“A falta de sentimentos do prisioneiro de muitos anos no campo de concentração é precisamente um dos reflexos da desvalorização de tudo aquilo que não serve ao interesse mais primitivo da preservação da vida. Tudo o mais, necessariamente, parece um evidente luxo aos olhos do prisioneiro. Isto dá origem aum retraimento ante todas as questões intelectuais e culturais, de todos os interesses mais elevados.” –Viktor Frankl
Analisando as notícias relacionadas ao comportamento do brasileiro durante estes dias de “festa”, chegamos à conclusão de que a civilidade, o bom-senso e até a mais prosaica autopreservação já não mais fazem parte do repertório intelectual de grande parte dos nossos cidadãos.
Do consumo indiscriminado de entorpecentes à violência pura e simples, percebemos que o que predomina hoje é a insanidade. É evidente que o supracitado excerto de “Em Busca de Sentido” de Viktor Frankl nos traz luz à questão: A sensação de impotência por parte da população, massacrada por um governo que não lhe oferece educação, saúde ou sequer a mais prosaica dignidade, além das bolsas-esmola, reduzindo-as à condição inerme de súditos ad aeternum, deve ser extravasada, de alguma forma, e o período “festivo” em questão é a ocasião perfeita para todo tipo de excesso.
A questão é: O que ocasionou este lamentável declínio social?
Viktor Frankl foi cirúrgico ao notar que o prisioneiro cuja preservação da vida é sua única e imediata preocupação, sequer sonha com questões morais e intelectuais, e tal fenômeno tem graves consequências.
Max Scheller designou o termo “cultura” como “um saber totalmente digerido; um conhecimento completamente preparado, alerta e pronto para saltar a cada situação concreta de vida. Conhecimento que se tornou ‘segunda natureza’ e totalmente adaptado ao problema específico e às exigências do tempo”, ou seja, o conjunto de normas de uma sociedade, seus costumes e leis, sua linguagem e economia, as realidades às quais as pessoas devem viver em conformidade, stricto sensu.
É óbvio que a educação aí tem papel determinante: A linguagem é o principal componente para a elevação intelectual, como mencionado nos artigos “A Era do Engano” e “Educação de Castas”. É evidente que, como vemos nos artigos supramencionados, a inteligência é uma dádiva puramente individual, devendo ser cultivada e moldada ao longo da vida, e que a padronização educacional – e
seu subsequente declínio – são grandes responsáveis pelo estreitamento da inteligência do brasileiro.
Como “pensa” o brasileiro médio
“O homem decai, e a sociedade inteira degenera.” –Frithjof Schuon
O indivíduo desprovido das ferramentas para desenvolver sua própria consciência e pensamento crítico, é tomado pelo que Hannah Arendt chamou de “as exigências da ralé”, cuja única métrica é a revolta contra tudo e todos, tendo como base a própria condição de impotência perante agentes políticos que ele sequer tem capacidade de identificar satisfatoriamente, estando aí relegado à fúria acética como única forma de protesto.
O que resta? Como escreveu Olavo de Carvalho, restam “décadas e décadas de cultura antipolicial, em filmes, livros e novelas (e, recentemente, enredo de escola de samba) que celebram os bandidos como heróis do povo.”
Segundo a concepção de Scheller, algo tão sério como a cultura de um país, poderosa o suficiente para pautar as reações e atitudes de toda uma nação, deveria ser permeada por um modus pensanti que engrandece a desonestidade, enquanto pune a altivez? Sociedade de Jacós, que em Gênesis 27:19-30, “trocou a primogenitura por um prato de lentilhas”.
Dito isso, fica claro o que realmente significa “consciência coletiva“, ou “consciência de classe“: A destruição do supremo bem humano, a autoconsciência individual. “Consciência de classe” é apenas um adorno alegórico substitutivo e completamente vazio, onde a fruição estética deste vazio intrínseco é o que é considerado nas cátedras brasileiras como o suprassumo da pureza e da genialidade. Toda arte -e toda cultura -são frutos da intensidade da busca pela compreensão interior, doravante, uma arte produzida por pessoas vazias–como o carnaval -produzirá apenas uma cultura de sacos de vento, prontos para serem estocados pela excelentíssima Senhora Dilma Rousseff.
Fazer o que é certo quando ninguém está olhando: Eis a base do caráter de qualquer pessoa de bem.
No Brasil inverteu-se a lógica em 180° para “fazer o que é errado em público”, e ainda posar de superior.
A sociedade brasileira transmutou-se em uma sociedade onde a consciência não tem valor, onde as únicas coisas que têm valor são seus produtos externos, cujo propósito é o escárnio e a subversão de qualquer elevação superior. Basta analisar “produtos culturais” como o livro “Um Útero É Do Tamanho De Um Punho”, a ampliação da indústria editorial e da rede de profissões universitárias, cujo propósito é antes o estreitamento da consciência individual, e não a ampliação do horizonte intelectual. O carnaval não é em si um agente de degeneração cultural, mas o reflexo desta degeneração, o descaso de um governo que deveria prover alta cultura para a população, e, principalmente, uma educação verdadeiramente voltada ao desenvolvimento da autoconsciência, da ética e da cidadania.
