“Certamente é verdade que recomendo o reconhecimento da beleza como único remédio contra a estupidez e que atribuo todos os males deste mundo ao cruel soterramento e à malévola poluição, praticados por séculos, da fonte de toda a vida.” –Karl Kraus
Vários intelectuais e estetas profissionais já denunciaram a total ausência da beleza na civilização ocidental contemporânea, a degeneração da arte como expressão de sentimentos nobres e uma autoconsciência elevada, voltada ao mais sublime da alta cultura, seja na sétima arte, na literatura e na música. De Roger Scruton a Clodovil Hernandes, John Taylor Gatto e Theodore Dalrymple, vários intelectos admiráveis já perceberam que Theodoro Adorno infelizmente estava certo ao declarar que “a arte está morta“.
A propaganda do Burger King–que já foi retirada do ar –prova que o bom senso artístico, se já respirava por aparelhos, agora morreu de vez, junto com o apetite de qualquer pessoa considerada por Sigmund Freud como minimamente “normal”; afinal, eu nunca vi Gordon Ramsay sexualizar nenhuma de suas glamourosas receitas, muito menos os igualmente talentosos chefs brasileiros Erick Jacquin e Henrique Fogaça, referências mundiais em culinária, verdadeiros artistas da cozinha.
Transformar comida em arte, como fazem grandes chefs, com certeza é algo que agrada a Deus, pois enaltece seu presente mais precioso ao homem de carne e osso: O alimento, que nos sacia, sustenta e fortalece, para que possamos Adorá-lo com satisfação e alegria, enquanto não somos chamados à Glória Eterna!
Voltemo-nos, urgentemente, a Timóteo 1 4:4-5 :“Pois tudo quanto Deus fez é bom, e podemos comer com satisfação se for recebido com ação de graças, porque a palavra de Deus e a oração tornam todos os alimentos santificados”. É algo antiético e pecaminoso sexualizar alimentos, principalmente em um país com tantos famintos –inclusive crianças –como o Brasil! É algo que só pode partir de pessoas sem a mais ínfima empatia!
Só é capaz de sexualizar um alimento, quem nunca passou fome. Quem nunca ajudou um mendigo faminto, buscando um pedaço de pão para não morrerem uma madrugada gélida. Quem nunca sentiu a dor de ver os filhos adormecerem sem ter feito uma única refeição no dia.
Mas, o que esperar da Esquerda, que prega a erradicação da miséria apenas como slogan político, estando aí, pari passu, impossibilitada de transformar o slogan em políticas públicas realmente eficazes? Afinal, erradicar a pobreza, significa não ter mais pobres para enganar com as velhas promessas utópicas de justiça social.
Em João6:13-35, Nosso Senhor Jesus Cristo realizou, com os pães, o milagre da multiplicação, não da sexualização. Sexo entre adultos consentidos não é pecado na maioria dos contextos, mas alimentos são sagrados. SA-GRA-DOS.
Meros pedaços de carne
Além de profanar a santidade dos alimentos, que já é algo de extremo mau gosto, a propaganda em questão traz consigo aspectos muito mais sombrios da simbologia ideológica revolucionária.
Sabemos que nossa sociedade caminha, como pontuou Zygmunt Bauman, para relações cada vez mais líquidas, no sentido de voláteis, evanescentes. É evidente que cada vez mais pessoas estão sexualmente insatisfeitas e emocionalmente frustradas, consigo mesmas e com seus (suas) parceiros (as)pois, como disse o filósofo pernambucano Luiz Felipe Pondé, vivemos “num mundo ignorante sobre sexo, porque o confunde com província da‘ biopolítica’”. Mas, ao ponto de sexualizar alimentos?!Calma aí! Posso ser uma pessoa difícil de impressionar, mas meu estômago é sensível!
Como menciona Allan Bloom, “a desconfortável relação entre a revolução sexual e o feminismo produziu uma estranha tensão em que todas as relações morais que governam a natureza desapareceram, mas a natureza também. A alegria da libertação evaporou-se, no entanto, pois não está claro o que exatamente e foi libertado, ou se novas e mais onerosas responsabilidades não foram atribuídas a nós”; o que foi “libertado” é, sem meias palavras, o que jamais deveria ter sido: A espontaneidade das relações entre homens e mulheres, o que Sócrates expôs nos Diálogos como uma igualdade impossível, que vai de encontro à natureza biológica da mulher, distorce as valiosas conquistas do verdadeiro feminismo –por exemplo, igualdade salarial, direito ao voto e a carreiras profissionais antes unicamente “masculinas”, como menciona George Bernard Shaw no Intelligent Woman’s Guide to Socialism, um livro ruim, com momentos geniais–e tenta impor uma espécie de liberdade que, não sejamos hipócritas, vai contra a própria natureza feminina de afeto, fidelidade e proteção masculina.
