O escritor Inglês Eric Arthur Blair – mais conhecido pelo pseudônimo George Orwell – veterano de guerra e comunista convertido em pessoa normal, denunciou veementemente, após ver a realidade dos morticínios gerados pelo totalitarismo, as teorias que anteriormente defendera.
Autor de inúmeros best-sellers, entre eles “O Leão e o Unicórnio” e “A Revolução dos Bichos”, sua obra mais notória é 1984.
Publicado pela primeira vez em 1949, o título da obra é um alerta de que as teorias ficcionais nele contidas, poderiam vir a se tornar realidade dentro de poucas décadas. O quê, fatídica e fatalmente, aconteceu.
Os temas são tão atuais quanto os abordados em “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley – tema de meu artigo anterior – obra que inspirou enormemente o trabalho literário de Orwell.
• Os perigos do totalitarismo: Após presenciar pessoalmente os horrores dos governos de Josef Stalin (Rússia) e Francisco Franco (Espanha), Orwell decide publicar 1984 para alertar a Inglaterra e os EUA sobre os perigos do avanço do Comunismo. Nota-se que, enquanto trabalhava em 1984, Orwell encontrava-se perplexo com a conivência e apoio de intelectuais americanos ao comunismo, com a diplomacia entre nações democráticas e totalitárias, e perturbado com os métodos cada vez mais truculentos e violentos utilizados em países Comunistas.
• Manipulação psicológica: Estímulos mentais constantes para forçar o pensamento coletivo e inibir o pensamento individual. Monitoramento do comportamento e até do pensamento dos cidadãos pela Thought Police (Polícia do Pensamento) contra o cometimento de “crimidéia” – interessante notar que uma ínfima mudança facial que expresse infelicidade é motivo para ser preso, transformando o sistema nervoso central do individuo em seu pior inimigo – onipresença de sinais com a mensagem “BIG BROTHER IS WATCHING YOU” (o grande irmão está te observando), a criação dos Junior Spies (Espiões Júnior) – crianças induzidas pelo Estado, após processo de lavagem cerebral, a espiar a lealdade de seus pais para com o Partido, sexo com fins exclusivamente reprodutivos, direcionamento do ódio popular aos inimigos do Partido por meio de doutrinação, e criação de inimigos fictícios.
• Controle Físico: O Partido utiliza, além de métodos de controle psicológico e mental, estratégias de dominação física sobre a população, com ordens para a realização das “Physical Jerks” (Exercícios físicos extremos) aparecendo nas “teletelas“, mantendo a população, também forçada a trabalhar em regime de escravidão, em constante estado de exaustão. Quem desrespeita as ordens é enviado a campos de “reeducação“, e condenado à tortura brutal. Após duas semanas de tortura, o protagonista do romance, Winston, está convencido de que nada é mais poderoso do que a dor física, sendo até mesmo capaz de convencer um indivíduo de que 2+2=5.
• Controle da Informação e da História: O Partido controla todas as fontes de informação, censurando e reescrevendo o conteúdo de todos os jornais para seus próprios fins. O Partido não permite que os cidadãos sequer tenham diários ou qualquer outro meio de catalogação de acontecimentos passados, como fotografias ou documentos. Ao controlar o presente e o passado, o Partido obtém domínio sobre o futuro. Interessante notar que, em alguns países, o controle estatal sobre a informação já é realidade. A Rússia é um exemplo. Os Fact Checkers também podem ser considerados uma versão mais branda de controle informacional.
• Linguagem como forma de controle: Um dos conceitos mais importantes do livro é a linguagem como forma de estratificação social, visto que a linguagem é a ferramenta mais importante dos seres humanos, sendo responsável pela estruturação das ideias que os indivíduos são capazes de formular e expressar. Estratificação social e mental, visto que o não desenvolvimento do potencial linguístico implica em esgotamento da inteligência em seu círculo cotidiano imediato. Empresta-se aqui o conceito de Aldous Huxley: “A prisão perfeita é aquela sem muros, na qual os prisioneiros sequer sonharão jamais com a fuga”. Newspeak (Em Português: Novilíngua) é o nome do idioma “político”. Pode-se comparar às inúmeras tentativas do Estado de impor uma nova realidade linguística à população, como gênero neutro, considerar alguém que, por osmose aprendeu a escrever o próprio nome como uma pessoa alfabetizada, etc. É tirar maquiavélica e BRUTALMENTE do indivíduo qualquer chance de adquirir um ferramental mental capaz de lhe proporcionar o desenvolvimento intelectual.
Nota-se as diferentes “metodologias” de ensino nas escolas públicas brasileiras, em contraponto à “Educação Liberal Conservadora” proposta pelo Filósofo Norte-americano Russell Kirk. Tema para artigos vindouros.
O Sociólogo Francês Émile Durkheim argumenta que todas as sociedades humanas necessitam do que ele chamou de coesão – condições para realização das necessidades pessoais, como meios de elevação econômica, segurança, matrimônio, sexualidade e manifestação religiosa – e que o rompimento de tais elementos de estabilidade acarreta em um estado de anomia, onde não há harmonia entre os poderes – no caso do Brasil, o poder tripartite, idealizado por Aristóteles, John Locke e Montesquieu – ativismo judicial – como o aprisionamento de cidadãos honestos e a libertação de bandidos em nome de alguma causa “social” ou “humanitária” – a total ignorância de conceitos basilares da sociedade como Direito Natural e Direito Positivo (falaremos mais sobre o tema em outro artigo), e completa institucionalização do caos por meio de um Estado policialesco e truculento. Em seu livro, O Suicídio, Durkheim apresenta dados irrefutáveis de que países em estado de anomia têm altas taxas de suicídio entre a população. O ser humano enlouquece quando tudo o que é considerado como pilar jurídico e moral se desfaz, e quando o crime torna-se a lei. Nas palavras de Friedrich Hayek: “é bem possível que Hitler tenha adquirido poderes ilimitados de forma rigorosamente constitucional e que todas as suas ações sejam, portanto, ‘legais’, no sentido jurídico. Mas quem concluiria, por essa razão, que o estado de Direito ainda prevalece na Alemanha?”
Toda ordem superior à qual a sociedade não tem meios para acatar, simplesmente não pode ser preconizada, e caso seja, para que se faça cumprir, quem a ordena é forçado a ver sua autoridade transfigurada em autoritarismo, o que, em uma democracia, acarreta em desidratação político-eleitoral e ojeriza popular. Foi o que pudemos presenciar acontecendo com políticos ao redor do mundo durante a pandemia da Covid-19. Sabe-se que, todas as tentivas de revoluções armadas falharam, mas não sem antes deixar um rastro de sangue. E as revoluções culturais certamente não são menos violentas, mesmo que à primeira vista aparentem.
Foi o que disse o Professor Olavo de Carvalho: “Nenhum problema dura para sempre, mas alguns duram mais do que as nossas vidas.”
Acredito que, stricto sensu, a lógica da Esquerda para ascender e se manter no poder seja melhor resumida pela icônica frase dita por Lúcifer, já transmutado em Satanás (falaremos mais sobre a análise teológico-filosófica da ‘diferença’ entre Lúcifer e Satanás em outro artigo) no poema épico clássico da Literatura Britânica do século XVII, Paraíso Perdido:
“Better to reign in hell than serve in Heaven“. – A tradução seria “Melhor reinar no inferno do que servir no Paraíso”.
Síntese perfeita, e igualmente assustadora… QUE TEMPOS ESTAMOS VIVENDO!!!