Já conversou com uma pessoa que compara situações desproporcionais de forma categórica? Provavelmente sim, ainda que você não tenha percebido. Não se trata de algo tão simples de constatar, pois que há uma lógica por trás da argumentação e que poderá criar algum sentido de nexo e causa, caso a pessoa tenha uma boa retórica.
Visando driblar o argumento reducionista e fazer que a verdade seja sobreposta decidi apontar como combatê-lo neste breve ensaio.
Alguns exemplos:
- Todas as pessoas que têm armas são bandidas. (Aqui a redução é feita no denominador comum: “ter uma arma”, não importante para que e como essa arma foi adquirida);
- Matar alguém em legítima defesa torna a pessoa em assassina, tal qual um assassino. (Aqui a redução é feita no fato de alguém ter sido morto, e não no que levou a tal ação).
Veja, não são situações simples as que eu trago, e a intenção é justamente essa para que você, leitor, saiba que muito da argumentação reducionista vem impregnada de falso moralismo.
A situações comparadas podem compartilhar de alguns fatos objetivos, mas não quer dizer que sejam iguais em sua essência e motivação. Para perceber uma incoerência absurda acerca do reducionismo argumentativo faça o seguinte exercício: Hitler respirava, qualquer outra pessoa do mundo também respira. Logo, todos podem ser considerados nazistas, desde que analisados pelo denominador comum, “respiração”. Ou, outra forma de demonstrar isso, é dizer que todo alemão é nazista, pois que o nazismo foi implantado na Alemanha. Observe o quão absurdo é esse tipo de argumentação.
São essas absurdidades que fazem parte da argumentação reducionista. Pega-se algo em comum nas situações que não tem o mesmo fundamento, apesar de similares na ótica acrítica, e as atribui o mesmo julgamento. Poder-se-á dizer até que é uma forma de “relativismo reverso”. Não se pesam as situações pelo que realmente são, mas pela mera aparência objetiva que possuem.
Assassinato = Morte
Autodefesa = Morte
Ambos são assassinos na visão de um reducionista. Importante notar que, não há um relativismo puro, há uma grande falta de senso de proporção. É exatamente esta falta de senso de proporção que tem de ser combatida.
Como combater?
A melhor maneira de derrubar um argumento reducionista é apresentando a discrepância entre as situações e apontar ao reducionista que ele próprio pode ser enquadrado nas mais diversas situações, pela possibilidade de atribuir-lhe alguma característica objetiva de uma situação negativa.
Muito provavelmente o reducionista tem alguma característica que possa ser equiparada a uma situação extremamente negativa, que ele não tenha a menor intenção de compactuar, e que até repudia. Entretanto, utilizar-se do próprio argumento para enquadrar um reducionista é muito mais fácil do que parece.
Quando um reducionista diz que tudo que está na lei deve ser cumprido, porque a lei é absoluta, então você lhe faz o seguinte apontamento: “Você, senhor reducionista, é a favor do racismo, do nazismo, da segregação racial, pois que basta uma lei para que isso volte a ser válido”.
É sempre importante demonstrar ao reducionista o quanto ele deixa de ponderar as situações. Ora, uma pessoa que em autodefesa mata alguém que queria matá-lo, não é um assassino e nem poderia ser! É, nada mais nada menos, do que um sobrevivente e até um herói.
Não vivemos em um mundo de simples categorias, no qual algo é ou não é pela simples aparência. Pertencemos a um mundo onde o nível se faz muito mais presente, onde uma situação pode aparentar ser algo, mas que em sua essência o nivelamento dela não é o mesmo de uma outra que seja idêntica de forma objetiva. O que importa é saber analisar de forma cética, crítica e não relativista.
Como ensina Aristóteles por meio de sua mediania, a virtude encontra-se sempre pendendo para o lado bom. Desta forma, pode-se fazer leis boas e leis ruins, mas nada impede o virtuoso de negar-se a cumprir aquilo que a lei ruim determina.