A verdade além de algo moral e ético também é uma prática e um conhecimento. Pode-se provar tal argumento da seguinte forma: sem a prática, sem o exercício da verdade, haverá o seu desuso, caindo em esquecimento, assim como acontece com qualquer outro tipo de conhecimento.
O que temos é que como a verdade é um conhecimento, está apta ao esquecimento, pois acabamos por esquecer aquilo que não utilizamos. O nosso conhecimento, poderá, sim, ser perdido após longos períodos em inércia, transformando-se em esquecimento.
Interessante pontuar que, mesmo após a busca da verdade ter sido concluída, será necessário defendê-la com tanto vigor quanto foi utilizado para obtê-la. E como defende-se a verdade? Disseminando-a e combatendo a mentira.
Com estes dois requisitos, após o reconhecimento da verdade, dar-se-á início a sua manutenção. A disseminação se faz necessária para evitar o empoderamento da mentira, enquanto o combate é feito para defender a verdade de uma maneira mais contundente.
Entretanto, não seria mais fácil simplesmente proibir a mentira?
A problemática da proibição da mentira
Em um primeiro ponto analisaremos se a verdade que temos hoje é a verdade absoluta. Em caso de concluir que não seja a verdade absoluta, os contrapontos apontados como mentira, mais cedo ou tarde têm a possibilidade de confirmarem-se como verdade.
Veja, a verdade é uma, não há como relativizá-la. De qualquer forma, temos que entender que podemos não ter chegado na verdade absoluta, sendo assim, a proibição de contrapontos que podem ser tidos como mentira é um desserviço para com a própria verdade. Essa proibição daquilo que é posto como mentira pode nos impossibilitar de atingir a verdade absoluta. E, caso já tenhamos atingido a verdade absoluta, não há o que temer quanto a mentiras, tendo em vista que a verdade sempre prevalecerá, seja de uma forma ou de outra.
Outro ponto importante que já foi mencionado, mas que vale a pena sua retomada: o não exercício da verdade a fará desaparecer, poderíamos ter o conhecimento do que é a verdade, mas não a razão de ser da verdade. Por conseguinte, até onde iria perdurar a verdade sem a necessidade de sua lembrança?
Coloco a verdade como um tipo de conhecimento, trata-se de um tipo de conhecimento superior por possuir um status extra de validade e importância moral, mas que como sua base é o conhecimento, as mesmas variáveis são aplicáveis, inclusive quanto a sua evolução, desenvolvimento, assim como a possibilidade de existência de contrapontos, ainda que considerados mentira.
A censura da mentira
Com tudo o que já foi dito é mais fácil derivar e deduzir quais serão os danos causados por censurar a mentira, ou o que se acredita ser mentira.
O que é a mentira? Sabemos que é aquilo que notoriamente não é verdade, geralmente atrelada a inverdade de um fato físico ocorrido, e que, portanto, mais fácil de apontá-la: livros, conhecimento geral e comum, costumes, cultura e afins. Alguns, podem ser abstratos, mas são de fáceis reconhecimento no mundo físico, dada as interações interpessoais.
No mundo físico a verdade é relativamente mais fácil de ser encontrara, já no mundo das ideias e dos fatos complexos há uma dificuldade muito acentuada. Como, então, a verdade se estabelece no decorrer do tempo, em apontamentos a experiências vividas, que se trata de um conjunto de fatos e não de um fato isoladamente, tornando o embate de ideias imprescindível para apresentar premissas e hipóteses que devam ser validadas ou rejeitadas, com base no conjunto de fatos complexos vividos. No tocante ao mundo das ideias podemos inferir que a verdade pesará para o lado da virtude, do bom e do justo, tendo estes requisitos, parâmetros, objetivamente definidos na realidade humana, não podendo dar espaço para a subjetividade destes conceitos, ou assim, criaríamos uma “verdade” subjetiva, algo totalmente avesso à verdade que é única.
Na contramão temos a mentira, que não é única e não se atem a fatos complexos. Para a mentira a análise se dá de forma subjetiva, utilitária e pontual. Podemos apontar o seguinte: a imposição de fatos isolado como verdade que se sobrepõe ao todo não torna o todo em verdade. Além do mais, a mentira pode ser contestada e contraposta por outra mentira, como saber qual é mais mentirosa? Ora, pode parecer apenas uma conjectura vazia, porém em caso de desconhecimento da verdade nada impede que haja uma disputa entre qual das mentiras é menos ruim ou que mais se aproxima daquilo que se espera ser verdade.
Se censurarmos a mentira, como descobriremos a verdade? Para podemos censurar a mentira, precisaríamos saber tudo, inclusive a mentira. Sem saber o que é mentira, como proibi-la, como censurá-la? Seria necessário um conhecimento tão grande para poder afirmar que algo é uma verdade absoluta, que nenhum ser humano é plenamente capaz de tal feito. Todavia, isso não quer dizer que a verdade atual seja inútil, muito pelo contrário. A verdade atual é um guia seguro para a nossa caminhada, pois é a melhor ferramenta que temos no momento. Devemos utilizá-la e aprimorá-la ao máximo, objetivando otimizá-la até chegar ao ponto da verdade absoluta.
Podemos estar falando de um caminho sem fim, a busca pela verdade absoluta, mas é um caminho que todos aqueles que percorrem terão a satisfação de defender seus valores suas crenças, com base naquilo que a vida, a experiência e o conhecimento lhe proporcionam.