De profundis clamavi ad te domine
Este ensaio nasceu por meio da transcrição -agora revisada e atualizada -de uma aula ministrada por mim no blog Saber Virtuoso no dia 12/12/2023.
A Natureza da Filosofia, como pontua-nos Roger Scruton no Livro “Uma Breve Análise da Filosofia Moderna”, pode ser alcançado no contraste entre a ciência de um lado, e a teologia de outro. É válido dizer que, como prossegue Scruton, a Filosofia começa onde a ciência não pode mais avançar. Podemos, em caráter introdutório, separar a filosofia em categorias diferentes que compõem seus principais campos de estudo: Epistemologia (Teoria do Conhecimento), metafísica, lógica, ética, estética e ciência política. Metafísico, segundo Olavo de Carvalho, antes de ser o estudo de qualquer objeto em particular, é o estudo da possibilidade e da impossibilidade tomadas em seu sentido mais amplo e universal. Bem, o que exatamente distingue o “pensamento filosófico”? As questões que os filósofos devem perguntar têm duas características distintas que as tornam únicas e cognoscíveis, reconhecíveis: Abstração e a preocupação para com a VERDADE.
Por abstração, segundo Roger Scruton, entende-se: Toda questão filosófica surge quando algum problema de “ordem prática” sobre qualquer assunto em particular, evento ou dificuldade tenha sido sanado de acordo com os métodos disponíveis, e quando, ou por estes métodos por si mesmos, ou em decorrência de alguma doutrina metafísica à qual eles pressupõem, tornarem-se os objetos de questionamento em si mesmos. Esta é a base do nascimento de qualquer “Método Filosófico”, a priori.
Apenas para elucidar de forma mais apropriada a questão, tomarei como exemplo o meu ensaio escrito para o Saber Virtuoso “A Verdade Sobre As Vacinas”: Política e Medicina são áreas, sui generis, distintas do conhecimento, humano, certo?
Tratamentos médicos não são, ou pelo menos não deveriam ser, administrados em pacientes distintos após os médicos –ou até mesmo os próprios pacientes, leigos em medicina –realizarem alguma espécie de “eleição” para “eleger” o medicamento “mais popular” para ser administrado –ao invés de cuidadosamente, e em um amplo consenso –decidirem qual é o mais eficaz para o tratamento em questão, levando em conta em conta a particularidade de cada diferente paciente, dentro do escopo da bioética, pacientes estes que evidentemente são dotados dos mesmos direitos humanos naturais dos próprios médicos, concordam? Foi isso o que aconteceu na pandemia? As autoridades mobilizaram-se de forma sensata, respeitando a individualidade de cada cidadão? Não! O que presenciamos foi o consenso político-coletivista sobrepor-se à prática individual da medicina, quando presenciamos excrecências como a perseguição política a médicose pessoas comuns que questionaram a vacina, correto? O Dr. Alessandro Loiola, respeitadíssimo médico, escritor e palestrante, resumiu a questão de forma bastante elucidativa: “Rendeu muito dinheiro para a Big Pharma” empurrar a vacina forçosamente a milhões de pessoas. Como prossegue o Dr. Loiola, “crianças têm 99.9993% de não ter nada com a covid. Mesmo assim querem forçar a vacina no PNI (Programa Nacional de Imunização)”. Qual é o lobby por trás disso? Medicina? Ou política, pura e simplesmente?
Edmund Husserl, filósofo e matemático alemão, e um dos mais influentes pensadores tradicionalistas do Séc. XX, previu o impacto destrutivo do supracitado fenômeno, quando uma ciência –ou pseudo-ciência –é analisada pela hermenêutica de outra, totalmente desconexa de seus conceitos-base. Vejamos um excerto de Husserl: “Uma transposição para outro gênero (metábasis eis állo gémos), assim inadvertida, pode ter os efeitos mais nocivos: -NOTEM BEM: fixação de objetivos falsos, emprego de métodos incomensuráveis com os objetos, confusão de camadas lógicas, de modo que as proposições e as teorias fundamentais, ocultas sobre os disfarces mais singulares, vão perder-se entre séries de ideias completamente estranhas, como fatores absolutamente secundários, ou consequências incidentais.” É PRECISAMENTE o que está acontecendo hoje!
