A realidade se confunde com a ficção e, não raro, a ficção imita a realidade.
Estados modernos, controlados, frutos do processo civilizatório – isolado, vigiado e administrado, como explica o Professor Olavo de Carvalho – produzem “guerras, revoluções, morticínios, desilusões, decepções sem fim”, ainda segundo o filósofo e escritor Brasileiro.
Inúmeros são os exemplos de controle obtidos pela violência: Desde o Stalinismo (1927 – 1953), o Holocausto (1933 – 1945) e a Revolução Cultural Chinesa (1966 – 1976), o desfecho é, in exacte, o mesmo: Milhões de pessoas inocentes mortas. No entanto, quais seriam os métodos dos políticos no poder para atingirem seus objetivos de ascensão e permanência no poder, sem ter de recorrer à violência e ao massacre de inocentes, pura e simplesmente? Podemos citar os Cadernos do Cárcere, de Antônio Gramsci, publicadas no segundo pós-guerra – entre 1945 – 1950 – como a retaguarda intelectual do Movimento da “Nova Esquerda“.
Alguns autores, no entanto, produziram obras literárias cuja densidade argumentativa eleva-se quase à categoria da futurologia no que concerne à política e ao Estado Moderno.
Em “Admirável Mundo Novo“, atualíssimo romance distopico de 1932, o escritor inglês Aldous Huxley aborda temas cuja relevância em nossos dias atuais é pujante:
• O uso de tecnologia para controlar os cidadãos: Controle de natalidade, condicionamento mental e psicológico por meio da hipnopedia, entretenimento que incita ao consumismo desenfreado, e uso de soma (droga ficcional). Um estilo de vida “controlado”, para manter os cidadãos dóceis às imposições do Estado.
• Os perigos de um Estado inflado e extremamente poderoso: Controle do comportamento e ações do povo para preservar a estabilidade política do “Estado Mundial”. Nota-se aí a principal diferença entre “Admirável Mundo Novo” e o romance “1984” de George Orwell (falaremos sobre ele em outro artigo) a aplicação de diferentes técnicas de controle. Em 1984, obtém-se o controle por meio da constante vigilância, polícia política truculenta e violência; em Admirável Mundo Novo, o controle é atingido através de intervenções tecnológicas que começam antes do nascimento e duram até a morte, moldando o statum mentis do sujeito.
• Proibição da individualidade: A incompatibilidade entre felicidade, estabilidade social e individualidade, o “Processo de Bokanovsky” – a maioria dos habitantes do “Estado Mundial” são duplicatas biológicas uns dos outros (o que limita o direito à individualidade apenas aos Governantes) – e os “Serviços Solidários” – que encorajam os habitantes a pensarem sobre si mesmos como parte de uma coletividade, ao invés de indivíduos.
Qualquer similaridade entre os acontecimentos narrados em um livro, e os acontecimentos do mundo real, nem sempre é “mera coincidência.”
A “Espiral do Silêncio”, teoria de ciência política e comunicação de massa proposta em 1977 pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann, expõe um exemplo irrefutável de que a “ficção” de Admirável Mundo Novo adentrou o campo da realidade. Em “Retorno Admirável Mundo Novo“, sequência de “Admirável Mundo Novo”, Huxley denuncia a aplicação de temas apresentados em sua obra anterior na realidade. No entanto, por mais que “Admirável Mundo Novo” tenha atingido o status de Best-Seller aclamado, “Retorno ao Admirável Mundo Novo” foi um total fracasso comercial. As pessoas muitas vezes não acreditam que o ser humano seja capaz de tamanhas monstruosidades. Como diria o Professor Olavo de Carvalho, “as pessoas têm medo de sentir medo.”