A tensão de mulheres conflitantes entre seus desejos e necessidades reais, e o que Luiz Felipe Pondé chamou de regras impostas por chatinhas feministas, acaba causando todo tipo de excrescência absurda, como a alusão à pornografia –a única coisa que a revolução sexual conseguiu produzir –em uma propaganda de lanches, pois se as palavras de Konrad Lorenz de que o publicitário moderno que “deseja conquistar grandes massas humanas utiliza a chave para o seu ‘coração’ “apelando às “normas comportamentais programadas geneticamente, como o medo, a sexualidade, a necessidade de ordenamento,etc”,tornou-se regra até em uma propaganda de lanches sexualizados, então realmente estamos “em maus lençóis”, literalmente falando, pois as chatinhas feministas
Conseguiram transformar a vida real em uma chatice. Afinal, como vemos n’A República de Platão, liberdade e igualdade não podem coexistir. E a politização do amor tem provado isso.
Misto Quente de Charles Bukowski
A literatura–e a arte em geral -é uma das mais formidáveis formas de escapismo da humanidade. A realidade, não raro, é insuportável, e a catarse artística toma seu lugar, tornando-se um paliativo para as crueldades da vida. Dentre diversos outros autores geniais, talvez o mais proeminente seja o poeta, contista e romancista estadunidense nascido na Alemanha, Charles Bukowski.
No supramencionado romance semi-biográfico, Bukowski narra a trágica estória de Henry Chinaski, o protagonista pobre, socialmente deslocado, fisicamente repulsivo, agressivo e alcoólatra desde a infância, e suas constantes desilusões durante a vida, tornando-se cada vez mais desiludido consigo mesmo e com a impossibilidade de modificar sua realidade, tornando-se um recluso, solitário e apático com relação a seu próprio futuro.
Quando falamos sobre literatura, “não tem sentido insistir na pergunta: quando acaba a ‘literatura morta’ ou quando começa a ‘literatura viva’”, como pontuou Otto Maria Carpeaux, pois “presente e passado encontram-se tão indissoluvelmente ligados –seja em relação unilinear, seja em relação dialética –que a nossa civilização não existe, em nenhum ponto da evolução histórica, sem encerrar todo o seu passado; é mister perguntar quando o passado principia.”
Os dramas intrinsecamente humanos da obra de Charles Bukowski cessaram de existir desde a publicação Misto Quente? Não. Apenas ampliaram-se formidavelmente, contando agora com a vigilância de grupos ideológicos militantes, cuja prerrogativa é complicar ainda mais as relações humanas, como se estas já não fossem naturalmente complicadas em si mesmas.
Resta a indústria da pornografia, da propaganda e do entretenimento barato, onde estômago e Eros tornam-se um, atingindo apenas um objetivo: Gerar lucro em uma sociedade frustrada e confusa, por meio de mais confusão. Como escreveu Roger Scruton, “a vida atrás de uma tela”, o simulacro moderno de felicidade, a fantasia criada como ideal inatingível, posteriormente cumprindo seu papel mercadológico. Gastar dinheiro ainda é uma forma de tornar a vida menos insuportável.
Afinal, como escreveu Luiz Felipe Pondé, “Lidar com o fracasso afetivo é um dos mais constantes e insolúveis desafios da vida adulta”, principalmente quando este fracasso tornou-se a agenda política de milhões de pessoas –já fracassadas –ao redor do mundo. Difícil imaginar como a idealização fetichista em um lanche pode resolver algo tão complexo.
Referências:
KRAUS, Karl. Aforismos. Porto Alegre: ARQUIPÉLAGO EDITORIAL LTDA., 2010. (Pg. 63)
PONDÉ, Luiz Felipe. Guia Politicamente Incorreto do Sexo. São Paulo: LeYa, 2015. (Pgs. 8, 56)
BLOOM, Allan. The Closing of The American Mind. New York: Simon and Schuster Inc., 1987. (Pgs. 105-106)
SHAW, George Bernard. The Intelligent Woman’s Guide to Socialism and Capitalism. New York: Brentano’s Inc., 1928. (Pg. 197)
LORENZ, Konrad. A Demolição do Homem. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.(Pg. 125)
CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental. Brasília: Edições do Senado Federal, 2008. (Pg.45)
BUKOWSKI, Charles. Hamon Rye. New England: Black Sparrow Books, 1982.