A linguagem humana desenvolveu-se e aprimorou-se sempre dando melhorias em definições que se faziam necessárias e presentes na vida humana. Há uma necessidade inata do ser humano em conseguir se expressar, e a melhor forma encontrada até o momento foi a fala. Tenho que a fala pode ser considerada tão ou mais importante que o fogo, pois que a partir dela que foi possível a transmissão de informações de maneira muito mais rápida, concisa e específica.
A definição de termos com a melhor precisão possível é o que torna uma língua mais evoluída do que outras. Quanto maior o número de palavras únicas para situações únicas, melhor será a comunicação. Entretanto, haverá de ser notado que não é a criação deliberada de palavras, mas, sim, de palavras úteis que possuam a capacidade de representar a realidade da maneira mais assertiva possível.
Contudo, este não é o ponto central do presente artigo, a introdução se faz necessária para dar entendimento ao argumento que apresentarei a seguir, que toma por base a aplicação de palavras fora de seu sentido original, seja na intenção premeditada de alargar seu significado, seja na intenção de empregar qualidades existentes a situações, pessoas ou objetos que não as detém, ou até para impor qualidades avessas àquilo que se quer nominar.
A estas três características podemos atribuir a denominação de: nominalismo. O nominalismo é uma forma de desvirtuar algo, alterar sua qualidade ou, até mesmo, a palavra que é empregada. Alguns exemplos: países ditatoriais que possuem a palavra democracia em seu nome, chamar os participantes de programas como o BBB de heróis, nomear seus opositores de fascistas, nazistas e neoliberais. Estes são apenas alguns exemplos que, talvez, não fiquem claros à primeira vista, mas que com o decorrer da argumentação terão sentido.
As denominações foram evoluindo ao decorrer do tempo, tornando-se mais e mais específicas, a ponto de ser possível definir a qualidade de algo no tempo e no espaço.
Ao se dizer a palavra cão, logo pensa-se em um animal com as devidas qualidades: quatro patas, corpo coberto por pelos, um rabo, bom olfato, mamífero, que vocaliza latidos, entre algumas outras características. É possível ser ainda mais específico e dizer lobo, ao qual além das características normais de um cão, possui algumas outras específicas: selvagem, que vive no frio em matilhas.
Com a palavra herói temos também uma atribuição comum: alguém que essencialmente salva outras pessoas ou faz grandes sacrifícios por seus semelhantes, e nos quadrinhos, possui superpoderes, entre outras atribuições físicas por padrão. Portanto, podemos dizer: pai herói, mãe heroína, pessoas que de certa forma fazem algum tipo de sacrifício próprio em prol de outros. Mas, então, como dizer que alguém do BBB é herói? – A resposta para mim é óbvia, nominalismo.
Vamos nos aprofundar um pouco mais e tocar em um assunto sensível: democracia. Se a democracia, dizem, ser o governo da maioria, então até hoje não houve um único lugar na Terra em que a democracia se fez presente. Pois que nunca houve em nenhum lugar uma votação com a participação da totalidade das pessoas possivelmente interessadas. Aponto, aqui, a evolução da abrangência da capacidade e oportunidade de exercer o voto durante a história, e não é possível encontrar registro de um lugar onde todos os que seriam afetados pela escolha do governante tiveram a oportunidade de votar. Sempre houve uma forma ou outra de impedimento, seja por idade, por condição financeira, por posses, por status social, mas nunca um lugar que a totalidade dos habitantes tiveram a oportunidade de votar. Na Grécia antiga só votavam aqueles que possuíssem o status de cidadão, depois com o passar dos anos até o presente, sempre houve um requisito mínimo para o voto, que hoje, temos como comum com boa parte do mundo, a idade mínima para o voto, tanto é que até pouco tempo atrás as mulheres não tinham direito a voto. Então, podemos deduzir que: democracia é o governo da maioria que tem capacidade e oportunidade de voto em determinado momento e lugar. Sendo assim um dos requisitos principais da democracia, que é o poder de votar, não é dado a todos. Se, então, a democracia é algo que não abrange a todos, porque utilizam o termo “democratização” para sinalizar alguma política de intervenção no meio social? Simples: nominalismo. A concepção errada do termo juntamente com a roupagem do erro, tendem a transmitir outra sensação, mas que não é a realidade.
Aprofundando mais um pouco. E quanto ao termo fraternidade? Se há uma lei, ou uma forma de coação estatal para que as pessoas sejam solidárias, é por óbvio que não se trata de fraternidade, mas de espoliação estatal sob o mando de outra denominação para, apenas, dar uma característica sentimental a algo que é, por si só, o avesso do nome que recebeu.
Acredito que tenha ficado mais nítida a intenção do nominalismo, pois que trata-se da mudança da definição correta de algo para lhe dar outras características, alterar o significado das palavras ou para alargar este significado.
A alteração do nome de algo não altera a coisa em si, apenas o nome. Entretanto, o nominalismo é utilizado para camuflar intenções e resultados negativos.
Apontei no início do artigo o termo neoliberalismo como sendo uma dessas situações e agora, passo a explicar de forma suscinta. A diferença entre liberalismo e neoliberalismo é a conotação da palavra. Na prática não há diferença entre os dois, e é por isso que não existe neoliberalismo. Podemos dizer “liberalismo clássico”, pois que fora do Brasil o termo liberal acabou por ser roubado pela esquerda, então dizer liberal na América do Norte e na Europa, é o mesmo que dizer esquerda aqui no Brasil. O termo neoliberalismo vem impregnado das ideias erradas que as pessoas têm sobre o liberalismo. Capitalismo selvagem, luta de classe, exploração pelo empregador, empresário malvadão, soma zero, todas essas besteiras e várias outras falácias fazem parte do que atribuem ao neoliberalismo. Aqueles que atribuem a um sujeito o ideal neoliberal não está no intuito de mentir, mas está atribuindo uma conotação negativa a ideologia liberal.
O nominalismo é nada mais nada menos do que uma forma de desconfiguração da realidade, é uma destruição do sentido que a linguagem traz ao mundo. É a arma do lobo que se veste de cordeiro.