Em artigos anteriores, já refletimos sobre as espécies e os níveis de leitura, o prazer de ler enquanto condição indispensável à formação do educador, e até mesmo trouxemos à tona a opinião de Rubem Alves sobre a famigerada leitura dinâmica.
Neste momento, a nossa atenção será direcionada para a controvérsia relativa à prática da releitura. Aliás, refiro-me ao ato de reler como uma atividade sobre a qual recai uma discussão literária e acadêmica justamente porque todos sabemos que, atualmente, vivemos imersos na chamada Era da Informação, especialmente com o advento de tecnologias digitais de informação e comunicação.
Por isso, diante de uma quantidade imensa de informação que é diariamente produzida e massivamente disseminada, o leitor precisa se atentar para a escassez inerente ao fator tempo. Isto é, não temos tempos suficiente para ler tudo aquilo que desperta a nossa curiosidade e instiga a nossa inteligência.
Essa foi a razão pela qual Faguet (2009, p. 131) disse que “reler é, na verdade, uma ocupação de pessoas pouco ocupadas”. Apesar da contundência dessa afirmação, ela traz consigo uma verdade contemporaneamente quase inquestionável: somos muito ocupados para reler os livros em que tivemos o prazer e o privilégio de aprender algo importante ou minimamente interessante.
No entanto, logo em seguida, o mesmo autor faz uma defesa belíssima dos benefícios da releitura. De início, ensina-nos: “Relemos para compreender melhor. Com esse propósito relemos, sobretudo, os filósofos, os moralistas, os pensadores, o que não é ruim, mas não há autores que não possam ser relidos com essa intenção, e há os que são tão dignos de serem relidos que devemos relê-los com esse objetivo” (FAGUET, 2009, p. 131).
Inclusive, citando La Fontaine e La Bruyère, Faguet (2009, p. 131) admite que “ao relê-los pela vigésima vez encontramos passagens que não havíamos compreendido do modo como deviam ser compreendidas e que entendemos pela primeira vez. Ao mesmo tempo, sentimo-nos gratos por tal descoberta, por isso é um prazer, e ficamos um pouco irritados por não tê-la feito antes. Trata-se de um exercício de humildade bastante saudável”.
Consideradas as adequadas proporções e precauções, na maioria das vezes, “compreendemos bem melhor um autor quando o relemos do que quando o lemos pela primeira vez. Basta que desconfiemos um pouco de nós mesmos e não leiamos nele somente aquilo que ali colocamos. Eu releio muito; acredito compreender bem melhor” (FAGUET, 2009, p. 132).
Em resumo, Faguet (2009, p. 133) defende: “Reler ensina a arte de ler”. Em princípio, em tal afirmativa está uma clara lição pedagógica. À medida que relemos, aprimoramos a nossa capacidade de leitura e de interpretação, particularmente na sedimentação do conhecimento até então adquirido e na descoberta de novas informações, detalhes, nuances, que havíamos negligenciado, involuntariamente.
Referência:
FAGUET, Émile. A arte de ler. Tradução Ana Lisboa. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.