Em artigos anteriores, analisamos as quatro espécies de leitura, a perspectiva de Rubem Alves sobre a leitura dinâmica, assim como o prazer de ler enquanto fator necessário à formação do educador. Assim, as artes da leitura e do aprendizado são apresentadas ao leitor do Saber Virtuoso de maneira de forma progressiva e indispensavelmente complementar.
Neste momento, é importante lembrar a obra de Mortimer Adler e Charles Van Doren, autores do clássico intitulado “Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente”. Como requisito para que o leitor entenda em que consiste uma leitura realizada de maneira inteligentemente metódica, é preciso compreender os chamados níveis de leitura, apresentados pelos autores acima mencionados.
De modo geral, pode-se dizer que “o objetivo de um leitor – entretenimento, informação ou entendimento – determinará a maneira como lê”. Por isso, os autores afirmam que “a eficiência de sua leitura será diretamente proporcional ao esforço e à habilidade que imprimir na tarefa. Em geral, a regra é esta: quanto mais esforço, melhor – sobretudo em relação aos livros difíceis, isto é, aos livros que são capazes de elevar nossa mente de um estado de entendimento inferior para um estado de entendimento superior” (ADLER; DOREN, 2010, p. 37).
De acordo com Adler e Doren (2010, p. 37-40), basicamente, há quatro níveis de leitura: a leitura elementar, a leitura inspecional, a leitura analítica e a leitura sintópica.
O primeiro nível de leitura é o da leitura elementar, que “[…] também poderia ser chamado de leitura rudimentar, leitura básica ou leitura inicial: o que importa aqui é o fato de que esse nível sugere que a pessoa deixou o analfabeto e tornou-se alfabetizada” (ADLER; DOREN, 2010, p. 37).
Neste nível inaugural, “a pergunta que o leitor faz é: ‘O que diz a frase?’. A pergunta até poderia ser difícil, mas o sentido que buscamos aqui é o mais simplório possível” (ADLER; DOREN, 2010, p. 38).
Adiante, o segundo nível de leitura é denominado leitura inspecional. “Esse nível de leitura poderia ser chamado de pré-leitura. Porém, não se trata de folhear o livro aleatoriamente. A leitura inspecional é a arte de folhear o livro sistematicamente. O objetivo da leitura desse nível é examinar a superfície do livro, aprender o que a superfície pode nos ensinar – e quase sempre essa é uma atividade lucrativa. Enquanto a pergunta do nível elementar é ‘O que diz a frase?’, a pergunta inspecional é ‘O livro é sobre o quê?’. Há perguntas similares, como ‘Qual a estrutura do livro?’ ou ‘Em quais partes o livro é dividido?’” (ADLER; DOREN, 2010, p. 39).
Como terceiro nível, temos a leitura analítica. A esse respeito, tem-se que “a leitura analítica é a leitura propriamente dita, isto é, a leitura completa, plena – a melhor leitura possível” (ADLER; DOREN, 2010, p. 39).
Sobre a leitura analítica, vale lembrar que ela “[…] não é a necessária caso seu objetivo seja apenas informar-se ou divertir-se. A leitura analítica é destinada exclusivamente a entender o livro. Em outras palavras, elevar sua mente de um estado de entendimento inferior a um estado de entendimento superior é praticamente impossível sem um mínimo de domínio das técnicas de leitura analítica” (ADLER; DOREN, 2010, p. 40, grifos dos autores).
Finalmente, o último nível de leitura é a chamada leitura sintópica. Segundo Adler e Doren (2010, p. 40), “esse nível de leitura também poderia ser chamado de leitura comparativa. A leitura sintópica implica a leitura de muitos livros, ordenando-os mutuamente em relação a um assunto sobre o qual todos versem. Mas comparar não é o bastante. A leitura sintópica é mais sofisticada do que a mera comparação. Com os livros em mãos, o leitor sintópico estará apto a desenvolver uma análise que talvez não esteja em nenhum livro” (ADLER; DOREN, 2010, p. 40, grifos dos autores).
Do exposto, podemos concluir que, assim como existem diferentes níveis de leitura, também há leitores distintos, a depender da atividade que o leitor exercita sobre o material lido. Por isso, é necessário se atentar para as variadas metodologias de leitura e aprendizado que a literatura especializada nos fornece, tendo em vista o objetivo de aprimoramento contínuo da inteligência e do espírito criativo.
Referência:
ADLER, Mortimer; DOREN, Charles Van. Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente. Tradução Edward Horst Wolff e Pedro Sette-Câmara. São Paulo: É Realizações, 2010.