Em fevereiro de 1988 fui a Cuba. Era um dos primeiros voos fretados de turismo para a ilha, após o Brasil ter reatado relações. Um vôo de turismo da falecida VASP. O mundo ainda vivia o final da guerra fria e o muro de Berlim ainda estava de pé.
Os turistas desse pacote eram compostos de socialistas morenos indo visitar o país símbolo, um monte de brizolistas do Rio de Janeiro, alguns agentes de turismo indo conhecer o novo mercado e mais um bando de curiosos pseudo-socialistas querendo curtir a terra de Fidel, com suas praias e atrações. Era cool ir lá. Vários artistas famosos, como Chico Buarque, Simone, Gil, etcetera, haviam acabado de voltar de lá.
Como uma boa excursão, tínhamos um guia cubano, não me recordo o nome, que falava português. Visitamos Havana, o centro histórico antigo, afinal tudo era antigo e deixado igual à época da queda do ditador Fulgencio Batista em 1959, apenas corroído pelo tempo, sem manutenção ou renovação. Os hotéis eram os mesmos deixados pelas redes dos Americanos, pelo menos conservados limpos por dentro para explorar o turismo. Nos hotéis tudo em dólares.
Visitamos também o museu Ernest Hemingway, grande escritor que vivia lá e tomava porres homéricos na bodeguita del medio. Atravessamos a ilha para conhecer a baía dos Porcos e a baía de Cienfuegos, locais famosos da revolução cubana. Haviam até tropas soviéticas nessa zona. Descobrimos aos poucos que nosso guia e todos também eram do serviço de inteligência. Guiavam os turistas, contavam a história oficial e também nos vigiavam. No final fomos ao balneário de Varadero, praias lindíssimas onde veraneavam os americanos, antes de Fidel.
Ao conviver com o povo nas ruas veio brotar a realidade do socialismo. As pessoas pediam para comprarmos até sabonete e pasta de dente à eles, nas lojas só para turistas, que a eles era proibido. Tudo até hoje racionado. Povo muito simpático e alegre, gente muito boa, mas muito pobre e oprimida. Nos hotéis, nos saguões e bares, muita prostituição, tráfico de charutos, drogas, etcetera
Tudo acontecendo com a vista grossa das autoridades. O estado tem que trazer divisas com os turistas, afinal, o país é falido.
Acho que aí acabou o meu pseudo socialismo. Estado totalitário onde a elite política tem tudo e ao povo as migalhas sem qualquer livre iniciativa. Entendi, ainda com 25 anos, jovem, que a competição saudável de meritocracia, a livre iniciativa gera criatividade e progresso. Pensem nisso para construir o Brasil. Vi de perto.