Woke Capitalism, é um termo que se convencionou utilizar para a agenda corporativa que se notabilizou principalmente a partir do Movimento Occupy Wall Street, durante a Crise Financeira de 2008, que leva para dentro das empresas a obsessão por questões relacionadas a diversidade, equidade, inclusão e mudanças climáticas. Essa temática guarda muita similaridade com a pauta de outros movimentos ativistas, sempre presentes na histeria midiática dos tempos atuais, como o Antifa, BLM, LGBTQIA+, My Body My Choice, ONGs ambientais e o antissemitismo que eclodiu nas universidades norte-americanas após os ataques terroristas liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023. Mas a correlação entre as teses por trás destes movimentos, que, por vezes, parecem gêmeos siameses e outras, apenas primos distantes, seria apenas uma coincidência ou intencionalmente traçada por uma estratégia maior? A segunda opção parece ser mais plausível, uma vez que a raiz teórica que os embasa é a Teoria Pós-moderna, a nova fornecedora de causas ao ideal de dominação social progressista.
Se analisado individualmente, o Pós-modernismo sempre pareceu um movimento obscuro, considerando a fragilidade e desproposito de seu embasamento, bem como o autoritarismo e a grau excessivo de intolerância presente em seus postulados. Contudo, ao se aliar a uma corrente ideológica cuja principal premissa, a luta de classes, havia sido frontalmente derrotada pelos fatos, ganha um novo vetor de fortalecimento, pois suas teses identitárias criam uma visão de mundo baseada em ressentimentos. Ao substituir o conceito de desigualdade econômica pela opressão à determinadas minorias, se estabelece uma guerra político-cultural, atendendo, perfeitamente, às necessidades dos progressistas sem causa.
A estratégia de fragmentação da Teoria Pós-moderna nos diversos movimentos citados acima tem pelo menos dois propósitos: (i) atender às demandas específicas dos públicos a serem doutrinados, considerando que os perfis não são homogêneos e, principalmente; (ii) dissimular a utilização desta Teoria como embasamento destes movimentos, considerando a fragilidade de seus métodos e abordagem, incapazes de fornecer respostas consistentes à própria problematização que propõe. Assim, o Woke Capitalism incorpora temas mais genericamente aceitos presentes na Teoria, deixando de fora teses mais radicais e menos sensíveis ao mundo corporativo, que, no entanto, embasam o hasteamento de bandeiras de grupos terroristas em campus universitários, a transição de gênero em crianças através do bloqueio artificial de sua puberdade com a utilização de hormônios e o espancamento de mulheres por adversários de gênero questionado em competições olímpicas. A fragmentação, portanto, é proposital, e proporciona a aceitação parcial da Teoria nos grupos de interesse, facilitando seu controle, uma vez que esses grupos não possuem total visibilidade acerca da intenção central de doutrinação social, propositalmente dissimulada.
Mas o que é a Teoria Pós-moderna e por que era vista como obscura até se aliar ao progressismo? A resposta está em sua própria essência, que rejeita os valores Modernos, como a democracia, a ciência racional, a liberdade individual e a universalidade humana. Sendo mais específico, é um movimento onde as principais teses se baseiam no subjetivismo, na relativização da moral e da ética e na desconstrução dos princípios que norteiam as sociedades liberais do ocidente.
A visão social dos Pós-modernos considera que a sociedade ocidental está construída como um sistema que visa a autopreservação de privilégios dos grupos dominantes compostos, basicamente, por pessoas brancas, principalmente do sexo masculino, cisgêneras, heterossexuais e saudáveis. Este senso de autopreservação elimina a perspectiva das minorias, o que se constitui na base de suas teses identitárias, baseadas em princípios teóricos sobre a visão de mundo de seus formuladores, que rejeitam o conhecimento objetivo, não se baseando, portanto, na verdade factual, mas nos princípios “virtuosos” dos grupos oprimidos, de acordo com suas próprias definições. Esta pseudo orientação ética é colocada como argumento para que suas teses não possam ser racionalmente contestadas, uma vez que as críticas perpetradas por membros dos grupos dominantes são consideradas como uma tentativa de servir aos seus próprios interesses, contrariando, portanto, os marginalizados e oprimidos defendidos pelo Pós-modernismo.
A possibilidade de questionamento da Teoria é ainda mais restrita, considerando que seus teóricos afirmam que, discordar de seus postulados reflete a incapacidade do discordante em entender, com profundidade, a Teoria, o que advém de uma falha moral profunda, não admitindo, portanto, a aplicação de métodos científicos para validação de suas teses. Ora, uma escola de pensamento que se baseia na visão subjetiva de mundo de seus formuladores e não aceita a submissão de suas ideias ao rigor do processo científico tradicional não tem por objetivo buscar a verdade, mas apenas estabelecer pressupostos a serem utilizados por movimentos ativistas.
