Falar em nome de uma corrente política, esconder-se atrás de uma retórica ideológica pré-estabelecida, distorcer fatos para que caibam em um Modus Pensanti obtuso e incoerente, cuja autoridade intelectual não consegue ascender acima do mais prosaico e periférico ad hominem e das polêmicas da política do dia, tudo isso é muito fácil. E, por isso mesmo, este –e somente este –é o Modus Argumentandi da esquerda, e do–pessimamente escrito e abstruso-texto que analisaremos neste artigo.
Em matéria publicada pelo site Le Monde Diplomatique no dia 13/03, deparamo-nos com uma série de ofensas descabidas, palavras-gatilho e chavões revolucionários, propositalmente aplicados pelo Sr. Giam C. C. Miceli, que orgulhosamente assina esta miscelânea de incongruências, e se apresenta como “professor da Rede de Educação de Itaboraí”, valendo-se de tal prestigiosa (pun intended) titulação como argumentum ad verecundiam. Senão, vejamos em que se baseia a irretorquível erudição do Sr. Miceli:
Críticas a Nikolas Ferreira
A principal estratégia lexical de Miceli é desferir ataques rasos e obsoletos à pessoa do Deputado Federal Nikolas Ferreira, criticando a nomeação deste à Presidência da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, atribuindo-lhe os epítetos de inapto, terraplanista, despreparado e transfóbico, chegando ao extremo de ridicularizar as propostas do Deputado para otimizar a segurança nas escolas. Você, caro(a) leitor(a), que é pai, mãe, avó, avô ou responsável legal por uma criança matriculada na rede pública de educação, atribui maior credibilidade a alguém que –diante do alarmante e cada vez mais crescente número de ataques a escolas –defende a implantação de maior segurança nas escolas onde seus filhos(as) e netos(as) estudam, ou alguém que ridiculariza os esforços louváveis de manter crianças e adolescentes seguros contra atiradores insanos que obtém armas ilegalmente? Nem precisam responder.
Como escreveu o grande intelectual, escritor e crítico político-cultural Eric Hoffer, “provavelmente é verdade que a violência gera fanatismo, assim como o fanatismo gera violência”, e o Sr. Miceli é um claro exemplo disso, pois é quase inexplicável alguém declarar-se contra a segurança nas escolas apenas pelo fato de que foi um deputado da Direita quem o propôs. Afinal, como lemos em matéria publicada pela Folha de São Paulo, a violência nas escolas continua crescendo de forma alarmante, e já tem 60% dos ataques dos últimos 22 anos concentrados no período pós pandemia:
Miceli também mostra inconciliável indignação perante a proposta de Nikolas Ferreira de “uma educação que respeite a vida desde a concepção”, argumentando que o atual modelo educacional já preza pela vida. Será verdade?
Em artigos anteriores (Aborto Legal –Pecado Mortal / Um Suplício Na Política), demonstro que a produção cultural e intelectual nacional sobre o tema, oriunda das universidades públicas, conta com obras como “Sexo se Aprende na Escola” e “Um Útero É Do Tamanho De Um Punho”, trabalhos de vertentes explicitamente revolucionárias e feministas, onde o aborto é abordado como questão de saúde pública, e encorajado como parte de uma pseudo-cartilha que jura defender os direitos humanos. Lembre-se que o corpo docente das escolas públicas brasileiras é formado pela universidade, o que aí também refuta o argumento “Miceliano” de que há pluralidade ideológica na educação. Não é necessária a leitura da obra completa de John Taylor Gatto para sabermos que isto é uma falácia, vistas as recorrentes notícias de professores conservadores hostilizados, expulsos e até mesmo ameaçados de morte em escolas e universidades tupiniquins. Como diria Thomas Sowell, o Sr. Miceli considera a si próprio parte integrante dos “ungidos” esquerdistas, para os quais fatos não têm nenhuma relevância.
