Fyodor Dostoyevsky (Moscou, Rússia – 11 de Novembro de 1821 – São Petersburgo, Rússia – 9 de Fevereiro de 1881) foi um dos mais proeminentes escritores do Realismo Russo. Autor de obras imortalizadas nos cânones dos grandes clássicos da literatura universal, além de um ferrenho crítico das filosofias Marxista/ Leninista, tendo seus pontos de vista explicitamente defendidos em obras como Crime e Castigo e Os Demônios, sobre o qual falaremos brevemente neste artigo.
“A um homem é oferecida segurança total, comida e bebida prometidas, e trabalho encontrado, e, contra isso, ele é apenas obrigado a desistir de um minúsculo grão de sua liberdade pessoal pelo bem comum – apenas um minúsculo, minúsculo grão . Mas o homem não quer viver nessas condições, ele acha até mesmo o minúsculo grão muito enfadonho.” *
A Literatura Clássica é uma espécie de Topoi – uma série de “lugares comuns” ou “verdades aceitas” por toda a sociedade – que orientam os comportamentos, escolhas cotidianas, enfim, o Modus Vivendi coletivo, stricto sensu.
Em “Os Demônios“, Fyodor Dostoievsky já expusera que a mentalidade revolucionária, ao ocupar o centro da existência humana de quem por ela permite-se contaminar, conduz o indivíduo às mais insanas e desmedidas ações.
Dostoyevsky utiliza, no supracitado livro, uma das mais poderosas analogias talvez em toda a literatura Russa, ao comparar os militantes anarquistas e revolucionários russos à legião de demônios do Santo Evangelho:
“Ora, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu. Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou. Os porqueiros, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos. Então saiu o povo para ver o que se passara, e foram ter com Jesus. De fato acharam o homem de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo, assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados pelo terror. E algumas pessoas que tinham presenciado os fatos contaram-lhes também como fora salvo o endemoninhado.” — Minha amiga — pronunciou Stiepan Trofímovitch em grande agitação —, savez-vous, essa passagem maravilhosa e… inusitada foi, em toda a minha vida, uma pedra no meio do caminho… dans ce livre… (“A senhora sabe… nesse livro…” (N. do T.)) de sorte que gravei essa passagem ainda na infância. Acaba de me vir à cabeça uma ideia; une comparaison. Neste momento me vem à cabeça uma infinidade de ideias: veja, isso é tal qual o que acontece na nossa Rússia. Esses demônios, que saem de um doente e entram nos porcos, são todas as chagas, todos os miasmas, toda a imundície, todos os demônios e demoniozinhos que se acumularam na nossa Rússia grande, doente e querida para todo o sempre, todo sempre!” *
Segundo Dostoyevsky, demônios podem se manifestar sobre a humanidade de diferentes formas. O que nos conduz à segunda parte deste artigo:
A Literatura Clássica narrou, sob diversas ópticas e hermenêuticas de análise diferentes os fenômenos de desestruturação dos Topoi, as estruturas sociais “normais” e saudáveis, de um ponto de vista calcado no mais prosaico senso comum.
No livro do supramencionado escrito Russo, Os “demônios e demoniozinhos”, assim como na Rússia Czarista de Dostoyevsky, aparentemente desenvolveram um “apetite especial” pela perversão social generalizada, buscando corromper não apenas indivíduos, isoladamente, mas “possuir” o inconsciente coletivo de todo um país. Ocorre aí não mais a possessão demoníaca isolada de indivíduos que deveriam ser “exorcizados” por São Bento, Patrono dos Exorcistas. A “perpetração satânica” ocorre aí em doses homeopáticas, quase imperceptíveis, sistêmicas, sob a aparência de “consciência social” ou qualquer outro verbete da terminologia Marxista.
Uma das formas que os demônios se manifestam, segundo Dostoyevsky, é por meio das ideologias. Tentadoras, atraentes e até mesmo utópicas em sua natureza, geralmente prezando pelo “bem comum da coletividade“, quando na verdade – segundo Dostoyevsky – trata-se de espíritos malignos que acabam infectando toda uma nação, conduzindo-nos à morte, exatamente como os porcos que Nosso Senhor Jesus Cristo permite que os demônios habitem, e que se atiram à morte.
Como disse Santo Tomás de Aquino, “somos como crianças, em necessidade de mestres que nos iluminem e nos guiem; Deus nos presenteou com isso, ao apontar anjos para serem nossos professores e guias.” O problema é que, não raro, os demônios das ideologias não permitem que sejamos guiados pelos anjos. O lobo se alimenta das ovelhas quando os cães de guarda estão presos por coleiras ideológicas. É o que disse Thomas Sowell: “Quem pune os intelectuais“? A história nos mostra que muitos líderes políticos inicialmente aclamados como redentores do povo, posteriormente mostraram suas verdadeiras faces totalitárias.
Dostoyevsky e seu apego ao Tradicionalismo
Dostoyevsky foi, antes de mais nada, um Tradicionalista e um Patriota. Cristão e católico ortodoxo praticante, Dostoyevsky foi um assíduo defensor das liberdades individuais, e acreditava na indivisibilidade do Estado Russo e da Igreja Católica Ortodoxa como uma unidade em cujo fundamento calcava-se todos os princípios basilares da sociedade Russa. Mais do que a preservação de aspectos políticos, Dostoyevsky via na cultura Russa e na conservação (sim, pode-se argumentar que Dostoievsky foi um Conservador, à sua maneira) das fundamentações culturais da Rússia como a base civilizacional que precede – e sempre deve preceder – a política. Visão também partilhada pelo Filósofo e Escritor brasileiro Olavo de Carvalho. Pode-se argumentar que Dostoyevsky antevera traços do que posteriormente viria a compor a filosofia Gramsciana de “destruição e perversão” do Cristianismo e da Igreja Católica, amplamente abordada por Olavo de Carvalho. O único detalhe é que Dostoyevsky escreveu toda sua obra e faleceu dez anos antes do nascimento de Gramsci.
O mal já vem se alastrando pelo mundo há bom tempo, e a literatura demonstra que a destruição dos valores universais e atemporais sempre compôs – principalmente em Dostoyevsky – o “arsenal” dos “demônios e demoniozinhos” da subversão coletiva.
No livro “Nossa Cultura… Ou o que restou dela“, o Psiquiatra Theodore Dalrymple (pseudônimo) faz um compêndio historiográfico e filosófico de como o desprezo pelas tradições, a decadência da cultura, o colapso das leis (que, cada vez mais visam à bandidolatria), as mudanças nos padrões sociais, e a ideologia Marxista de luta de classes e destruição da história em detrimento de valores intelectuais são as reais responsáveis pelo atual status de medo, subserviência e caos que nos encontramos em nossos dias atuais. Dalrymple nos dá valiosas dicas de como nos “exorcizarmos” a nós mesmos por meio da dedicação à vida intelectual, do apreço aos valores éticos e estéticos atemporais e universais, do “filtro” que devemos ter dentro de nós ao consumir quaisquer “produtos culturais“, sociais e midiáticos “modernos“, calcando-nos no que, segundo sua aguçada ótica, realmente tem valor extrínseco e intrínseco ao desenvolvimento da psique e da personalidade humanas.
Para uma análise completa de “Os Demônios” de Fyodor Dostoyevsky e “Nossa Cultura… Ou o que restou dela” de Theodore Dalrymple, assine o nosso conteúdo!