Particularmente voltada à compreensão do processo de ensino e aprendizagem, a literatura educacional, dentre outras temáticas, abarca correntes pedagógicas que têm por objetivos esclarecer como se dá a relação entre alunos e professores dentro de uma sala de aulas, bem como analisar o comportamento estudantil ante uma quantidade imensa de informações que precisam ser intelectualmente trabalhadas a fim de assegurar a captação, a manutenção e a recuperação de informações, ou seja, o aprendizado propriamente dito.
Dito isso, registre-se que uma dessas vertentes pedagógicas é o denominado construtivismo. No âmbito dessa corrente pedagógica, uma das reflexões realizadas versa sobre a famigerada construção social do conhecimento, ou seja, a possibilidade de o aluno, sozinho, edificar e assimilar os saberes necessários para a compreensão do mundo em que está inserido enquanto ser social.
Inclusive, na literatura internacional, defende-se que, no construtivismo, ““La construcción del conocimiento implica entonces, una acción deliberada del sujeto que va a aprender, por lo tanto, en este paradigma el estudiante tiene un rol protagónico en la construcción de su propio conocimiento” (CABRERA, 2021, p. 2).
Todavia, assim como ocorre em qualquer área do conhecimento, o construtivismo também é objeto de críticas intelectualmente abalizadas. Um dos críticos do pensamento construtivista é o professor português Nuno Crato, que é licenciado em economia, mestre em métodos matemáticos para gestão de empresas pelo Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa, doutor em matemática aplicada pela Universidade de Delaware, nos Estados Unidos da América, instituição de ensino em que pesquisou e lecionou. Ainda, deu aulas no ISEG, na Universidade de Açores, no Stevens Institute of Technology, e no New Jersey Institute of Technology.
Importa realçar que o professor Nuno Crato também ocupou o cargo de ministro da educação e ciência de Portugal, de 2011 a 2015, oportunidade em que efetuou uma substantiva reforma educacional, sendo agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Assim sendo, o professor Nuno Crato (2020, p. 11-12) designa o construtivismo como uma “corrente pedagógica de inspiração pós-moderna e romântica”, da qual um dos principais precursores foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Segundo esse entendimento pedagógico de viés romântico e pós-moderno, “o aluno constroi o seu conhecimento e essa construção é livre, pois todo o conhecimento seria uma construção social sem correspondência com a realidade objetiva ou com o conhecimento acumulado” (CRATO, 2020, p. 46-47, grifo do autor).
Para Nuno Crato (2020, p. 47), essas afirmativas defensivas de um conhecimento passível de ser socialmente construído, com efeito, “são ideias radicais, abusivas e perigosas”. O autor ainda considera que essas percepções pedagógicas, uma vez levadas a sério, “[…] conduzem os alunos à ignorância, em vez de trazê-los às riquezas matemáticas, científicas, literárias e culturais criadas pela humanidade”.
Em vista disso, a crítica acima exposta se refere à impossibilidade de o aluno construir conhecimento a partir do nada; isso porque “o construtivismo ingênuo pensa que o ensino recapitula a evolução da ciência e que o aluno pode por si só, desde que devidamente libertado ou estimulado, chegar à reconstrução do conhecimento” (CRATO, 2020, p. 66).
Sem a pretensão de exaurir os ensinamentos do referido professor lusitano, pode-se dizer que, a partir da leitura da obra de Nuno Crato (2020), tem-se que a dita pretensão de construção do conhecimento pelo aluno se trata, em verdade, de um equívoco propagado por essa pedagogia romântica, uma vez que o estudante, por meio da educação, há de compreender as riquezas culturais e científicas produzidas no curso da história da humanidade, para, só então, falar-se em elaboração de novos saberes.
Por fim, a despeito de posicionamentos controvertidos, é importante assinalar que, atualmente, a construção de novos conhecimentos é uma realidade razoavelmente viável e, sobretudo, constitui objetivo precípuo a ser alcançado por meio de pesquisas científicas que apresentem ineditismo, desde que respaldadas, por necessário, em saberes historicamente consolidados.
Referências
CABRERA, Gladys Cabrera. Conductismo y constructivismo en la educacíon universitaria. Revista Killkana Sociales, Universidad Católica de Cuenca, Ecuador, v. 5, n. 2, p. 1-5, mayo-agosto. 2021.
CRATO, Nuno. O “eduquês” em discurso direto: uma crítica da pedagogia romântica e construtivista. Campinas/SP: Kírion, 2020.