Certo dia um dos porcos não acordou, ele tinha andado estranho ultimamente e sempre estava com um pouco de pó branco em seu focinho. Dizia aos outros animais que se tratava de farinha de trigo, e que adorava comer pão.
Alguns dias antes…
Acontece que todos os animais eram contra utilizar e comer coisas dos humanos, então ficaram desconfiados com o porco que sempre dizia que adorava comer pão. Vendo aquela inquietação os porcos reuniram-se para deliberar sobre o assunto. Só eles, os porcos, tinham acesso ao pão, sendo que os outros animais ainda que tivessem, não aceitariam, era algo contra sua natureza.
Algum tempo depois os porcos começaram a passar mal por causa do pão que estavam comendo. Os humanos estavam vendendo farinha estragada! Após repetidas vezes passando mal decidiram fazer uma reunião com todos os animais. Nestas reuniões os animais não deliberavam nada, eram obrigados a participar e qualquer posicionamento contrário a o que os porcos diziam não produzia efeito.
Logo de início foram falando como os humanos eram maus e como suas invenções eram nefastas, e que eram pilantras por lhes venderem farinha de má qualidade ou pães estragados. Ao ouvirem isso os animais começaram a se questionar, “como os porcos estão comendo coisas feitas por humanos?”, “os humanos não prestam mesmo”, e assim que o volume baixou, uma voz no meio dos animais estava um pouco mais alta e se destacou: “mas, nós, não podemos comer nada que vem dos humanos”. Neste momento, o chefe porco disse: “nós, os porcos, merecemos algumas regalias, somos nós que fazemos todo o trabalho intelectual, e o pão é essencial para o bom funcionamento do cérebro”.
Então, outra conversa alta teve início entre os animais. Eles sabiam que era errado comer qualquer coisa que viesse dos humanos. Tinham certeza de que não deveriam comer, pois tudo que lembrava os humanos foi lhes retirado. Por coincidência, ou não, assim que a conversa silenciou-se, novamente uma voz destoante sobressaiu: “mesmo assim, isso é errado e não podemos comer”.
O chefe dos animais, um porco, só gritou: “nós, porcos, precisamos da farinha! Não nos importa se vocês aceitam ou não”. Todos os animais ficaram calados, não tinham como contrapor os porcos, especialmente o porco-chefe com sua guarda canina.
Pouco antes de dispensar os animais da reunião, os porcos pegaram dois animais, uma galinha e um pato. Colocaram eles em frente a todos os outros animais e tanto a galinha quanto o pato confessaram que agora eram a favor dos porcos comerem pão. Após isso, os cães de guarda quebraram-lhes os pescoços.
Nessa noite os animais aprenderam uma coisa: nada poderia ficar entre os porcos e sua farinha. Aqueles que acabaram falando no momento errado foram mortos pelos cães de guarda. E para piorar, quem fazia as leis eram os porcos, os quais também faziam os julgamentos.
Infelizmente não possuíam forças para enfrentar os porcos, os cães de guarda, ao todo 9, eram tão fortes quanto todos os outros animais juntos. Quem reclamasse seria morto e aquele que não concordasse, provavelmente, teria de discordar calado ou morreria também.
Ainda hoje os porcos comem sua farinha, se de boa ou má qualidade, ninguém sabe. O que os animais sabem é: os porcos têm o poder, e pela desgraça do destino não tinham como fazer nada a respeito.