A própria origem do Carnaval remonta às eras medievais romanas, onde a “festa da carne” representava o “mundo de cabeça para baixo”, ou seja, uma inversão de 180° à ordem civilizacional natural, que, por alguns dias dava origem a uma ode aos “excessos”, consensualmente considerados normalmente perniciosos.
No entanto, é válido lembrar que, o Carnaval “original” – até mesmo no Brasil, como culturalmente herdado pelos portugueses – era uma festa até certo ponto culturalmente rica, moralmente aceitável e socialmente saudável. Desde as marchinhas aos bailes de máscaras, esteticamente agradáveis. O Carnaval já foi um dia uma festa “familiar”, sem a necessidade de “matinês” específicas para crianças.
O que há de “artístico”, “elevado” ou “saudável” no Carnaval?
Hoje em dia, nada. O Carnaval de hoje é a exata frase proferida por Teodoro Adorno: “A arte está morta.”
O que presenciamos no Carnaval – sem adentrar em questões teológicas – é a pura demonstração de um hedonismo ensandecido e absolutista, que já não leva em conta sequer a mais ínfima percepção ou sensibilidade estética, supostamente inerentes à condição humana, e busca apenas satisfazer instintos cada vez mais animalescos, e cada vez menos exigentes a qualquer padrão humanístico.
Frithjof Schuon argumenta, belamente, que “toda arte reflete um estado interno, espiritual“; e que “o abandono de uma linguagem artística é reflexo da incompreensão e da falta de espiritualidade. Se os homens se tornaram ‘outros’, é de uma maneira ilegítima e em função de fatores negativos.”
Desde os primórdios da humanidade, as pessoas se reuniram para raciocinar sobre os discursos de Aristóteles, para meditar sobre os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, para aplaudir as sinfonias de Mozart ou os concertos de Haydn, para se emocionarem com as peças de Shakespeare, ou contemplarem a magnanimidade das esculturas de Michelangelo.
O que resta hoje?
O culto ao grotesco, ou, como disse Dante Allighieri, a “mata escura na qual caminho reto está perdido”. “Músicas” pérfidas, que, se analisadas sob a óptica Schuoniana, podem apenas demonstrar um estado interno de insanidade, de incerteza para com o futuro, que tem pressa para satisfazer todos os arquétipos Freudianos em três noites de embriaguez, fornicação e entorpecimento. No entanto, tratar-se de um fenômeno relativamente “moderno”. O que nos leva a outra questão:
O Raio-X Social do Carnaval
O consumo de drogas nada mais é, sui generis, do que uma fuga de um estado desconfortável ao usuário, como disse Sigmund Freud, um “sonhar acordado“. Busca-se o sonho pois a realidade é, em si mesma, rejeitada, ou, nas palavras do excelente Viktor Frankl, “quando uma pessoa não consegue encontrar um senso de sentido, buscará distrair-se com prazeres“. Enganar a própria consciência.
“Toda filosofia é uma intervenção de longo prazo e larga escala no mundo dos acontecimentos humanos. Enquanto os decretos dos governantes passam e se desfazem em pó no esquecimento, as filosofias permanecem ativas e influentes decorridos séculos ou milênios do falecimento de seus criadores, afetando ou modelando o curso das discussões científicas, morais, políticas e religiosas“, diz o Professor Olavo de Carvalho. Tal assertiva é irrefutável e irretorquível: Vivemos hoje em uma sociedade cientificamente avançada, onde os meios de comunicação, transporte, e a medicina – para citar apenas três exemplos – avançaram formidavelmente, em detrimento de um absurdo decréscimo educacional e cultural das massas.
Josiah Royce distinguia, com razão, entre o “espírito” de uma filosofia e a sua “realização técnica”, cita o Professor Olavo de Carvalho. “No início do século XX, o otimismo de que os progressos técnico e moral andavam de mãos dadas, se disseminara. O escritor russo V.G. Korolenko, do final do século XX, expressou esse sentimento“, pontua Theodore Dalrymple.
