O conhecimento é algo de extremo valor – arrisco dizer que é o bem mais valioso que alguém pode ter. Com o conhecimento a capacidade de solucionar problemas é ampliada, e esta capacidade tem um crescimento exponencial a partir do momento em que o indivíduo sabe como utilizar este conhecimento, ou seja, como empregá-lo de forma mais hábil a seu favor.
Antes de adentrar diretamente no tema, faz-se importante apontar que o presente artigo é uma crítica construtiva, pois que há o devido reconhecimento da importância do conhecimento de massa, ainda que seja superficial, contudo, o foco é demonstrar que o indivíduo não pode e nem deve tomar este conhecimento como algo infalível.
O indivíduo pode aprimorar-se em algumas áreas, entretanto para que isso ocorra terá de deixar de se aprimorar em outras. Uma vida é pouco tempo para adquirir todo o conhecimento existente, por esta razão aprendemos a utilizar o conhecimento alheio de alguma forma que nos seja útil. Aprendemos as normas éticas, de conduta, básicas da vida de forma natural – eu diria até irracional em um primeiro contato. Antes de entender a razão de respeito para com os mais velhos, nós já o fazemos, com o passar do tempo e com a curiosidade individual, alguns terão a necessidade de tornar esse ato de respeito aos mais velhos em algo inteligível, buscando as raízes deste conhecimento, o motivo que o fez ser o que é.
A massificação do conhecimento foi um dos fatores que ajudou a humanidade a evoluir, o indivíduo, portanto, foi capaz de acumular uma grande quantidade de conhecimento, que supera em muito o seu tempo de vida, apenas observando e seguindo as massas. O perigo deste tipo de conhecimento é que ele acaba por gerar uma falta de curiosidade. O indivíduo acredita que sabe muito e não é necessário buscar novos saberes, ademais acaba por aceitar a verdade quantitativa, ou seja, a partir do momento que a maioria acredita em algo, este algo é tido como verdade pelo indivíduo.
É neste ponto que Alexis de Tocqueville apresenta sua observação, um tanto quanto aristotélica, pois que analisa o conhecimento de massa como um conhecimento democrático, enquanto, em contrapartida atribui uma superioridade ao conhecimento aristocrático.
A terminologia utiliza por Alexis de Tocqueville em a “Democracia na América” é empregada com o termo “ideia”, mas que em seu contexto podemos atribuir a ela uma espécie de sinônimo para conhecimento, pois que é a qualidade em si do argumento que transforma o termo.
Para iniciar, diz que nos povos democráticos há uma tendência de aceitação pelas ideias gerais, algo similar ao que Aristóteles já reconhecia há muito tempo como um problema da democracia, pois que na democracia as virtudes não são importantes.
Quanto a aristocracia, Aristóteles, via ela não como uma casta de ricos e poderosos, mas composta de pessoas de grandes virtudes e conhecimentos. Para Aristóteles, a aristocracia é composta de pessoas virtuosas.
Nestes termos, Alexis de Tocqueville apresenta o seguinte (pg. 478, 479)
É preciso distinguir entre esses tipos de ideias. Há as que são produto de um trabalho lento, detalhado e consciencioso de inteligência, que ampliam a esfera dos conhecimentos humanos.
Há outras que facilmente nascem de um primeiro esforço rápido do espírito e que só levam a noções muito superficiais e muito incertas.
[…] Os homens dos séculos democráticos apreciam as ideias gerais porque elas os dispensam de estudar os casos particulares; elas contêm, se assim posso dizer, muitas coisas dentro de um pequeno volume, e em pouco tempo geram um grande produto. Portanto, quando, após um exame desatento e breve, creem perceber entre certos objetos uma relação comum, eles não levam sua busca mais adiante e, sem examinar em detalhe como esses diversos objetos se assemelham ou diferem, apressam-se em classificar todos sob a mesma fórmula, a fim de passar adiante.
Uma das características distintivas dos séculos democráticos é o gosto que todos os homens sentem pelos sucessos fáceis e pelos prazeres imediatos. Encontramos isso tanto nas carreiras intelectuais quanto em todas as outras. A maioria dos que vivem nos tempos de igualdade está cheia de uma ambição ao mesmo tempo intensa e fraca; querem alcançar imediatamente grandes sucessos, mas desejariam se desobrigar de grandes esforços. Esses instintos contrários os levam diretamente à procura de ideias gerais, por meio das quais se orgulham de pintar amplos objetos a pouco custo e de atrair os olhares do público sem dificuldade.
[…]
Enquanto as nações aristocráticas não fazem uso suficiente das ideias gerais e muitas vezes sentem por elas um desprezo desconsiderado, os povos democráticos, ao contrário, estão sempre dispostos a abusar desses tipos de ideias e a inflamar-se imprudentemente por elas.
A crítica feita por Alexis de Tocqueville é muito válida e pertinente aponta com precisão a desídia que as massas têm para com o conhecimento, da mesma forma como a aristocracia acaba por subestimar o conhecimento comum.
É importante notar que há uma relevância no conhecimento de massa, pois que é ele que permite a acumulação de vários saberes em um curto espaço de tempo. Contudo, é imperioso ressaltar a importância de um conhecimento superior, crítico, mais elevado e que não é possível de ser alcançado enquanto as amarras da verdade quantitativa estiverem presentes. Não é porque uma multidão acredita em algo que este algo será ou tornar-se-á em verdade.
A superficialidade das ideias é cômoda, mas escravizante. Esta superficialidade torna o indivíduo em um escravo da massa. Aquilo que conhece ou pode conhecer deriva diretamente do que a massa passa a conhecer, nada mais e nada a menos.
Não há razão direta para rejeitar o conhecimento das massas, como uma base inicial, pois que este possui sua importância para a evolução e aprendizado do indivíduo. Entretanto, é necessário que o indivíduo saiba das falhas que são próprias deste tipo de conhecimento, que se liberte das amarras e evolua.