Segundo os milenares estratagemas chineses, sabedoria consiste em “ver os problemas quando ainda estão em germe“; no Brasil, o problema da destruição da consciência individual foi ignorado por décadas, e hoje temos pessoas em atividades íntimas em banheiros químicos e atrás de caçambas, onde o odor da “pessoa momentaneamente amada” confunde-se com o cheiro de espuma de carnaval, bebidas alcoólicas, drogas ilícitas e dejetos humanos de terceiros, como se isto representasse, pari passu, o ápice da realização humana, tudo devidamente validado pela Rede Globo. Como diria o erudito Olavo de Carvalho: “Ora, vão lamber sabão!”
A Raiz do Problema
Autoconsciência não pode existir sem a linguagem, pois é a linguagem que torna inteligível à consciência fenômenos que, sem os signos linguísticos para decodificá-los, inevitavelmente passam despercebidos. A capacidade de reflexão sobre o mundo e sobre as próprias ações aumenta conforme aumenta a capacidade linguística dos seres humanos para contar a própria história, e meditar sobre a própria história, sendo posteriormente capazes de meditar sobre as ações das pessoas de sua convivência imediata, e com tempo e esforço suficientes, meditar sobre a sociedade, e até mesmo sobre as políticas públicas de países inteiros.
Como disse o Professor Olavo de Carvalho, “a consciência deve se transmutar em linguagem, para que não se perca, a linguagem deve se transmutar em registro, para que não se perca ao longo do tempo”; é evidente: a produção cultural de um país é diretamente responsável por sua cultura. Qual é a atual produção cultural do Brasil de 2024? Livros como “Um Útero É Do Tamanho De Um Punho”? “Sexo Se Aprende Na Escola”, da Sra. Marta Suplicy? Olavo de Carvalho estava certo ao indignar-se.
O desenvolvimento da inteligência e da consciência foi expulso da indústria editorial e cultural brasileira, tornando-se o meio de divulgação monopolizado pela esquerda para apregoar sua contracultura subversiva – e o carnaval é o principal resultado cultural que visa a estancar o desenvolvimento da consciência, enquanto enaltece o comércio de autoimagem shedonistas e acríticas sobre si mesmas, como símbolos de status e de um estilo de vida imediatista e permissivo, de uma autoconsciência orgulhosa de bloquear a si mesma, e que exige de seus neófitos, para serem “aceitos” em tais meios, uma autoconsciência o mais rasa possível, tornando a inépcia intelectual a conditio sine qua non, onde a substância intelectual é zero, e o interesse pelas futilidades mais prosaicas da existência humana atingem o status de realização máxima.
Resultado óbvio: A rejeição às qualidades intelectuais e espirituais mais elevadas, conduz a uma vida voltada totalmente para o fisiológico; é o bloco da ignorância presunçosa, comandado pelos Señoritos Satisfechos de Ortega y Gasset.
Como se proteger da decadência:
O psicanalista, filósofo humanista e sociólogo alemão Erich Fromm escreveu, no livro “A Sociedade Sã”: “A família[…] pode ser considerada a agência psíquica da sociedade, a instituição que tem a função de transmitir […] o caráter dos pais, sobre o caráter em formação da criança, as características desejáveis do caráter para a formação da estrutura da criança.” Jair Bolsonaro tem, por mais que as más línguas progressistas insistam em negar, respaldo científico ao declarar como os mais importantes pilares de sustentação de nosso país “Deus, Pátria, Família e Liberdade”. A cultura propagada pelo PT visa apenas ao aborto, à bandidolatria, à permissividade extrema. É só no núcleo familiar conservador que ainda encontramos sanidade e resistência.
Para poder oferecer uma sólida formação intelectual para a posteridade, faz-se necessário adquiri-la, antes, para si mesmo. Nós do site Saber Virtuoso temos como nossa principal missão a elevação intelectual, cultural e social de nossos leitores, combatendo a influência nefasta da esquerda.
Referências:
FRANKL, Viktor. Em Busca de Sentido. Porto Alegre: Sinodal, 1987. (Pg. 28)
TORRES, João Camilo de Oliveira. Elogio ao Conservadorismo. Campinas: Editora Arcadia, 2016. (Pg. 247)
SCHUON, Frithjof. A Transfiguração do Homem. São José dos Campos: Sapientia, 2009. (Pg. 46)
ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. (Pg.387)
CARVALHO, Olavo de.O Imbecil Coletivo II. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. (Pg.28)
FROMM, Erich. The Sane Society. London: Routledge Classics, 2002. (Pg. 80)