De vários problemas econômicos e sociais que Karl Marx deu causa, pode-se dizer que o mais persistente de todos talvez seja a utilização do Estado como meio de intervenção e controle das vontades humanas.
A ideia de Marx da utopia comunista como ele mesmo diz que o socialismo é um degrau anterior ao comunismo. Marx via o socialismo como uma fase de transição, onde o Estado controlaria a propriedade privada para educar as massas rumo à utopia comunista. Essa fase seria marcada pela intervenção estatal para moldar as vontades humanas, até que a propriedade privada desaparecesse. O socialismo por meio da força e da coerção demonstraria para as pessoas esse caminho a ser seguido, a ser trabalhado, consistindo no controle da propriedade privada pelo Estado ou até a abolição da propriedade privada existindo apenas a propriedade pública. Passado algum tempo – o qual nenhuma marxista sabe dizer – as pessoas estariam aptas ao comunismo.
Entretanto, qual o motivo de toda essa introdução? Demonstrar de onde surgiu a ideia de John Maynard Keynes em utilizar o Estado para criar uma utopia.
Essa crença na intervenção estatal como ferramenta de transformação social não parou em Marx; foi retomada por John Maynard Keynes, que também via o capitalismo como um sistema inerentemente falho, necessitando de correções pelo Estado para funcionar adequadamente. Keynes, considerado o pai do Keynesianismo, afirmava que o motor da economia era o consumo e, portanto, este deveria ser incentivado para promover o crescimento econômico, mesmo que de forma induzida ou forçada. Ou seja, Keynes rejeitava a autorregulação do livre mercado, acreditando que a demanda precisaria ser estimulada artificialmente pelo Estado. No entanto, essa visão negligencia o papel da poupança e da produção, pilares da criação de valor econômico.
Tanto Marx quanto Keynes acreditam ter encontrado a solução para todos os problemas econômicos existentes. Marx decidiu abolir a propriedade privada e assim fazer aflorar o que há de melhor em todo ser humano, para atingir esse objetivo permitiu-se até a fazer utilização do Estado como força coatora e “educadora” das vontades humanas. Keynes, decidiu também utilizar o Estado para “arrumar” a economia, pois não acreditava no livre mercado e no capitalismo, para eles o livre mercado jamais se autorregularia. Em resumo, tanto Marx quanto Keynes confiaram ao Estado o papel de corrigir a economia e a natureza humana, centralizando o poder e ignorando a capacidade dos indivíduos de agirem livremente para alcançar seus próprios objetivos.
Aversão a liberdade individual e a natureza humana
Ambos os autores demonstram uma aversão clara à liberdade individual e à natureza humana, evidenciada pela tendência de controle estatal em suas teorias.
Keynes dizia que o livre mercado não era capaz de autorregulação e que, por isso, sempre haveria crises econômicas e desigualdades sociais seguindo quase que a risca as mesmas ponderações de Marx, dentro de suas nuances. Interessante pontuar que enquanto Marx acreditava que era importante um controle de mercado para evitar a superprodução, Keynes era a favor do impulsionamento da produção. Keynes dizia que o livre mercado não era capaz de autorregulação, levando a crises econômicas e desigualdades sociais. Embora Marx defendesse o controle para evitar a superprodução, Keynes focava em impulsionar a demanda. Ainda assim, ambos confiavam no controle estatal como solução.
Creditavam ao capitalismo a concentração de riqueza
Tanto Marx quanto Keynes acreditavam que o capitalismo levava inevitavelmente à concentração de riqueza nas mãos de poucos, enquanto a maioria ficava à mercê da pobreza. No entanto, assim como outros críticos do capitalismo, a maior preocupação desses dois pensadores não era com a pobreza em si, mas com a existência de indivíduos ricos. Suas críticas focavam na concentração de riqueza e na forma como ela supostamente gera pobreza, mas nunca apontaram soluções para a criação de mais riqueza ou aumento da produtividade como meio de combater a pobreza. Em vez disso, as soluções apresentadas envolviam o controle estatal da economia e a redistribuição de riqueza, ignorando o fato de que essa abordagem pode sufocar a inovação e desincentivar o investimento.
Malgrado Keynes acreditasse na força motriz da produção, o que pode adicionar um contrassenso a questão de não querer eliminar a pobreza, a ideia por trás não era acabar com a pobreza, mas tentar corrigir um problema econômico que ele acreditava existir. Keynes acreditava que com mais produção haveria mais demanda e logo o dinheiro circularia mais e mais rápido entre os indivíduos. Porém, na prática essa não é a realidade. A natureza humana, apesar de possuir alguns pontos de previsão, não é, em regra, de previsão absoluta, ou seja, não se sabe como um indivíduo irá agir em determinada ocasião, sempre haverá espaço para o imprevisto quando se trata da ação humana. Sabemos que o ser humano age, podemos até identificar os motivos e apontar possíveis desfechos, mas quase nunca temos a capacidade de dizer com precisão como cada indivíduo irá agir em todos os momentos de sua vida. Dessa forma, a crença em que o indivíduo seria um consumidor compulsivo pode apenas se atrelada a um ou alguns indivíduos, mas jamais a sua totalidade. Podemos identificar comportamento de massas, mas quando os indivíduos são separados dessas massas, seu comportamento pode ser alterado substancialmente. Portanto, nada garante que a produção forçada de Keynes tenha a absorção desejada, e em não sendo absorvida essa produção diversos problemas econômicos surgem, principalmente crises e desempregos.
Visão negativa quanto ao capitalismo
Obvio que a visão de Marx e Keynes quanto ao capitalismo não era a mesma, mas possuem diversas conexões. Enquanto Marx era avesso a existência do mercado, Keynes acreditava que o mercado deveria existir, mas dentro de parâmetros por ele definidos, dentro de um controle rígido.
Marx afirmava que o capitalismo era o causador de diversos problemas relacionados a natureza humana e que isso é o fator da criação da guerra de classes. Já Keynes, ao invés de falar de guerra de classes aborda o tema por meio da desigualdade social. É possível afirmar que ambos dão nomes diferentes para a mesma coisa, inclusive apontando problemas semelhantes decorrentes da guerra de classes ou desigualdade social.
Karl Keynes ou John Marx?
Ainda que Keynes não seja considerado um marxista, e talvez não existam provas de que ele tenha aderido abertamente às premissas marxistas, é inegável que as diretrizes do Keynesianismo possuem fortes raízes marxistas: controle estatal, repúdio à liberdade individual, desprezo pelo capitalismo e uma tendência a defender a guerra de classes.
Fontes:
Keynes: o liberalismo econômico como mito | Economia e Sociedade
Perspectives on capitalism by school of thought – Wikipedia