Pode o mercado ser controlado por uma mera vontade individual? Acredito que todos vão dizer que não, que isso não é possível, exceto em alguns casos extremos de pessoas incrivelmente ricas. De qualquer forma, a resposta para o indivíduo normal e o ultra-mega-rico é a mesma: não é possível.
E no caso de um governo, seria possível? Para que ele acabe com o desperdício, o desemprego, e a pobreza? A resposta continua sendo a mesma, NÃO!
Para início, é importante apontar a primeira dificuldade: muitos só veem os efeitos não sabem a causa.
Digamos que o efeito atual seja o desemprego. Qual seria o motivo? Existiriam vários motivos para isso e a maioria deles seria decorrente de ação estatal. Mas, suponhamos que o governo force as empresas a contratar os desempregados, isso faria com que o desemprego caísse em um primeiro momento, e depois oque aconteceria? Provavelmente aumento de preços. As empresas seriam forçadas a arcar com custos que não teriam o retorno desejado, contratando pessoas que não seriam as opções de contratação, que não produziriam o mínimo esperado, ou que não se enquadra-se de forma alguma na vaga entregue, enfim, diversos problemas gerados por uma política que visava acabar com o desemprego. Ao final estes problemas seriam jogados nas costas de todos os outros que já possuíam um trabalho e pagarão mais caro por tudo que forem consumir.
A hipótese acima elencada é apenas um pequeno esboço do motivo pelo qual o mercado pode ser entendido – sabemos que podemos criar empregos a força e que isso irá reduzir o desemprego -, mas não podemos racionalizá-lo – não podemos forçar o mercado a agir de acordo com a nossa vontade, ou seja, a política de emprego forçado dará errado, cedo ou tarde -.
Veja, a racionalização do mercado é pautada em empregar a lógica de alguns movimentos para tentar controlá-lo em todos os aspectos. É uma tentativa falha, sempre falhou e sempre falhará, pois que é impossível prever todas as possíveis situações que podem acontecer. Entretanto, não poder racionalizá-lo não quer dizer que o mercado seja irracional, não, de forma alguma, o mercado possui lógica e razão e nós a entendemos, apenas que não somo capazes de prever com precisão todos os desdobramentos que uma ação individual pode ter. A impossibilidade de prever o que um indivíduo fará é a mesma de prever qual será a reação do mercado.
Tudo que acontece dentro do mercado é passível de ser padronizado, mas apenas a título de observação e experiência e não de prática. Sabemos que preços mais baixos atraem mais clientes, então porque não vendemos tudo ao “preço” mínimo? Bom, é necessário ter em mente que as pessoas possuem preferências e uma quantidade limite de dinheiro. Por exemplo:
- a pessoa possui um real, e há a oportunidade de adquirir um Iphone de última geração por 1 real ou chupar a quantidade que quiser de sorvete por um real. Seria possível dizer que todas as pessoas do mundo iriam preferir o Iphone ao invés do sorvete? Podemos dizer que, via de regra, as pessoas optarão pelo Iphone, mas é plenamente plausível que alguns prefiram o sorvete. E mais, é possível que alguns prefiram não escolher e guardar o dinheiro.
Esse exemplo é mais fácil porque podemos definir apenas essas 3 opções, contudo e se formos passar as consequências? As pessoas comprariam o Iphone para revender? Guardariam o sorvete? Perderiam o dinheiro? E o que aconteceria com as pessoas que interagissem que as primeiras? Trata-se de uma cadeia sem fim. Uma cadeia na qual poderemos ver as consequências apenas após um longo período o que fará com que muitos esqueçam quais foram as causas primas.
Podemos dizer que preços mais baixos atraem mais pessoas, mas quais e quantas, isso é algo muito difícil de ter uma certeza. E, se um dia, do nada, acabasse a internet do mundo, as pessoas iriam ainda preferir o Iphone ao sorvete? São tantas variáveis que podem ocorrer entre a oferta do Iphone por 1 real e a pessoa comprar que não é possível dizer com perfeição qual será a escolha do indivíduo. Deduzimos com base naquilo que conhecemos, mas podemos assumir erroneamente quando se trata de preferências alheias. Por este motivo é que podemos afirmar sem a menor dúvidas, não é possível controlar o mercado. Podemos entendê-lo, mas não racionalizá-lo.