É óbvio que a Sociologia e as Ciências Políticas de cunho proto-marxista-coletivista ocuparam o espaço reservado à medicina em meio à histeria coletiva da pandemia. Histeria esta, também previamente concebida e fabricada para estabelecer o cenário, na melhor lógica sociológica da Constante de Durkheim, “quebrar” o sistema nervoso das pessoas por meio do medo, deixando-as dóceis à sugestionabilidade Pavloviana, para que mantivessem-se trancadas em casa, utilizando de forma amorfa e compulsiva máscaras em ambientes abertos e desérticos, e tomassem quaisquer vacinas experimentais. Lucro a qualquer preço.
Corrobora-se a percepção de Roger Scruton: Os problemas filosóficos e os sistemas criados para resolvê-los tendem –e devem sempre tender –não apenas aos domínios da atualidade, mas também aos domínios da possibilidade e da necessidade.
Devem buscar abranger o “poder ser” e o “dever ser”, ao invés do que simplesmente “é”. Durante a pandemia, o que “FOI” resumiu-se à aplicabilidade de conceitos marxistas de dominação política, stricto sensu.
Com relação à busca pela verdade, pode soar óbvio, mas é necessário pontuar algumas características: A busca pela verdade ocupa-se de evitar que todas as ciências e questionamentos filosóficos transformem-se em mera retórica, que, creio que concordamos, foi exatamente o que ocorreu durante a dita “crise sanitária” da Covid-19. Inclusive, recomendo que leiam meu ensaio publicado no site Saber Virtuoso chamado “Covid –Quem Lucrou Na Pandemia”. Lá eu desmistifico boa parte do que houve por trás das mentiras retóricas da pandemia.
É também obvio que a retórica vem ocupando cada vez mais os espaços antes reservados à verdadeira filosofia, como a política, as artes, e a literatura, Obviamente que esta autoridade do Estado sobre questões antes de cunho individual –os direitos sobre o próprio corpo que as feministas, em uma clara demonstração de incongruência discursiva clamam para si, mas querem impor regras sobre o corpo de todas as outras pessoas –nascem do Materialismo Dialético (ou Histórico) Marxista, onde a história mundana, como demonstram Scruton e Olavo de Carvalho no livro “O Jardim Das Aflições”, o progresso material, a “revolução”, o “novo”, a permissividade, o hedonismo extremista, o enfim chamado “bem-estar social” meticulosamente programado pelo Estado (que alguns influencers corretamente chamam de “Matrix”), substituíram o tradicional, e o atemporal, o Eterno e a Busca pelo cultivo de uma vida voltada à sanidade, e à elevação e Salvação Espiritual.
É o que Ludwig Feuerbach – um dos leitores da filosofia Hegeliana mais elogiados por Karl Marx, e ele próprio um ateu irrecuperável – chamou de “Três Estágios Para O Comunismo”, onde no primeiro estágio o homem ainda é dominado pela natureza por não possuir recursos mecânicos e tecnológicos para dominá-la. Pode-se atribuir o primeiro estágio à chamada “Idade das Trevas” medieval.
No segundo estágio, após “dominar a natureza”, não mais é como seus antepassados – um objeto dela – mas, natureza torna-se objeto do homem, trazendo consigo a noção de Propriedade Privada, o que gera a instituição da troca, e consequentemente, o modo de produção conhecido como Capitalismo).
Este estágio deve ser substituído pelo Terceiro Estágio, o Comunismo, onde o domínio do homem está tão inexoravelmente aperfeiçoado, que a necessidade de propriedade privada, e a separação do homem e da natureza foram transcendidos. Como mencionado por Roger Scruton, é a presunção de realizar o paraíso na terra, o “Jardim das Delícias” de Epicuro, onde a individualidade humana foi superada, onde a Teologia Cristã provou-se imperfeita face à gnose – como a chamou Eric Voegelin – marxista e mundana, onde a “mão de obra proletária alienada” como a chamou Fitche, representa aí a escravização a uma cosmologia que impede a realização de tão sublime “paraíso” na terra.
Diante disso conseguimos até mesmo compreender de forma mais ampla a militância esquerdista ter fechado igrejas durante a pandemia, e militar tanto a favor de um suposto “Estado Laico”.
Já não mais nos assusta a assiduidade e o fanatismo obstinado da militância esquerdista, seja lá de qual parte do mundo se fale. É aquilo que escreveu o Professor Olavo de Carvalho no livro Maquiavel ou A Confusão Demoniaca: “Maquiavel, nessa perspectiva, era o apóstolo da razão de Estado, que em nome da grandeza e segurança da pátria, concedia aos governantes o salvo conduto para mentir, delinquir, roubar, oprimir, matar, infringir enfim todos os mandamentos da Igreja e da moralidade comum”, esta mesma moralidade comum que, segundo o pensamento sobre Conservadorismo em Russell Kirk, Roger Scruton, John Locke e Edmund Burke, a essência da democracia.
