Uma das características do nosso tempo presente é a matematização da economia e do direito, um embebecer as humanidades em cientificismo, uma espécie de formalismo geral.
Os números na planilha e as estruturas normativas valem mais que os fatos na realidade, mesmo que o país esteja literalmente em chamas — e nunca na nossa história recente isso foi tão literal.
Ao que parece o setor financeiro brasileiro está em estado de negação, não está precificando o caos institucional, jurídico e econômico.
A suprema corte já congelou bens de uma empresa estrangeira, decretou crédito extraordinário para o combate às queimadas e para lidar com outros casos análogos.
O poder executivo está confiscando “dinheiro esquecido”, usando o dinheiro de Itaipu para fazer obras em Belém — provavelmente pensando na COP 30, e na prática está totalmente fora da meta fiscal. Independentemente do que digam os números, os gastos públicos estão exorbitantes e a arrecadação não é a esperada.
Para compensar, o poder executivo tenta a todo custo manter gastos fora do teto, manobrando com o legislativo e o judiciário os freios e contrapesos orçamentários para impedir o gasto desenfreado.
Como já mencionado, a percepção do mercado financeiro brasileiro não depende dos fatos, depende de alguns números nas planilhas, normas aparentemente funcionais e favores para nossos campeões nacionais.
Enquanto os bancos têm lucros exorbitantes, a mídia fala em defesa da democracia e finge não entender o ímpeto ditatorial de Marina Silva — que fala em confisco de terras em um país que depende do agronegócio, fala em responsabilizar produtores e a sociedade.
O dólar parece disparar quando Lula fala alguma bobagem, mas se mantém estável diante da corrosão dos fundamentos macroeconômicos nacionais, ameaças de confisco e insegurança jurídica.
O otimismo meia bomba da OCDE não se dissipa diante de incêndios em grande escala em uma nação exportadora de commodities?
É seguro investir em um país onde um produtor pode perder a suas terras para a união, ou uma ordem judicial pode confiscar ou congelar bens?
Gostemos ou não, seja democrático ou autoritário — ou qualquer outro termo em circulação no debate público brasileiro —, o Brasil está quebrando, com um povo sobrecarregado com impostos, empreendedores sendo sufocados e agora com uma crise enorme no agronegócio.
As recuperações judiciais no agronegócio têm menos repercussão que questões ambientais, que estímulos à “cruzada do net zero” — e agora quem sabe, caça aos terroristas climáticos.
Nada disso mobiliza os setores sociais e produtivos do Brasil? Foram todos mobilizados ou recebem favores dos donos do poder?
É tragicômico que esse silêncio dos não inocentes, dos que apoiaram a ascensão de Lula até a presidência em breve se transformará em gritos, palavras de ordem, basta os números na planilha terem suas maquiagens derretidas.
Em 2025 não teremos mais dinheiro esquecido para ser confiscado, a arrecadação não subiu e o populismo tende a aumentar substancialmente — e então o silêncio dos não inocentes se quebrará.