De volta à velha “luta de classes”
Antes de qualquer argumentação mais ampla é preciso esclarecer dois conceitos que, mesmo que pareçam entrelaçados entre si, são completamente distintos: Escolarização e conhecimento. O Sr. Miceli confunde os dois termos, ao declarar que “a velha escolinha de ler, escrever e contar ainda está presente”, e que deve ser um “espaço-tempo que proporciona uma série de coisas para a sala de aula além do processo de ensino-aprendizagem”, tendo como função principal a “socialização” de crianças de uma mesma classe social, conduzidas (como diz Miceli) por professores oriundos de ambientes onde calouros são recebidos por veteranos nus.
Se levarmos em consideração as lúcidas palavras escritor, crítico intelectual e historiador literário americano Gilbert Highet de que “a educação começa quando o recém-nascido dá o seu primeiro grito e recebe as primeiras impressões, mesmo antes de poder ver e ouvir de modo perfeito, já estará descobrindo algo novo”, então trancafiá-la em uma sala de aula onde professores doutrinadores que reclamam de seus baixos salários e culpam o capitalismo de todos os males do mundo, certamente não é o ambiente mais saudável para que uma criança desenvolva plenamente sua inteligência, afinal, como prossegue Highet, “ninguém sabe, e ninguém poderá saber ao certo a quantidade de conhecimentos que uma criança deseja, e que possa digerir se lhe for ministrada. Portanto, será perigoso pretender ensinar esta ou aquela matéria sem que se esteja preparado para responder a perguntas relativas a problemas mais elevados”, visto que o corolário intelectual marxista não é o único existente na face da terra, ou sequer o mais sensato.
De volta à velha “luta de classes”
Como todo “bom” (leia-se, péssimo) esquerdista, é evidente que o Sr. Miceli não poderia deixar de desferir críticas infundadas ao homeschooling, atribuindo-lhe o adjetivo de elitista, pois, segundo suas próprias palavras, “sabemos bem que muitas são as famílias que não foram ou foram muito precariamente escolarizadas.” Seria isso motivo suficiente para proibir peremptoriamente o homeschooling para todos? Seria esta a “democracia” que o Estado busca oferecer à população, o nivelamento de todos com base nos menos favorecidos? Como fica a meritocracia em um cenário assim? O direito à liberdade, Art. 5° de nossa constituição.
O Art.59 da LDB –Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-prevê a criação de cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados na educação básica e na superior, “a fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse aluno”. No entanto, contamos com programas de ensino público capazes de integrar jovens superdotados? Ou, mais ainda: Contamos com universidades capazes de preparar docentes para lecionar amplo conteúdo bibliográfico para jovens superdotados? Não.
Dito isso, corrobora-se a tese de Ellen Winner, psicóloga e professora do Boston College, em seu livro “Gifted Children: Myths and Realities”, de que (tradução minha) “crianças superdotadas geralmente brincam sozinhas, e gostam da solidão, têm interesses obsessivos e prodigiosa memória”, e “tais características são um convite a falsos diagnósticos de autismo por parte daqueles que compõem o espectro da irresponsabilidade”, como chamou Thomas Sowell a todos aqueles que acreditam que crianças devem, por obrigação, funcionar segundo parâmetros educacionais coletivistas, massificantes e contraproducentes ao verdadeiro desenvolvimento intelectual de qualquer ser humano, e aqueles que se recusarem a serem guardados na caixinha educacional da esquerda, sofre de algum distúrbio mental. Na óptica da novilíngua Orwelliana, de fato sofrem: “Inteligência é burrice”. Pra esquerda é assim.
Enquanto não tivermos governantes verdadeiramente capazes de reformar a educação pública, as classes menos favorecidas jamais conseguirão obter educação, menos pela incapacidade de seus progenitores de lhes oferecer homeschooling, e sim pela obrigatoriedade de ser “educado” em um sistema que visa menos à doutrinação de suas vítimas, e sim à completa imbecilização e total emburrecimento das mesmas.
Referências:
HOFFER, Eric. The True Believer. New York: Mentor Books, 1958. (Pg. 85)
HIGHET, Gilbert. A Arte de Ensinar. Campinas: Editora Kirion, 2018. (Pg. 22)
SOWELL. Thomas. Ever Wonder Why?. Standford: Hoover Institution Press. (Pg. 306).