Por esta razão, é que o mercado é impossível de ser racionalizado. Pois, não há como controlar a vontade humana de forma unânime. No entanto, é possível entendê-la, analisando quais os fatores levam o indivíduo a agir de determinada forma, responder a determinados estímulos e assim empregar em forma de analogia à lógica do mercado.
Sendo assim, podemos entender o mercado, ver como ele funciona, mas não podemos controlá-lo. O máximo que se pode fazer é tentar influenciá-lo. Mesmo o estado não tem o poder de fazer mudanças duradouras. Se um estado fosse realmente de capaz de controlar o mercado, não haveria mercado paralelo nem mercado negro, Cuba, Venezuela, Argentina e Coreia do Norte seriam ricas, a URSS não teria caído.
O que se deve fazer então? Não procurar fórmulas mágicas é o primeiro passo. Os danos causados não podem ser revertidos com mais “racionalismo”, a razão humana simples, de um único indivíduo ou de um grupo, não é suficiente para racionalizar o mercado e curar os danos anteriormente causados. Apenas o próprio mercado é capaz de se curar. Desta forma, deve-se sempre evitar qualquer prática que possa gerar danos.
Desta forma, é que podemos entender o mercado, mas não podemos racionalizá-lo, pois que é possível analisar o que dá certo, em grande quantidade das vezes, e o que sempre dá errado. Importante apontar que, ainda que a prática adotada seja boa, nada garante o sucesso de um indivíduo ou empresa no mercado. O resultado positivo é previsto, mas não é uma certeza, o que reforça ainda mais a característica da impossibilidade de racionalização do mercado.
Qual o motivo de práticas boas não trazerem resultados positivos em todas as vezes? O motivo é o mesmo da impossibilidade da racionalização, qual seja, a liberdade individual. Não há garantia alguma de que boas práticas terão êxito definitivo, pois o problema pode não ser como o indivíduo ou empresa presta o serviço ou disponibiliza o produto, mas o serviço ou produto em si que não agrada a terceiros de forma satisfatória.
Podemos utilizar o exemplo do HD-DVD, que foi produzido pela Toshiba e perdeu a guerra para o Blue-Ray da Sony. O HD-DVD era uma tecnologia, supostamente, mais barata e fácil de ser produzida, apesar de ter uma quantidade de armazenamento inferior. O que aconteceu foi que as empresas acabaram por optar pelo Blue-Ray, por motivos mercadológicos, se houve um acordo entre as empresas ou as promessas do HD-DVD não conseguiram ser concretizadas, não há como ter certeza. Entretanto, podemos dizer que a Toshiba é uma empresa muito bem consolidada no mercado de tecnologia e o produto por ela apresentado era tão bom quanto o do concorrente, ainda que tenha seguido os trâmites de uma boa divulgação, apresentação de projeto, mas que não agradou o mercado. Por conseguinte, podemos afirmar que práticas boas nem sempre trazem os resultados esperados. Por outro lado, práticas negativas sempre trarão resultados negativos. Os custos das práticas negativas podem ser rápidos ou lentos, a depender da capacidade de absorção de prejuízos que o agente possuir. Geralmente, os estados conseguem suportar uma grande carga de prejuízo e, por diversas vezes, por longos períodos, o que faz com que se perca a noção de causa e efeito.
Podemos, portanto, dizer que entendemos o funcionamento do mercado, mas não podemos racionalizá-lo, ou seja, forçar o mercado a atuar segundo nossa vontade ou com base em algum padrão lógico previamente estabelecido, exceto aquele padrão que o próprio mercado reconhece e que não aceita, nem respeita, nenhum tipo de interferência. Qualquer tipo de tentativa de racionalizá-lo, ainda que com supostas boas intenções, será levado a uma falha sistêmica.
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