Por: Caique Nobre
No início do processo civilizatório, o comércio era realizado através da troca direta de bens e serviços, processo popularmente conhecido como escambo. Porém, conforme as sociedades se desenvolviam, a troca direta ainda era um instrumento muito limitado, o que estimulou a utilização de bens intermediários para as relações comerciais, que agora poderiam ser chamadas de troca indireta. A esses bens intermediários damos o nome de moeda (ou dinheiro).
A moeda é uma ferramenta que tem por objetivo facilitar as relações comerciais entre indivíduos, respeitando-se as dimensões de proporção, espaço e tempo.
A respeito da proporção, o dinheiro ele deve ser capaz de intermediar trocas entre bens que não seriam facilmente divisíveis, como imóveis. Em sociedades primitivas, onde o escambo ainda era a única ferramenta de comércio, essas relações comerciais eram muito limitadas. Afinal, como saber o preço de cada bem no mercado em relação a outros bens, se não fosse através do dinheiro?
Em relação ao espaço, a moeda deve permitir que as trocas comerciais não fiquem restritas a determinado ambiente geográfico. Como um indivíduo poderia adquirir uma casa em outra cidade, se o comércio ainda estivesse limitado ao escambo? As dificuldades de transporte dos bens que poderiam ser trocados ofereciam muitos riscos e dificuldades. Sendo assim, a moeda foi capaz de resolver esse problema, pois um bem amplamente aceito em diversas regiões elimina a necessidade do escambo.
Sobre o tempo, talvez a dimensão mais importante e mais difícil de se dominar, o que importa de fato é a capacidade da moeda de manter seu valor temporal – configurando a reserva de valor. Se utilizássemos como dinheiro elementos perecíveis ou de fácil deterioração, dificilmente conseguiríamos poupar para o futuro. É justamente essa capacidade de poupar o valor para o futuro que permite o acúmulo de capital e reduz a preferência temporal dos indivíduos (o quanto se prefere o consumo presente em relação ao futuro).
Ao longo da história, diversos bens desempenharam a função de moeda, tais como:
- Pedras Yap (na região da Micronésia);
- Conchas;
- Sal;
- Colares de miçangas;
- Vidro;
- Metais diversos;
- Metais preciosos;
- Notas promissórias (papel-moeda);
- Dinheiro digital (atualmente).
Funções da Moeda
Para que um bem seja popularmente aceito como moeda, ele deve cumprir de maneira adequada as seguintes funções:
a) Reserva de valor: Propriedade que torna a moeda vendável no tempo, de modo que a expectativa de seu poder de compra aumente ou pelo menos se mantenha estável no futuro. A relação estoque-fluxo, a partir de sua oferta e demanda, é fundamental para que determinada moeda possa ser utilizada como reserva de valor;
b) Meio de pagamento: Uma moeda é utilizada como meio de pagamento com o objetivo de resolver o problema da dupla coincidência de desejos. Solucionar esse problema aumenta as possibilidades de transações bem-sucedidas, pois não será mais necessário o escambo e permuta de produtos e serviços.
c) Unidade de conta: Padrão comum de representação de valor de bens e serviços. Para que uma sociedade adote determinada moeda como unidade de conta, ela precisa oferecer:
- Estabilidade: de modo que seja permitido o cálculo econômico;
- Simplicidade: facilidade de utilização e de interpretação dos valores
Propriedades da Moeda
As funções da moeda só poderão ser bem desempenhadas se o bem escolhido possuir determinadas propriedades:
a) Escassez: A oferta de um bem é limitada e controlada, de modo que não haja excesso e falta. Isso deve se estender a diversas regiões geográficas pois, a exemplo das conchas, as mesmas poderiam ser utilizadas em locais áridos, mas não em regiões costeiras. Isso também explica por que a madeira não foi utilizada como moeda.
b) Fungibilidade: permite que um determinado bem seja intercambiável por outro semelhante. Uma nota nova pode ser trocada por uma velha, e vice-versa.
c) Durabilidade: Quando o dinheiro consegue resistir a danos temporais. Por essa razão que os metais preciosos foram utilizados como moeda, da mesma forma que as Yap Stones, na Micronésia.
d) Portabilidade e Divisibilidade: Propriedades que permitem a vendabilidade do dinheiro em diversas escalas;
e) Infalsificabilidade: Se trata do quão difícil um dinheiro é para ser falsificado. A clipagem era um bom exemplo de falsificação da moeda durante o Império Romano, pois tornava as moedas mais leves do que o peso estampado em sua face. Sendo assim, ouvir o som do dinheiro se tornou uma técnica muito utilizada pelos ourives, de modo que os possibilitava identificar se aquela moeda era pura ou se havia sido falsificada. Surge então o termo sound money para identificar “um bom dinheiro”.
f) Universalidade: Representa a vendabilidade do dinheiro através de outras culturas e regiões geográficas. A digitalização do dinheiro permitiu que as moedas se tornassem cada vez mais aceitas e conversíveis.
Conclusão
A utilização de um bem intermediário – moeda – proporcionou diversas vantagens comparativas, oriundas da especialização nas sociedades. Quando as pessoas especializam seus métodos produtivos, tende a haver um aumento de sua produtividade. Agora, mais e melhores bens são produzidos e podem ser trocados por bens intermediários e de alta liquidez, não sendo mais necessário depender do interesse do mercado especialmente pelos bens produzidos comparados a outros bens. É justamente por isso que o barbeiro não precisa oferecer seus serviços ao padeiro, caso ele queira comprar pães, resolvendo-se assim o problema da coincidência de desejos. Quanto maior a economia, maiores são as oportunidades decorrentes da especialização.