Os manifestantes que estiveram em frente aos quartéis durante todo este tempo merecem todo o nosso respeito e admiração. Lutaram por suas convicções políticas de forma ordeira, pacífica e corajosa.
Dito isso, nota-se que milhões de pessoas foram vítimas da irresponsabilidade de “YouTubers”, “Tiktokers” e “influencers” cuja única prerrogativa é a obtenção de audiência e dinheiro fácil.
Manipulando as pessoas indiscriminadamente, tratando-as como intelectualmente inferiores, incapazes de realizar juízos de valor por si próprias, inertes e subjugadas pelo oportunismo midiático que transcende qualquer propósito político, e visa apenas a ascensão pessoal por meio da admiração e do engajamento dos inocentes bem-intencionados.
Thomas Sowell diz que “Intelectuais acreditam que têm a missão de guiar a sociedade, que são ‘ungidos’, moral e intelectualmente superiores, portanto devem conduzir a sociedade para o caminho que consideram correto.”
No entanto, Thomas Sowell também diz que “quando um intelectual erra, é impossível culpá-lo, pois seu objeto de trabalho é apenas a confecção de ideias.”
Ideias, tão passíveis de “interpretações” e “ambiguidades”.
O cidadão brasileiro foi conduzido ao erro, alimentado com falsas esperanças, providas por oportunistas cuja única lealdade resta apenas a si próprios.
No entanto, personalidades públicas verdadeiramente engajadas em de fato informar a população acerca dos desdobramentos sociais e políticos – não apenas imediatos – foram – e desta vez não apenas pelos ditos “esquerdistas“, utilizando um termo da nomenclatura oficial vigente – mas também pelos ditos (pseudo) “patriotas” (que reconhecem como “pátria” apenas suas próprias contas bancárias), e falsos conservadores – demonizados de forma orquestrada.
“É um esforço fútil tentar falar de fatos e análises para gente que está desfrutando de um senso de superioridade moral em sua própria ignorância“, completa Thomas Sowell.
“Não é nesse plano que deve estar a coerência interior de um homem de pensamento. Ao contrário, quanto mais apegado ele seja aos princípios que norteiam sua consciência, mais incoerente e anárquico há de parecer desde fora, desde as catalogações do hombre massa universitário [e midiático], que, imbecilizado e imediatista até a raiz, vê o mundo como um ringue dividido entre amigos e inimigos“, escreveu o Professor Olavo de Carvalho. Tamanha é a atualidade de tal constatação. Uma sociedade doutrinada, apregoada a um maniqueísmo debilitante é muito mais facilmente controlável. E os”Tiktokers” sabem muitíssimo bem como exercer controle, enquanto pedem pix no processo.
Intelectuais raramente dizem o que estão pensando, o que realmente sabem por ser verdade. Impedir que o público progrida e se torne capaz de pensar por si próprio é o que lhes garante audiência. É a epítome da terceirização do raciocínio, e, mutatis mutandis, do lucro a qualquer preço.
A frustação política, a sensação de ter sido enganado, feito de instrumento para fins escusos que em nada representam nossos anseios pessoais é uma das afetações psicossomáticas mais excruciantes que um ser humano pode experienciar.
“O distinguo escolástico, tão difícil de praticar hoje em dia pela massa de [YouTubers] imbecis iletrados que a militância acostumou ao pensamento unilinear e às generalizações peremptórias“, como expõe Olavo de Carvalho, desapareceu em absoluto no cenário midiático “oficial” de nossa contemporaneidade. Analfabetos funcionais, fazendo com que pessoas acampem defronte a prédios militares, e enviem dinheiro para que sigam alimentando suas ilusões, por mais elevadas e nobres que sejam, não são capazes de distinguir nada além de quanto estão sendo pagos para vender mentiras.
O império da narrativa absoluta, jamais aberta à discussão dialética séria, apartidária, como expõe o Professor Olavo, não aceita o debate coerente, abusa da “pressa indecente” que Nietzsche atribuiu ao imediatismo moderno, e simplesmente vende como verdades indisputáveis nada mais do que um produto, pronto para ser avidamente consumido por uma multidão de pessoas ingênuas. Artifícios mercadológicos, produzidos pelo autor conforme as conveniências da situação do dia. Estratégia maquiavélica.
Talvez melhor resumida pelas palavras de Franz Kafka:
“Tive vergonha de mim próprio, quando percebi que a vida é uma festa de máscaras, e participei com o meu verdadeiro rosto.”
No entanto, o verdadeiro conhecimento, a paciência do verdadeiro intelectual, desprovido da vaidade e da desfaçatez comum aos “YouTubers e Tiktokers oficiais”, resiste ao teste do tempo.
É o olhar perspicaz, mas humano, daqueles que buscam compartilhar com seus semelhantes a euforia da verdadeira sapiência, a leveza do espírito suspicaz, porém benevolente, astuto como a serpente e sem malícia como as pombas, disposto não a conduzir a raça humana rumo às confusões do desconhecido, mas de “apresentar a claridade em um caminho de trevas“, como disse Benedetto Croce, para que caminhem sem a “ajuda” de nenhum usurpador do bom senso.
“Para o espírito, tudo está presente“, declarou Hugo von Hofmannsthal; “tudo” abrange muito mais do que as simplórias e errôneas pseudo análises políticas desprovidas de qualquer valor dos ditos “YouTubers e Tiktokers ungidos com a sacrossanta missão de conduzir o povo brasileiro rumo à liberdade” – ENQUANTO PEDEM PIX -; “tudo” abrange a “matriz de uma nova e mais poderosa cultura brasileira, capaz de ampliar, de uma vez para sempre, os limites do dizível, e marcar uma vitória humana sobre o caos e a escuridão“, completa Olavo de Carvalho.
Ainda vivemos no país da mídia “permitida“, dos “discursos unificados“, do “ambiente juvenil“, da “camaradagem superficial” e dos “elogios hipócritas“, que substituem e impedem uma compreensão autêntica e profunda das questões políticas e sociais por parte da sociedade civil.
Se isto irá mudar ou não, humildemente empresto aqui as considerações de José Ortega y Gasset: “Esse homem-massa previamente esvaziado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil [à manipulação] só tem apetites, crê que só tem direitos e não crê que tem obrigações; é o homem sem a nobreza.“
Por: Pablo Navarro | Em qual dos grupos você se enquadra? Esperamos que seja o dos céticos. Não sejam levados pelas mentiras oportunistas.