É provável que você, leitor, já tenha esbarrado com as seguintes frases “todo capitalista é explorador” ou “tudo que o trabalhador produz é dele”, entre outras besteiras do mesmo nível.
O presente artigo visa demonstrar apenas o que é a teoria da exploração, apresentando uma ou outra incongruência. Haverá outro artigo que tratará diretamente dos erros crassos dessa teoria.
Marx – A teoria da exploração e valor-trabalho
A teoria da exploração foi elaborada por Karl Marx em seu livro “O Capital” que possui três volumes. Para Marx apenas o trabalho humano é capaz de gerar valor e que, portanto, tudo que o trabalhador cria/produz lhe pertence.
Simplificando: quem produz um arco é o proprietário do arco.
Levando esse raciocínio mais à frente Marx afirma que o que advém da natureza, ou que seja capital (máquinas, infraestrutura, etc…) não é passível de gerar valor, pois que não se trata de trabalho humano e, desta forma, deve ser desprezado para fins de valoração daquilo que é/foi produzido.
Seguindo esta lógica o valor das coisas é igual ao tempo de trabalho humano desempenhado. Ou seja, poderia se dizer que um sapato que leva 6 horas para ser feito tem o mesmo valor de uma toalha que leva 6 horas para ser feita.
Aqui é possível verificar a primeira incongruência, aquele trabalhador mais experiente que consegue produzir o sapato em 4 horas, terá um sapato que não pode ser trocado por uma toalha que levou 6 horas para se produzida? Ou, então, um trabalhador iniciante que leve 7hrs para produzir o sapato, terá um produto que vale mais do que a toalha que levou 6 horas para ser produzida? Esse é um problema que Marx até reconhece, mas não responde. Basicamente ele afirma que o valor total do produto nacional terá a capacidade de fazer com que as coisas tenham um valor médio. Entretanto, não se trata do valor médio que é buscado, ou do valor nacional, mas do valor individual de cada coisa. E essa questão do valor individual entre os produtos permanece sem resposta.
Importante ressaltar que Marx atribui à teoria da exploração uma exclusão do trabalho precedente, ou seja, par ase produzir um sapato não se leva em consideração a cadeia produtiva, apenas há uma imputação instantânea dos recursos necessários para produzir o sapato. Basicamente é como se o cadarço, o couro e a sola não tivessem nenhum trabalho feito e acumulado, o que importa é o tempo de junção destes materiais já prontos para a confecção do sapato.
Novamente, é possível ver um erro muito grande desta teoria. Como é possível descartar o trabalho antecedente e a cadeia produtiva? Se um cadarço levar 6 horas para ser fabricado ele valerá a mesma coisa que um sapato? Essa questão é mais uma que acaba sem resposta.
Segundo a teoria como é realizada a exploração do trabalhador?
Voltemos ao sapato.
Um trabalhador para produzir um sapato leva 6 horas e é pago apenas por um sapato produzido, entretanto o seu contrato de trabalho é de 8 horas de trabalho por dia, logo a exploração se dá no montante de 2 horas por dia.
E qual a razão do trabalhador aceitar isso? Simples, pois precisa de trabalho para sobreviver e sabendo disso o capitalista malvadão o explora com uma carga horária maior do que a necessária para produzir um sapato, para assim poder te lucro às custas do trabalhador necessitado.
Nesse ponto há tantos erros lógicos que fica até difícil entender como alguém pode defender uma coisa como essas. Veja, como o capitalista adquiriu o material para fabricar o sapato? Qual o motivo de o trabalhador sempre ser um necessitado enquanto o capitalista é alguém que explora? Como deverá ser pago o salário de quem trabalha mais rápido? E de quem trabalha mais devagar? Se o trabalhador trabalhar apenas para produzir um sapato e ganhar todo o valor desse sapato, como o capitalista vai comprar mais material para produzir mais sapatos? Deixo estes questionamentos em aberto.
Como uma teoria tão ruim se faz tão presente?
Deixo a conclusão para o grande mestre Bohm Bawerk, a qual está contida em seu livro “A teoria da exploração do socialismo-comunismo”.
“Na minha opinião, o fato de que apesar de sua fragilidade interna, a teoria da exploração encontre tanto seguidores, deve-se à concorrência de dois fatores. O primeiro deles reside no fato de a disputa se ter transplantado para um terreno onde fala não só a cabeça, mas também o coração. Acreditamos com muita facilidade naquilo em que desejamos acreditar. […] E tal defesa será feita sem a lucidez crítica habitual nestas mesmas pessoas quando elas analisam uma teoria em suas bases científicas. É compreensível, pois, que tais doutrinas despertem a devoção das massas. As massas não buscam reflexão crítica: simplesmente seguem suas próprias emoções. Acreditam na teoria da exploração porque ela lhes agrada, não importando que seja falsa. Acreditariam nela mesmo que sua fundamentação fosse pior do que é.” (Bohm Bawer, p.16, 2014)
Referências:
Bawerk, Eugen von Bohm. A teoria da exploração do socialismo-comunismo. Campinas-SP: Vide Editorial, 2014.