Canção lançada em 1979 pelo genial Zé Ramalho, a letra bebeu nas fontes da distopia Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, mais genial ainda, de 1932. Mostrando-nos que a vida e a história são cíclicas, que cada vez mais foi um livro profético e lendário. Neste, todo mundo nasce com característica prévias feitas por cientistas e todas as pessoas fazem a mesma coisa, pensam igual e são controlados, de forma que fiquem mansinhas, sem pensamento lógico ou crítico. Além disso, o livro traz a questão da estratificação social. Nesse mundo criado pelo autor, vemos ideia de castas – que foram baseadas no alfabeto grego -, onde a pessoa nasceu para ficar em uma casta específica e não poderá mudar isso.
Letárgico e apático, o povo é a personificação da mácula do cerceamento de suas liberdades. Nada mais atual. A expressão ‘vida de gado’ simboliza a falta de liberdade e a submissão a um sistema opressor, onde o povo é ‘marcado’ e aparentemente ‘feliz’, mas na verdade vive uma realidade de angústia, sofrimento e resignação. Se aliena nas redes sociais, mídia e futilidades e se droga na cervejinha semanal, entre outras substâncias. Em Admirável Mundo Novo, o sistema usa várias formas de manipulação das pessoas. Em geral com base no prazer hedônico, e a música fala da grande quantidade de pessoas que são manipuladas pelas diferentes formas de poder. Se a pessoa questionar alguma coisa e se permitir pensar, será tratado como inimigo do estado. Muito sugestivo. O maior cinismo na atualidade é a tremenda pressão da agenda progressista, forçando a aceitação para identidade de gênero, liberdades totais etc., mas que geram um patrulhamento ideológico que cerceia a real liberdade de expressão. Tem que ser gado.
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
É o Brasil!
Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!