René Guénon, em contrapartida, percebeu que “as massas sempre foram conduzidas, de uma maneira ou de outra, e pode se dizer que seu papel na história consiste em permitir ser conduzida, já que constituem um elemento puramente passivo, uma ‘matéria’ [no sentido aristotélico do termo]. Mas, para conduzi-las hoje, é suficiente despender de poucos meios materiais, e isto demonstra o quanto nossa geração afundou.”
Aldous Huxley, em época mais ou menos análoga à de Guénon, alertou que o progresso tecnológico, ao invés de promover terreno fértil para a emancipação individual das consciências, propiciaria o cenário perfeito para o controle estatal; controle este que as “massas passariam a amar“.
Santo Tomás de Aquino proclamou o direito das massas à rebelião contra a imoralidade, a heresia, a injustiça, e, principalmente, à “tirania do Estado totalitário” (ou, como chamou o Professor Olavo de Carvalho, à “religião civil“) contra os preceitos Cristãos. V.G. Korolenko acreditou que o progresso tecnológico traria às massas uma espécie de renovação tomista moderna. Infelizmente Korolenko estava errado, enquanto Guénon, Huxley e diversos outros estavam certos.
O Professor Olavo de Carvalho, comentando o conceito aristotélico das 12 camadas da personalidade, diz que “um indivíduo que ascenda a uma camada superior da personalidade, mas que não encontre em seu meio social a mesma elevação, corre risco de regridir, mesmo que não totalmente, mas exteriormente, a uma camada inferior da personalidade – o brasileiro crê que a elevação econômica deve preceder a elevação intelectual, quando resta comprovado exatamente o oposto, nações que atingiram algum grau de elevação econômica ou social sem antes ter sólida retaguarda intelectual, inevitavelmente sucumbiram ao declínio econômico.” A recente reeleição de Lula da Silva à presidência do Brasil prova isto.
“Os problemas das camadas seguintes, invariável e inevitavelmente, se apresentam perante os indivíduos, mas estes (principalmente no Brasil) não amadureceram o suficiente para lidar com eles“, pontua o Professor Olavo de Carvalho. Eis o Carnaval resumido: Fuga da realidade, ocasionada pelo título deste artigo: “a impossibilidade de criar” maneiras mais auspiciosas, inteligentes e sensatas de lidar com os problemas do dia a dia (as dívidas, inseguranças pessoais, profissionais, conjugais e familiares), a “impossibilidade de criar” uma convivência humana mais fraterna e harmoniosa em todas as esferas da existência humana; a “impossibilidade de criar” um ambiente social, cultural e político menos confuso e caótico; a “impossibilidade de criar“, stricto sensu, maneiras de se conectar efetivamente com os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, necessidade esta – por mais que diversos agentes políticos atuem de forma ostensiva para destruí-los – inerente à condição humana.
Diz Frithjof Schuon que “a beleza atrelada a Deus um sacramento, separada de Deus torna-se um ídolo.”
Um ídolo que, na sua mais limítrofe abstração, considera a epítome da diversão humana atividades símias como urinar uns nos outros, fazer sexo ao ar livre e com vários(as) parceiros(as) na mesma noite (e possívelmente ao mesmo tempo), e consumir drogas pesadas indiscriminadamente.
E, é você, caro(a) leitor(a), que, segundo o que Theodore Dalrymple designou como o “Estado pai“, deverá arcar com as despesas oriundas do “estrago“: Tráfico de drogas financiado, aumento do número de crimes, assistencialismo a mães solteiras e sua prole, financiamento a políticas públicas pró aborto, aumento do número de viciados e toda a imundície do Estado Moderno, que considera a si mesmo o ápice da elevação civilizacional.
Se aumentarem seus impostos em decorrência do “divertimento” extremista alheio, saiba que há apenas uma “forma” de expressão de descontentamento: Fazer o “L”.
Fica a imagem do subdesenvolvimento, da porquice e da imbecilidade brasileira para os estrangeiros. Pelo menos, quando nos perguntarem sobre “como está o Brasil”, poderemos responder com a classe característica de William Shakespeare em Macbeth: “Pobre pátria, revela medo até de conhecer-se. De nossa mãe não pode ser chamada, mas nossa sepultura, pois nela só ri quem ignora tudo.”