamentos ou até gestos. Sem dúvidas, para esse exercício, nada melhor que o exemplo do próprio Cristo, pois a mensagem e vida do Nazareno é fonte inegável que devemos buscar para o progresso moral e espiritual.
No capítulo intitulado Estranha Moral do Livro dos Espíritos, cujo subtítulo é Abandonar pai, mãe e filhos, podemos ler a passagem bíblica (Mateus, 19:9), que diz o seguinte:
Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna.
Este trecho não significa que devemos renunciar à família, pois seria a negação da doutrina cristã pela qual aprendemos que devemos “honrar pai e mãe”, mas simplesmente que a vida verdadeira, na espiritualidade, deve prevalecer sobre os interesses e todas as considerações humanas mundanas.
Por outro lado, reconhecemos “o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”. O Espiritismo, bem compreendido e sobretudo bem sentido, deve levar o homem a tornar-se um homem de bem. Muitos de nós, embora nos exercitemos nas manifestações mediúnicas, não entendemos suas consequências nem o alcance moral ou, se entendemos, não os aplicamos a nós mesmos. Isso ocorre devido a nossa falta de maturidade do senso moral, pois em nós vigora muito forte ainda os laços da matéria para permitir que nos desprendamos das coisas terrenas. Somos, assim, Espíritas imperfeitos porque recuamos diante da obrigação de nos reformarmos.
O Espírita verdadeiro, que se acha em grau superior de adiantamento moral, tem uma visão mais clara do futuro. Os princípios da doutrina fazem vibrar as fibras mais íntimas. É tocado no coração e é conduzido paulatinamente na direção do desapego e do progresso moral
O Evangelho Segundo o Espiritismo, no item intitulado Missão dos Espíritas, resume que, como Espíritas, devemos ir e pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres e que os Espíritas que estão no bom caminho serão reconhecidos pelos princípios da verdadeira caridade que ensinarão e praticarão.
Assim, Cristo pode ter usado a expressão “pescadores de homens” ao convocar os futuros apóstolos porque estes foram pescadores de oficio e porque queria dar uma outra conotação ao já conhecido pescador de homens da mesopotâmia. Ao contrário de Josué Bem Josuá, que empregava a força e a violência para pescar homens com o fim de impor-lhes algum tormento, Cristo quer formar pescadores para disseminar a boa nova da esperança e da confiança no futuro, para pescar homens de um mundo terreno cheio de aflições e oferecer-lhe a paz de espírito. Os quatro apóstolos abandonaram de pronto os seus afazeres, abandonaram o próprio ganha pão, afastaram-se dos familiares, ou seja, de tudo que os podia prender naquele lugar para seguir a Cristo e a espalhar a sua filosofia.
Nos dias de hoje, tudo isso talvez signifique não abandonar tudo materialmente, mas indique o desapego, o entendimento que nada nos pertence por verdadeiro e que a verdadeira propriedade está na consciência tranquila, livre dos males da discórdia, da inveja, do ciúme e tantos outros males… Consciência tranquila que só podemos conseguir buscando o divino que existe em cada um de nós.
Dessa forma, transformados, seremos então pescadores de homens, não como Josué Bem Josuá, mas como Simão, André, Tiago e João, os quais levaram a esperança e a renovação aos corações dos irmãos de caminhada. Por nossas palavras e ações atrairemos o melhor da espiritualidade para nossa companhia e espalharemos os melhores exemplos para arrastar para o bem aqueles do nosso convívio.