Liberdade de expressão é algo inquestionavelmente importante. No entanto, é a liberdade de raciocínio que deve – ou deveria – pressupor a liberdade de expressão.
Há aí algum esclarecimento sobre o conceito de liberdade de expressão. Têm-se a idéia de que ‘liberdade de expressão’ significa poder falar o que quiser, quando quiser. No entanto, será que é apenas isso? É necessário mensurar a real dimensão desta tal ‘liberdade’, e não cair no engano de pensar que possuir à disposição canais de ampla divulgação midiática – rádio, TV, Internet – para a mensagem à qual se busca transmitir, equivale a realmente ser capaz de transmitir aquilo que se deseja.
A limitação dos meios ‘físicos’ de ampla divulgação de um discurso – seja ele político, econômico ou filosófico – a ‘censura’ é apenas UMA das ferramentas – certamente a menos velada – que o aparato estatal possui para limitar o indivíduo de seu dom divino do livre arbítrio – neste caso, livre arbítrio mental, intelectual.
Aldous Huxley nos apresenta, em sua Magnum Opus “Admirável Mundo Novo” (abordado de maneira mais ampla aqui: https://sabervirtuoso.com.br/o-estado-nao-e-seu-amigo-e-a-literatura-cansou-de-avisar diversos conceitos que hoje – pode-se argumentar – saíram do puro mundo da ficção, e adentraram a esfera do real.
Como nos explica o Professor Olavo de Carvalho, “Admirável Mundo Novo” aborda temas como “o doutrinamento de crianças para a cidadania padronizada, [e] as diversões programadas como parte da disciplina civil, [que] vão recompondo, aos poucos, a imagem global de um mundo no qual a liberdade de escolha foi excluída e onde as criaturas repousam confortavelmente na submissão hipnótica à ordem estatal perfeita“.
A “ordem” Huxleyana nada mais é do que, como também aponta Olavo de Carvalho, “a mediocridade materializada em escala global”; a limitação educacional dos indivíduos à mera ferramenta mercadológica (ou o que Arthur Schopenhauer chamou de “fluência em apertar um botão“, referindo-se aos trabalhadores das fábricas do início da revolução industrial) a serviço de uma elite política – seja ela mantida pela iniciativa privada, onde aí os trabalhadores poderão exercer seu ofício mecânico com um pouco de humanidade e dignidade, ou Estatal, onde aí seguirá a ordem Orwelliana, de que “alguns animais são mais iguais que os outros“. O fato é que a macanizaçâo do homem, como argumenta Huxley, tornou-se inevitável, decorrente de um gigantesco aumento populacional.
À luz de tal percepção, qual é a necessidade de se impor censura a uma mente que, nas palavras do próprio Aldous Huxley, “ama suas correntes“? Uma mente tomada pelo conformismo e pela aceitabilidade bovina às limitações impostas – tanto consciente quanto inconscientemente – pelo Estado? Uma mente presa na 4a camada da personalidade Aristotélica, susceptível à propaganda e à manipulação política, ao consumismo e à rejeição a qualquer espécie de devoção intelectual, preferindo consumir e aceitar como padrões sociais, éticos e estéticos os mais abruptos enlatados de TV, “músicas” (stricto sensu, na falta de termo mais verossímil ao contexto supracitado) cuja programação neurolingüística conduz a uma percepção cada vez mais imediatista e crassa da existência humana, e uma casta jornalística e política que, sendo ela mesma a criadora dos problemas civilizacionais que assolam seus telespectadores e eleitores, apresenta-lhes as soluções mais mirabolantes e irrealizáveis possíveis, atuando aí não na esfera racional dos indivíduos (esta já entorpecida pela dose diária de “soma” Huxleyana), e sim aos mais primitivos reflexos emocionais e sensoriais de ainda mais embriaguez e inconsciência induzida, como picanha e cerveja.
Alia-se isso à “espiral do silêncio“, o assassinato de reputação sistêmico não apenas a personalidades políticas adversárias, mas a ridicularização – e, em alguns casos, a ocultação, no melhor estilo de Alexandria – de autores contendores da unilateralidade Marxista, e se obtém aí um “condicionamento mental” de causar inveja no próprio Ivan Pavlov. É o homem, como disse o Professor Olavo de Carvalho, “reduzido à condição servil de bichinho“, dócil à sua condição de escravidão, que já se estende por inúmeras gerações.
A primeira forma de censura é a auto-censura
Huxley, em “Regresso ao Admirável Mundo Novo” – obra esta não ficcional, e sim um dos mais impressionantes trabalhos de ciência política do século XX – já havia percebido como as massas são facilmente moldáveis por meio da mídia, que controla o “status quo” (para uma compreensão mais aprofundada, ver: https://sabervirtuoso.com.br/carnaval-e-a-impossibilidade-de-criar/) e, em grande parte, o Modus Pensanti e Vivendi de civilizações inteiras. “Não existe habeas mentem”, como disse o próprio Huxley.
Não é necessário censurar quem não percebe que está sendo vítima de monstruosa dominação mental, e não é necessário censurar quem despertou em meio a uma multidão de adormecidos, que consideram os despertos “loucos“. A polícia do pensamento Orwelliana aposentou-se há muito tempo, ou simplesmente atualizou seus métodos de “persuasão.”
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