Desde a fundação de Portugal, o sagrado é o selo que marca o mundo lusófono. Fé e religiosidade são mais que cenário de diversas batalhas, tragédias e vitórias protagonizadas pelos reis e povos que honraram suas bandeiras. Com o tempo, historiadores passaram a desconsiderar o fato fundador – que el-rey Dom Afonso Henriques venceu a batalha de São Mamede depois de uma visão de Jesus Cristo Crucificado, e este lhe prometeu a vitória e a independência de Portugal – e passaram a valorizar aspectos temporais e materiais.
Essa atitude típica da escola marxista de desacreditar a fé como condutora da História reduz as evoluções e retrocessos da humanidade a mera luta de classes, com oprimidos e opressores. Entretanto, mesmo o ser mais materialista sabe que as pessoas têm um lado espiritual que é parte da sua vida material. Por outro lado, entender que a vida material é também uma manifestação do lado espiritual é sabedoria para poucos.
O Brasil foi consagrado por seis vezes ao longo da sua História. A primeira em 25 de março 1646, cinco anos após Portugal recuperar a coroa para a dinastia de Bragança, tomada pelos reis espanhóis, um dos maiores pesadelos para o povo português em todos os tempos, Por orientação de seu confessor, conselheiro espiritual e político Padre Antônio Vieira, Dom João IV, o Restaurador e devoto católico, consagra Portugal e todos os seus territórios. Faz voto de, a partir dele, nenhum outro rei português usar a coroa que não seja Nossa Senhora da Conceição.
Em 1654, na Bahia, o governador-geral, manda fundir uma placa em bronze que ainda registra a primeira consagração do solo brasileiro, como parte de Portugal, Foi um ato religioso e político, pois certamente a Espanha pensaria duas vezes antes de reivindicar a coroa e as terras que estivessem sob o domínio de Nossa Senhora.
Foi um voto tão importante que nem a Independência o revogaria. Dom Pedro I, ao contrário, só o confirmou, consagrando pela segunda vez o país a Nossa Senhora Conceição Aparecida. Em sua jornada para a proclamação da Independência, Dom Pedro, príncipe regente, no dia 22 de agosto de 1822, prostrou-se aos pés da imagem de Aparecida para pedir sua proteção diante da difícil decisão de se separar de Portugal. Três dias depois, D. Pedro rezou no santuário de Nossa Senhora da Penha, zona leste de São Paulo, para pedir o mesmo discernimento. Hoje, Nossa Senhora da Penha é a padroeira da cidade, e Nossa Senhora Aparecida, Imperatriz Perpétua do Brasil. Com ela ficou a coroa da Princesa Isabel, após a Proclamação da República.
A mais devota dos Braganças foi Dona Isabel, a Redentora, responsável pela terceira consagração do Brasil, ao Sagrado Coração de Jesus. Em visita ao santuário de Nossa Senhora Aparecida, em 1868, ela fez uma promessa a Nossa Senhora Aparecida para alcançar a graça de ser mãe. Teve três filhos homens, um deles, D. Luíz Maria, foi meu bisavô. Para honrar a promessa, ofereceu à santa um manto e uma bela coroa feita de ouro, com rubis e diamantes.
Em 24 de outubro de 2022. No final de seu mandato, o presidente Bolsonaro, na Capela do Palácio do Alvorada, voltou a realizar o Ato de Consagração do Brasil a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. No texto, o Presidente pediu, como chefe da nação, que Nossa Senhora fosse a governante do Brasil, pedido semelhante ao da Princesa Isabel. Foi uma quarta consagração.
Recentemente, em 13 de maio de 2023, o Chefe da Casa Imperial do Brasil, D. Bertrand de Orleans e Bragança, reconsagrou o Brasil ao Sacratíssimo Coração de Jesus, confirmando o ato de sua bisavó, dona Isabel, e de D. Maria I, mãe de D. João VI, que foi a primeira a consagrar Portugal e seus territórios ao Sagrado Coração de Jesus, erguendo a Basílica da Estrela, em Lisboa. O evento no Brasil ocorreu aos pés do Cristo Redentor. Mais que uma homenagem, foi um ato de repúdio às ameaças de laicização que pairam sobre a nossa pátria. Pode-se considerar que foram duas consagrações.
O Brasil é um país abençoado e consagrado às forças espirituais mais poderosas e virtuosas, protetoras da humanidade. Elas nos protegem, nos momentos mais difíceis da nossa História, e nos fazem seguir com dignidade e confiança. Feliz Natal a todos!
Um dos lugares de poder que estive foi o castelo de Guimarães, onde Portugal nasceu.