Na década de 80 em decorrência do grande investimento nacional realizado pelos militares, o país afundou-se em um poço de inflação. Com a finalidade de estabilização econômica e financeira deu-se início ao Plano Real, em 1994.
Para a transição de Cruzeiro Real utilizou-se o URV, uma espécie de estabilizador de moeda, que possuía uma cotação fixada em dólar. O período de duração do URV foi curto, de apenas 4 meses, entre 01/03/1994 a 01/07/1994.
O Real foi feito para ser valorizado
Logo no início do Plano Real, havia um forte controle de câmbio, a fim de manter a paridade entre Real e Dolar. Procurando manter a cotação de 1 por 1.
Para tanto, utilizava-se uma técnica chamada SWAP CAMBIAL. Trata-se de uma troca entre moedas, ou seja, compra-se dólar na tentativa de valorizar o Real.
O problema do Real valorizado
Como o Real foi criado para ser valorizado, houve um grande problema no final da década de 90 em relação as exportações. O Brasil estava produzindo e não possuía competitividade em seus preços no mercado externo.
Então, em 1999 buscando melhorar a atratividade do Brasil no mercado internacional, criou-se uma política de Câmbio Flutuante, a qual era pautada na menor intervenção do Banco Central no valor da moeda, permitindo uma desvalorização do Real. Assim melhorando as exportações.
Controle cambial via taxa de juros
Em 1999, quando o câmbio flutuante foi definido, a taxa de juros tornou-se a forma de controle de câmbio. (É uma prática mundialmente utilizada).
Um ano antes de ser definitiva a medida, já havia uma previsão de como seria realizado o controle cambial. Em 1998, a taxa juros foi fixada em 38%, uma demonstração clara do que estaria por vir.
Após a instituição da política econômica de cambio flutuante a taxa de juros chegou a incríveis 45%. Sendo que essa atualização era realizada de forma muito rápida, quase mensalmente. Atuação essa, que era voltada ao controle de câmbio, mesmo que houvesse um “câmbio flutuante”.
A alteração da taxa de juros faz-se necessária pela correlação entre taxa de juros e valorização da moeda, sendo esta diretamente proporcional a aquela.
Taxa de juros baixa, tende a fazer com que o valor da moeda caia.
Taxa de juros alta, tende a fazer com que o valor da moeda suba.
A razão para isso está ligada a capacidade de atrair capital estrangeiro. Quanto maior a taxa de juros, maior o rendimento da poupança, ou seja, deixar o dinheiro no banco se torna lucrativo.
- Importante esclarecer: O Brasil é um país que possui um alto risco de investimento no longo prazo. Não é incomum a presença de políticos que queiram intervir no mercado, retirando a propriedade de empresas, aumentando impostos, restringindo a liberdade econômica a tal ponto, que a melhor forma de atrair capital estrangeiro para o país é via juros alto, pois que o risco de deixar o dinheiro no banco é muito menor do que uma ruptura político-econômica no país.
Desta forma, apesar de o Brasil possuir um câmbio flutuante não é um câmbio livre de controle. Pelo contrário, o Real é uma moeda que possui um controle cambial muito forte, basta ver o relatório histórico, do BCB, da taxa de juros praticada no Brasil.
Paradoxo cambial
Há um grande paradoxo em relação a política cambial. O Real foi feito para ser uma moeda valorizada, porém sua valorização pode ser um empecilho para a economia do país. Logo um real valorizado tem mais efeitos negativos que positivos.
Taxa de juros alta: atrai capital estrangeiro, mas pouco investimento, pois compensa mais deixar o dinheiro no banco do que em investimentos de risco.
Taxa de juros baixa: é melhor para o investimento, porém atrai pouco capital estrangeiro.
Em outras palavras: O Brasil é um país exportador, logo precisa de uma moeda menos valorizada. E em contrapartida, o Real é uma moeda que foi instituída para ser valorizada, logo diminuindo a atratividade internacional.
Nota do autor: sei que pode ser redundante a afirmação sobre o cambio e exportação, mas é algo que tem que ser frisado.
Portanto, é clara a contradição entre a forma de controle cambial e a capacidade econômica do país.
Taxa de juros e dinheiro disponível para empréstimo
E para finalizar, mas não menos importante, a correlação entre taxa de juros e capacidade monetária para empréstimos.
O nexo entre a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos e financiamentos está diretamente relacionado a taxa de juros.
Taxa de juros elevada: mais capital haverá estocado nos bancos, logo mais dinheiro para ser utilizado em empréstimos e financiamentos.
Taxa de juros reduzida: menos capital haverá estocado nos bancos, logo menos dinheiro para empréstimos e financiamentos.
Ou seja, com uma baixa taxa de juros poderá haver restrições ao crédito, ou necessidade de mais garantias, tendo em vista que a quantidade de recursos disponíveis é menor.
Em conclusão, percebe-se que a tentativa de o governo sobrepor sua vontade ao mercado é falha. Será uma eterna queda de braço entre o controle de câmbio e a atratividade internacional, o que gera instabilidade e risco, levando a conta a ser paga pelo cidadão.
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Swap Cambial: o que é, como funciona e qual seu impacto na economia?
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/plano-real
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https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/politicacambial
https://www.scielo.br/j/rep/a/T78zRfcBJ4gQtqmHPLYqffb/?lang=pt
https://www.investopedia.com/trading/factors-influence-exchange-rates/
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