Há alguns anos o Brasil aboliu a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Jornais, revistas, emissoras de rádio e TV comemoraram e trataram logo de contratar pretendentes a repórter, gente sem qualificação e de péssimo nível profissional e pessoal. Entra na conta também o menosprezo pelos leitores e o pretexto da revolução digital, que supostamente decretava a morte do texto escrito e o triunfo da imagem, não se confirmou, ao contrário, nunca se leu tanto no mundo depois que a internet foi criada.
Impedir que um cidadão publicasse suas ideias virou sinônimo de censura, ataque à liberdade de expressão e até discriminação. Quero deixar claro que sempre fui contra tal obrigatoriedade, pois a meu ver o jornalismo deveria ser uma especialização ou uma pós-graduação de qualquer curso superior, e nunca uma faculdade para ensinar a escrever!
Se fosse o caso de desregulamentar a profissão de médico ou de engenheiro, a situação seria bem diferente, pois ninguém vai a um médico que não fez faculdade de Medicina, nem passa por uma ponte planejada e construída por um curioso que não conhece Cálculo Estrutural. Mas foi assim que aconteceu, pois escrever meia dúzia de bobagens não mata ninguém, assim pensaram os burocratas de plantão e os oportunistas de sempre. Resultado: procurar um texto com começo, meio e fim seja na internet ou nos jornais e revistas é um garimpo, pois a qualidade fica à mercê do talento individual. A maioria dos artigos está cheia de erros de Português que poderiam ser facilmente evitados com uma revisão. Aliás, acabaram com a função e o cargo de revisor, também! Se você já leu até aqui, vai ficar feliz de seguir adiante com algumas das dicas que tenho para você melhorar seu texto escrito.
Gostaria de salientar que a autoridade a mim conferida vem não apenas de minha formação em Jornalismo, mas da experiência como professora de Português, em especial de Redação, por mais de 30 anos. Passaram pelos bancos de minhas classes milhares de alunos de ensino fundamental e médio, de pré-vestibulares e universidades. Todos aprenderam com a prática que para escrever bem é necessário ser claro, coerente e objetivo na comunicação.
O texto jornalístico – vou tratar assim o artigo publicado na mídia escrita e também em meio digital – é um gênero não-literário, de caráter informativo, opinativo ou interpretativo, a depender da pauta, da editoria e até do estilo do veículo. Em casos de extrema liberdade, vale também o estilo do autor. Disposto a melhorar seu texto? Algumas orientações::
- Planejamento é fundamental para iniciar qualquer empreendimento, seja fazer um bolo ou viajar para a Antártida. As etapas do planejamento começam com a pauta (o que vou dizer), o público-alvo (para quem), o modo como vou me expressar (como) e quais argumentos tenho para justificar o que estou afirmando (por quê). São anotações que podem passar para o papel ou para o bloco de notas como um lembrete ou esquema para que o texto não se desvie do assunto;
- Embora todo texto deva ter começo, meio e fim, pensar em começo costuma sugerir um texto enfadonho e cria o que chamamos de “nariz de cera”, ou seja, um tipo de introdução explicativa, quando sabemos que hoje em dia os leitores querem ver diretamente a notícia. Logo, deve-se iniciar pelo “meio”, isto é, por onde a ação acontece, para prender a atenção do leitor. Este “meio” será o começo do texto, e diferentemente de uma estrutura mais científica, dedutiva, opta-se por um artigo indutivo, em que se conduz o leitor, persuadindo-o.
- O parágrafo é uma unidade completa de ideia, então, ele também deve ter começo, meio e fim. Não há um número específico de linhas para um parágrafo, mas considera-se que um parágrafo esteja entre quatro e dez linhas, como referência;
- Passamos à questão da coerência e da coesão. Cada parágrafo deve remeter ao seguinte, e o posterior deve ter relação lógica com o anterior. Parágrafo não serve para mudar de assunto, mas mudar o enfoque sobre o assunto. Assim, se em um parágrafo o texto apresenta o conceito ou os vários conceitos de Natal, por exemplo, o próximo pode dar exemplos do Natal ao redor do mundo. A relação lógica é de exemplificação ou ilustração, e os argumentos justificam a ideia principal;
- A conclusão do texto não assinala apenas o final, o fecho. A conclusão também deve estabelecer uma relação lógica com o que foi dito anteriormente e propor uma solução. Portanto, ao elaborar uma conclusão deve-se reler todo o texto para não perder a coerência e dar o próximo passo na escrita. Muitas vezes, a ideia principal está justamente na conclusão. Todos os argumentos conduzem a uma conclusão lógica, mas também podem levar a uma sugestão lúcida;
- Sobre questões gramaticais, é importante sempre revisar o texto ao seu término. O corretor do Word apenas revisa superficialmente, assim, é necessário que você leia até em voz alta o seu texto para pontuá-lo corretamente. Na dúvida, peça a um amigo para ler e corrigir. Se for escrever para crianças ou adolescentes, leia para eles. Se for escrever um texto científico, peça a revisão a quem entenda do assunto. O mesmo vale para os problemas da escrita.
- Alguns jornalistas começam a escrever diretamente o texto, depois colocam o título. Este é o caso da autora que lhes fala. Outros, já começam pelo título, que servem como guia e mesmo como incentivo ou inspiração para seguir escrevendo. Todo texto tem título, mas a técnica para escrever bons títulos vamos tratar em outro artigo.
Por fim, saber escrever é também uma questão de prática. Desde a alfabetização devemos estimular a nossa escrita, seja em diários, em contos de aventuras, de terror, em crônicas de fatos do dia a dia, em poemas e letras musicais, quadrinhos, e depois resumos de livros, resenhas, reportagens e artigos. Deve-se escrever todo dia, não importa o quê: e-mails, mensagens em redes sociais, cartas, comunicados, bilhetes para os familiares, para os colegas de trabalho.