Há cerca de quatro meses já abordei esse tema, de forma indireta, comentando o alerta feito pelo filósofo Sul Coreano Byung Chul Han, em seu livro “A sociedade do cansaço “. A medicalização da sociedade. O assunto é mais sério do que parece, mas por razões óbvias, muito pouco tratado ou comentado.
O fato é que devido às pressões sociais para desempenho, há uma inundação do uso de alguns medicamentos psico-ativos na sociedade.
Também conhecido por doping cerebral, que é o uso de psicofármacos para melhorar a performance cognitiva e intelectual. Busca desenfreada por resultados numa sociedade muito competitiva.
Vemos um aumento cada vez maior na prescrição de estimulantes, principalmente o metilfenidato, uma anfetamina conhecida como Ritalina, no combate a problemas cognitivos e de comportamento que sempre existiram e que hoje conhecemos como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).
Pesquisa da Universidade Federal de SC, de 2020, cerca de 17% dos estudantes universitários faz uso de medicamentos para turbinar o estudo.
Um número parecido é sugerido no mercado de trabalho, nas funções e empregos mais competitivos. Seria uma versão mais light, sic, dos cheiradores de pó no mercado financeiro nos anos 90.
A verdade é que esses medicamentos viciam, tem muitos efeitos colaterais, para quem por necessidade de diagnóstico, não necessita deste, torna as pessoas mais agressivas e irritadas, etecetera. Geram síndrome de abstinência tal qual qualquer substância viciante.
Para complicar parte dessa população também vem a fazer uso de álcool e outras drogas. Uma mistura perigosa.
Pior que para combater os efeitos colaterais as pessoas acabam se viciando em ansiolíticos, também, para dormir, após o baque da anfetamina. Um tremendo “Soma” do nosso Admirável mundo novo.
A discussão é moral, já que não há qualquer proibição de realizar aprimoramento farmacológico cognitivo, por indicação médica, tal qual se pratica em cirurgia plástica para a estética. Mas os riscos devem ser bem explanados aos pacientes. O maior problema é que há um farto mercado negro sem qualquer controle.
Os riscos parecem ser maiores que os benefícios.
Os laboratórios e a mídia não falam quase nada sobre o assunto. Por que será?