À luz deste pequeno resumo sobre o cerne da ideologia marxista, não nos espanta o que ocorreu durante a pandemia da Covid-19, onde o “método filosófico” dominante foi a Dialética Marxista, como nos esclarece Edmund Husserl.
Vale tudo em nome da utopia terrestre, e aqueles que porventura morreram – e, infelizmente, ainda morrerão – graças a efeitos colaterais da vacina, são vistos pelos revolucionários insanos como “heróis” cujas vidas foram sacrificadas em nome do “bem maior”. Adam Smith, em seu famoso livro “A Riqueza das Nações” conseguiu resumir UM SÉCULO do pensamento Empirista –que tem como uma de suas principais mentes fundadoras o britânico John Locke –em uma tentativa de demonstrar que o livre mercado e a acumulação de capital e propriedade privada não apenas preserva a justiça, mas também promove verdadeiro bem-estar social como um todo, satisfazendo as necessidades e garantindo estabilidade. É óbvio que a elite política esquerdista quer o bem-estar apenas para si mesma, como vimos em notícia publicada pelo website “Investidores Brasil”, onde se lê no lead que “Multa dos irmãos Batista suspensa por Toffoli seria devolvida a fundos de pensão de trabalhadores lesados”. https://investidoresbrasil.com.br/multa-dos-irmaos-batista-suspensa-por-toffoli-seria-devolvida-a-fundos-de-pensao-de-trabalhadores-lesados/?amp
Utopia socialista pra todos! Mas o dinheiro só pra patota.
Eu me lembro de um trecho de uma entrevista com a Deputada Ana Caroline Campagnolo com o esquerdista Rafinha Bastos: “Um Estado Laico, não necessariamente implica um Estado declaradamente Ateu, não é?” Indagou a Deputada e prolífica intelectual.
Inclusive, o conceito original de laicismo, como menciona Thomas Paine, um dos pais fundadores da sólida democracia americana, não é a imposição do ateísmo ou de apenas algumas religiões em detrimento de outras –Padre Julio Lancelotti comemorando religiões africanas em detrimento do próprio catolicismo é a perfeita distorção do conceito original de laicismo –e sim a liberdade confessional de TODAS as denominações religiosas, incluindo aí o direito de, em consonância esóterica a determinadas práticas e convicções religiosas, reprovar certas decisões políticas, e não seguir religiosamente o progressismo do Estado ao invés do Alcorão, Torá, Bhagavad Gita, Novo Testamento, Antigo Testamento ou qualquer outro.
Em suma, os “direitos coletivos” imperam no Brasil, onde qualquer direito que fuja dos “coletivos” é considerado “fascismo”, “preconceito”, “elitismo burguês”, “intolerância” ou qualquer outro epíteto do léxico PSOLista.
No entanto, como podemos ver, é aquilo que disse Augusto Comte, um dos pais do Positivismo: “A vida dos vivos é regida por filósofos mortos!”. Há -e sempre haverá -resistência aos ditames do Estado em detrimento de conhecimento verdadeiramente valioso.
Complementando o que foi dito anteriormente, se analisarmos superficialmente a obra de Filósofos como Louis Lavelle e José Ortega-y-Gasset, nós nascemos em um mundo “pronto”, mesmo que pautado por filosofias bem antigas em combate entre si, e cabe a nós, como disse Lavelle, “resistir ao nosso meio social imediato”, não “enlouquecer”, não sucumbir à mediocridade do meio, buscar a interiorização naquilo que é atemporal e verdadeiramente precioso, e jamais medir o valor de ABSOLUTAMENTE NADA segundo as opiniões da maioria, não abrir flanco às nossas circunstâncias imediatas, e buscar sabedoria milenar para lidar com os nossos problemas atuais. Não ser pautado pela “narrativa oficial” do Estado, buscar pensar com o próprio cérebro. A “Filosofia Aplicada” consiste simplesmente nisto.
Referências:
CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições.Campinas:Vide Editorial,2015. (Pg. 402)
SCRUTON, Roger. A Short History of Modern Philosophy. London: Routledge, 1995. (Pgs. 10, 158-160)