Os Jogos Olímpicos de Paris, encerrados em 11 de agosto de 2024, foram marcados por um forte viés identitário, com a imposição, cinicamente velada, da Agenda Woke por seu organizador, o Comitê Olímpico Internacional – COI. Não bastasse ter chocado o mundo com o desrespeito a símbolos religiosos e a desproporcional exaltação da Cultura Queer em sua Cerimônia de Abertura, a organização ofereceu alojamentos ecológicos e uma dieta direcionada ao veganismo, claramente incompatíveis às necessidades de preparo e recuperação física dos atletas hospedados na Vila Olímpica. A exposição ao poluído Rio Sena, que antes da competição era um marco da política eco responsável do país organizador e cuja adequação de sua utilização nas competições olímpicas foi atestada pelo COI, causou incomodo e doenças aos atletas. A dissonância entre os protocolos utilizados com as necessidades requeridas em uma competição esportiva e seus protagonistas, os atletas, ficou latente, chamado a atenção de todos, exceto dos próprios organizadores do evento.
O ápice da exaltação da Agenda Woke talvez tenha sido a final de uma categoria do Torneio de Boxe Feminino, protagonizada por dois atletes, e aqui uso linguagem neutra não por concordar com a mesma, mas por não conseguir definir, com certeza, o sexo dos envolvides, que já tiveram sua genética sexual questionada pela Associação Internacional de Boxe – IBA, entidade em litígio com o COI. As lutas realizadas durante o torneio causaram espanto aos amantes do esporte e aos defensores dos direitos das mulheres, dado que ficou evidente a força desproporcional destes dois atletes em relação às adversárias. A polemica, desnecessariamente criada, decorre da postura do COI e da IBA em não dar a devida transparência aos resultados dos testes de cromossomos realizados nos atletes, para preservação da privacidade dos mesmes. Dar transparência ao resultado destes exames, no entanto, proporcionaria ao mundo a certeza de uma competição justa, caso comprovado que os atletes são biologicamente mulheres, ou preservaria a integridade física das demais competidoras, caso este não fosse o caso. Infelizmente isso ficou em segundo plano para os organizadores olímpicos.
A Agenda Woke, que se notabilizou dentro do Movimento Occupy Wall Street, com origem durante a Crise Financeira de 2008, ganhou força, principalmente, pelo questionamento da forma de utilização do dinheiro público no resgate de determinadas instituições financeiras, que contemplou, entre outras situações, o pagamento de bônus a executivos envolvidos nos problemas que detonaram a crise, é apenas um fragmento do projeto de ressurgimento do progressismo, derrotado com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e cujas mazelas foram expostas a partir do desmantelamento da Cortina de Ferro. Naquele momento histórico, após 44 anos do final da 2ª Grande Guerra, o mundo finalmente tinha acesso aos detalhes do subdesenvolvimento socioeconômico das nações comunistas, cuja ausência de democracia impedia a divulgação adequada de dados e a comunicação de suas populações com o ocidente. A liberdade rapidamente se refletiu na troca dos regimes políticos e econômicos da maior parte destas nações, restando ao progressismo “respirar por aparelhos”, na social-democracia ainda vigente em algumas nações europeias.
O tempo, no entanto, age como um vetor de esquecimento dos efeitos nefastos que o comunismo causou às sociedades onde suas diretrizes conduziram o sistema econômico. As novas gerações foram menos expostas às sociedades fechadas e pouco inovadoras como era a realidade das nações que compunham a Cortina de Ferro, por exemplo. Ao redor do globo, a ideologização dos sistemas educacionais, a cooptação da mídia, a doutrinação cultural e o aparelhamento das estruturas sindicais e de estado, fatores tradicionalmente dominados pelo progressismo, também facilitam o trabalho de manipulação da juventude.
A Agenda Woke ganha ainda mais relevância no universo progressista por ser capaz de inserir sua cultura em um ambiente onde ela nunca conseguiu grande penetração: as grandes corporações, justamente o que move o mundo capitalista e garante o diferencial de geração de riqueza presente nas sociedades ocidentais, que vem sendo capaz de reduzir problemas sociais pela elevação contínua da qualidade de vida das populações onde vigora a economia de mercado.
A estratégia de dominação social dos progressistas permanece a mesma: dividir para conquistar. O que muda agora é que o velho discurso de proteger o proletariado do burguês sem coração não tem mais aderência com a realidade, considerando que o progresso vigente nas sociedades burguesas conseguiu resgatar a classe operária, provendo a ela condições de consumo muito superiores, comparativamente, às sociedades que adotaram o socialismo como sistema econômico. Depois de alguns anos de hibernação, os progressistas recorrem à Teoria Pós-moderna e seu identitarismo, juntamente com a agenda ambiental, como fornecedores de novas causas, para as quais se autoproclamam defensores, de forma oportunista, como habitual. Não se preocupam em apresentar propostas factíveis para solução efetiva, apenas as utilizam como plataforma de uma narrativa superficial e vazia. Paralelamente, atacam, sem piedade, aqueles que, arbitrariamente, elegem como os causadores dos problemas: homens brancos, cisgêneros, heterossexuais e saudáveis.
Utilizar os Jogos Olímpicos como plataforma de marketing de uma agenda política não é algo novo. Durante a Guerra Fria, a União Soviética, seus satélites da Cortina de Ferro e Cuba despontavam como potencias esportivas, mostrando ao mundo uma opulência que contrastava com a vida miserável e reprimida de suas populações. A excepcional performance esportiva destes países transmitia à população média do resto do mundo a sensação de que a vida, por trás da Cortina de Ferro, seguia um curso ao menos adequado. Outros regimes totalitários também se utilizaram deste evento para mostrar ao mundo sua pseudo-prosperidade e coesão social, dissimulando suas reais intenções, como em 1936.
Relativizar a importância da utilização dos Jogos Olímpicos para divulgação da Agenda Woke é um erro tão grave quanto não entender a estratégia de fragmentação utilizada pelos progressistas para implementação de sua nova proposta de doutrinação ideológica baseado na Teoria Pós-moderna. A Agenda Woke nega o conhecimento objetivo, a natureza da universalidade humana e a importância do indivíduo, princípios que alicerçam a civilização ocidental. Intrinsicamente, tenta desconstruir a religiosidade e a meritocracia, valores fundamentais e também tradicionalmente presentes em competições esportivas. Não acredito que tenha sido por acaso que a referência à símbolos religiosos tenha sido proibida aos atletas durante as competições e que haja, cada vez mais, cobertura midiática para histórias de vida daqueles que não alcançaram o pódio nas competições. Afinal, a mesma lógica que atribui aos homens brancos, cisgêneros, heterossexuais e saudáveis o privilégio de terem nascido sob a benção de uma casta dominante e que estes mantêm essa dominação através da opressão de grupos identitários, pode também atribuir aos ganhadores olímpicos uma predeterminação da vitória pela subjugação daqueles que não possuem os mesmos privilégios sociais, relevando talento e esforço a um plano secundário e minando o conceito de meritocracia. Parece ser este um argumento tolo, mas é o cerne teórico por trás do Pós-modernismo. Este argumento, colocado em evidência nos momentos chave dos Jogos Olímpicos, foi consumido e contribuiu para o processo de doutrinação dos incautos e das novas gerações.