O Professor Olavo de Carvalho disse que a aquisição de uma sólida cultura literária é imprescindível para a realização de análises políticas coerentes e eficazes. E, para variar, o Professor mais uma vez tinha plena razão.
O poema épico “Paraíso Perdido” de John Milton (9 de dezembro de 1608, Bread Street, Londres, Reino Unido – 8 de novembro de 1674, Bunhill Row, Londres, Reino Unido) originalmente publicado em 1667 – quase dois séculos antes da primeira publicação de “O Capital” de Karl Marx – aborda com singularidade a mentalidade revolucionária esquerdista. Afinal de contas, como disse Otto Maria Carpeaux, foi “o anjo das trevas, o primeiro e o modelo de todos os rebelados“. Considerado pelo escritor e crítico literário austríaco supracitado como “o mais sublime poema da literatura universal“, vejamos alguns temas abordados neste clássico imperdível:
• A Importância da Obediência à Deus: Milton narra, em Paraíso Perdido, a história da desobediência de Adão e Eva ao comer do fruto proibido no Jardim do Éden, bem como a rebelião de Satanás e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Arcanjo Rafael alerta Adão sobre a ameaça que a desobediência e queda de Satanás representa à humanidade. Essencialmente, existem duas alternativas apresentadas no poema para a desobediência: a espiral de pecado e degradação, representada por Satanás, e a devoção ao arrependimento, representada por Adão e Eva.
Se Adão e Eva foram os primeiros seres humanos a desobedecer a Deus, Lúcifer foi a primeira criatura Divina a sucumbir à desobediência, não foi influenciado ou convencido por meio de artifícios retóricos, sendo ele próprio “o mal“, sui generis.
• A Natureza Hierárquica do Universo: O layout do Universo – com o Paraíso acima, o Inferno abaixo, e a Terra no meio – apresenta o universo como uma hierarquia baseada na proximidade a Deus e Sua Graça. Essa hierarquia espacial leva a uma hierarquia social de anjos, humanos, animais e demônios: o Filho está mais próximo de Deus, com os arcanjos e querubins atrás dele. Adão e Eva e os animais da Terra vêm em seguida, com Satanás e os outros anjos caídos seguindo por último. Obedecer a Deus é respeitar essa hierarquia.
Satanás se recusa a honrar o Filho como seu superior, questionando assim a hierarquia de Deus. Enquanto os anjos do acampamento de Satanás se rebelam, eles esperam derrotar Deus e, assim, dissolver o que acreditam ser uma hierarquia injusta no céu. Quando o Filho e os anjos bons derrotam os anjos rebeldes, os rebeldes são punidos sendo banidos para longe do céu. Pelo menos, Satanás argumenta mais tarde, eles podem fazer sua própria hierarquia no Inferno, mas, no entanto, estão sujeitos à hierarquia geral de Deus, na qual são classificados como os mais baixos. Satanás continua a desobedecer a Deus e à sua hierarquia enquanto procura corromper a humanidade. “Better to reign in hell than serve in Heaven.” Melhor reinar no inferno do que servir no Paraíso.
Otto Maria Carpeaux diz que Paraíso Perdido, no “fundo das suas violentas polêmicas”, pode ser lido como uma “luta perpétua pela liberdade da consciência individual e contra qualquer poder que ouse sobrepor-se à consciência livre do homem.” Mais ainda contra o próprio Estado, notório tirano e usurpador de tais liberdades.
Roger Scruton diz que “há dois tipos de conservadorismo: um, metafísico, e outro, empírico. O primeiro consiste na crença nas coisas sagradas e no desejo de defendê-las da profanação. Herdamos
coletivamente coisas admiráveis que devemos nos empenhar para
preservar.”
Na exata antítese do Conservadorismo, temos o pensamento de Antônio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano: “O socialismo é precisamente a religião que deve esmagar o cristianismo. Na nova ordem, o socialismo irá triunfar pela captura da cultura através da infiltração em escolas, universidades, igrejas e na mídia, transformando a consciência da sociedade.” “O mundo civilizado tem sido saturado com cristianismo por 2000 anos, e um regime fundado em crenças e valores judaico-cristãos não pode ser derrubado até que as raízes sejam cortadas.”
O Professor Olavo de Carvalho resume, com maestria, a importância das tradições religiosas: “Não existe no universo um só Estado ou nação que não tenha surgido desde dentro das religiões, como capítulo fugaz da história dos seus antagonismos internos e externos. O elemento durável e decisivo na História são as religiões: o Estado, a nação e, no fim das contas, tudo o que hoje se denomina “política” são apenas a espuma na superfície.”
Comparando o teor argumentativo de Scruton e Gramsci, notável é a diferença: Respeito pelas tradições e a índole de preservá-las contra o espírito incendiário da Esquerda, que a tudo busca corromper e destruir.
Franz Kafka estava certo: “Existem dois pecados capitais, dos quais todos os outros derivam: impaciência e indolência. Por causa da impaciência os homens foram expulsos do paraíso, por causa da indolência eles não voltam”.
Por: Pablo Navarro
Excelente texto, que pode ser ainda mais apurado, porém soberbamente contextualizado, parabéns.
Texto excelente! Bastante próprio para os dias de hoje.