O caráter autoritário e a intolerância também se fazem presente na forma como a Teoria propõe a utilização de mecanismos de desconstrução e problematização. Seu ceticismo radical considera que todo conhecimento objetivo deriva de uma construção cultural baseada na estrutura de poder vigente e precisa, portanto, ser desconstruído por ser incapaz de se provar confiável. Essa desconstrução, por obvio, implica na aceitação dos postulados propostos pela Teoria. A aplicação do processo de desconstrução passa pela problematização das estruturas vigentes, um processo absolutamente artificial que visa não resolver os problemas identitários identificados pela Teoria, mas exclusivamente realçar estes problemas, tornando visível a opressão, mais uma vez, subjetiva e, por vezes, fruto da visão de mundo dos teóricos e ativistas.
A aplicabilidade do Pós-modernismo se dá através de Teorias específicas, desenvolvidas a partir de seu fundamento original, sendo as principais: (i) Teoria Pós-colonial; (ii) Teoria de Gênero; (iii) Teoria Queer (negação do normal); (iv) Teoria Crítica da Raça e; (v) Deficiência e Corpo Gordo. Todas apresentam forte tendência a vitimização de grupos específicos, tipificados como oprimidos e ou marginalizados. A subjetividade é um ponto latente nos argumentos destas Teorias complementares, expressando, de forma quase religiosa, que todos os brancos são racistas, que todos os homens são misóginos, que o sexo não é biológico, que cuidar de deficiências e da obesidade é incorreto e que os valores ocidentais representam o imperialismo e a opressão. Estas Teorias pretendem, portanto, reescrever a história e negar a realidade presente, de forma a substituí-los por sua própria visão deturpada e subjetiva de mundo.
Ao contrário do que o Woke Capitalism prega com seus preceitos de inclusão, equidade e diversidade, a Teoria no qual ele se fundamenta segrega a sociedade em grupo dominante e grupos identitários vitimizados. Sua base é absolutamente abstrata e se concentra em transformar a visão de mundo subjetiva de seus formuladores em algo real, desconsiderando, para isso, o conhecimento objetivo, os postulados científicos e a própria realidade intrínseca. As experiências, tradições e cultura dos grupos identitários são aceitas como verdades absolutas e inquestionáveis por se oporem ao conhecimento empírico, que, de acordo com a Teoria, são meros constructos utilizados pelos grupos opressores para manutenção de seu poder e privilégios. Esse discurso, desprovido de fundamento e lógica racional, que mais se parece com uma religião, pois se baseia na tradição e na fé, refutando a razão, ganha cada vez mais ressonância nas corporações e universidades.
A vitimização dos grupos identitários se contrapõe à própria dignidade humana, pois exclui a resiliência como instrumento de enfrentamento dos obstáculos da vida e a meritocracia como reconhecimento do esforço individual. Essa visão binária de soma zero que caracteriza o cinismo do Movimento Woke desconsidera que um sistema tido como injusto, o capitalismo, foi capaz de promover mais qualidade de vida aos integrantes dos grupos identitários do que, por exemplo, o comunismo, cuja definição passa por uma sociedade igualitária, organizada em torno da cooperação para reduzir a exploração humana.
O artigo se propôs a apresentar a Teoria Pós-moderna, que embasa o Woke Capitalism, bem como suas contradições e cinismo eminentes. Os princípios e valores que suportam o progresso das sociedades ocidentais e seu sistema econômico, o capitalismo, são afrontados por essa Teoria, que se fragmenta propositalmente no Movimento Woke, dissimulando seus reais objetivos para amealhar o apoio de importantes setores presentes e influentes no ambiente corporativo. A cultura vigente nas democracias ocidentais, bem como as práticas liberais do sistema capitalista apresentam respostas a maior parte das questões problematizadas de forma distorcida pelo Movimento Woke. O conhecimento objetivo, o método científico, o respeito à liberdade individual, a crença na universalidade humana e o apreço à dignidade sustentam o contínuo progresso que, embora tido pelos Pós-modernistas como uma ilusão impossível, é facilmente mensurável.
As sociedades ocidentais democráticas capitalistas concentram seu foco na revisão sistemática de seus conceitos culturais, ajustando-os às demandas da evolução social, e no progresso econômico resiliente, encontrando soluções para os novos problemas quase que simultaneamente à resolução daqueles pré-existentes. O Pós-modernismo centraliza ressentimentos e se preocupa, fundamentalmente, com uma disputa política infrutífera, onde tudo gira em torno de raça, gênero, sexualidade e outros fatores que possam caracterizar algum tipo de diferença atrelada a uma pseudo opressão. Segregar, para o Movimento WOKE, é uma forma de empoderamento daqueles que se dizem defensores dos grupos marginalizados, à imagem e semelhança do Marxismo.
Referências:
Puckrose, H., & Lindsay, J. (2023). Teorias cínicas. Faro Editorial.
Ramaswamy, V. (2021). Woke, S.A. A farsa da justiça social empresarial. LVM Editora.