Dentro do livro A República de Platão, o qual é contado em primeira pessoa por Sócrates, o debate inicial e estopim tem por fundamento a pergunta de um sofista, Trasímaco. Trasímaco contrapondo Sócrates afirma que a justiça é feita pelo mais forte. E que a injustiça é melhor e de maior utilidade, pois que aquele que lhe faz uso tem maiores proveitos do que os justos.
Poderemos dizer que hoje o que mais temos são Trasímacos. A justiça tornou-se um meio de controle, no qual o mais forte pode tudo, inclusive dar mãos a injustiça.
A definição de justiça tornou-se subjetiva, variando e relativizando de acordo com o locutor. Ao fraco cabe apenas o rigor da injustiça travestida de justiça pelas artimanhas dos sofistas relativistas.
A justiça do mais forte dá espaço para a utilização da força sem critérios, sendo apenas a força o paradigma necessário para tanto.
O que é justo?
Malgrado a justiça não tenha um sentido único, que não possua uma definição unânime, que não será capaz de ser determinada a ponto de que se diga: isto é definitivamente justo ou injusto, existem padrões que ajudam a definir e a distinguir o que é e o que não é justo ou injusto.
Uma maneira de definir o que é a justiça é: a justiça não pode ser imposta pela força. Utiliza-se a força apenas para garantir a justiça, mas não para impô-la.
A força é utilizada como última instância para a garantia da justiça, caso seja utilizada como um meio, não falaremos de justiça, mas de qualquer outra coisa.
- Importante destacar que força, no sentido que é atribuído tanto no livro A República, quanto neste artigo, é algo não apenas relacionado a força física, mas também a coação, coerção, impedimento, aquilo que é feito de forma imperiosa visando, apenas, a vontade daquele que “faz justiça” e não do povo.
O justo é essencialmente bom
Ainda que alcançar a justiça não seja fácil e, muitas vezes, não seja proveitoso ao justo, aquilo que deriva da justiça é bom. Em não sendo possível identificar a bondade da justiça no ato, pode ocorrer que tal ato tenha apenas a aparência de justo.
A justiça não está na lei, mas sim no sistema moral e ético que a criou. O costume daquilo que é considerado bom ou ruim é o que dá a conotação da lei. Desta forma, é possível que uma lei feita de forma justa, com base em bons costumes morais e éticos, torne-se injusta quando da aplicação, caso seja feita por sujeitos imorais que desprezam o que é bom.
A justiça feita baseada em vontades e preceitos individuais não merece este nome, mas apenas o nome de injustiça. Aquele que pratica a “justiça” em benefício próprio é injusto. – Aqui pesa muito mais esta argumentação contra aqueles a quem cabe fazer a justiça, porém que a desvirtualizam, tornando-a em injustiça.
Estes Trasímacos são os maiores problemas de uma república, pois que destroem a justiça.
Sócrates com muita assertividade possuía o seguinte pensamento:
“Antes que sofra eu a injustiça do que seja eu a cometê-la.”
FONTES:
A República – Platão
Dos Espírito das Leis – Montesquieu
Política – Aristóteles