Por: Caique Nobre
O objetivo deste artigo é apresentar ideias que comprovem que não é necessário “distribuir riqueza”, uma vez que não vivemos em uma dimensão estática. Para melhorar o padrão de vida das pessoas, principalmente das camadas mais pobres, devemos estimular instituições que permitam que o sistema seja dinamicamente eficiente, a partir do estímulo ao empreendedorismo.
A palavra “eficiência” é originada do termo em latim efficiens – “extrair algo de”. Em suma, é a capacidade de obter retornos produtivos a partir de determinado esforço, independentemente de sua natureza. Sendo assim, quanto mais retornos são obtidos a partir de um mesmo esforço, maior é a eficiência.
Por muito tempo o termo eficiência esteve ligado predominantemente ao campo da mecânica, na qual poderia ser observada de maneira objetiva ao se comparar o rendimento de máquinas diferentes, nas quais umas eram mais eficientes do que outras em questão de consumo e produtividade. Um exemplo de nosso cotidiano são os nossos automóveis: quanto mais quilômetros rodados por litro de combustível consumido, mais eficiente é o seu sistema. A esse tipo de eficiência, denominamos eficiência estática, isto é, que lida apenas com os “meios dados”.
O objetivo central de um sistema estático é gerir diligentemente os recursos disponíveis, evitando desperdícios. Isso vale não somente para máquinas e equipamentos modernos, mas em certa proporção também para a economia. Ao gerirmos nossos recursos pessoais, buscamos ao máximo evitar desperdícios, isto é, gastar com bens e serviços que não são úteis ou até mesmo que não serão consumidos a tempo, como o caso de alimentos perecíveis. Segundo o filósofo antigo Xenofonte, gerir com eficiência significa manter uma boa ordem “nas coisas de casa” (economia doméstica). Em uma tribo isolada, sem divisão do trabalho e propriedade privada, muito provavelmente a acumulação de excedentes por parte de um indivíduo poderia significar um aumento de escassez para outros (jogo de soma zero). Ao perceberem sua desvantagem comparativa, é possível que surja o sentimento de inveja, associado ao instinto de sobrevivência.
O problema de enxergar o mundo apenas em uma dimensão estática é que limitamos o nosso raciocínio, imaginando que os recursos serão sempre “dados” pelas circunstâncias, e não criados por nós através do empreendedorismo. Isso se equivaleria à noção imaginária (e completamente equivocada) da Economia Uniformemente Circular (Mises, 2020), na qual todas as atividades econômicas funcionam de modo que nenhum valor excedente seja gerado, ou seja, no fundo seria um jogo de “soma zero”, onde para um ganhar o outro teria que perder. Essa é a forma que os economistas neoclássicos, marxistas e intervencionistas enxergam o mundo, pois seguindo a premissa estática, o paradigma não seria como produzir mais e melhores bens, mas sim como realizar a distribuição dos bens disponíveis e “dados” pelas circunstâncias.
O ponto que coloca à prova a dimensão estática aplicada à economia é o fato de que os recursos não são dados pelas circunstâncias, mas são criados e coordenados pelo empreendedorismo. Além disso, diferentemente da área da mecânica, os problemas decorrentes das interações humanas não podem ser resolvidos exclusivamente a partir de equações matemáticas, como no clássico da literatura “Nós”, de Ievguenin Zamiatin (2021), onde até mesmo as preferências subjetivas, devido à sua complexidade, eram representadas pelo personagem D-503 como a “raiz quadrada de -1”.
No mundo real, os indivíduos interagem de modo a alcançar um estágio de satisfação superior ao atual, ainda que suas ações sejam apenas tentativas sem garantia de sucesso, e quando as necessidades mais imediatas são atendidas, outras necessidades surgem. A essas necessidades incompletas, denominaremos “desajustes”. A figura do empreendedor representa um indivíduo que se dedica a identificar as lacunas presentes entre os desejos dos consumidores e as possíveis soluções, com o intuito de lucrar com essa atividade.
Quando desajustes são eliminados pelo empreendedor, outros desajustes surgem, desta vez mais complexos e que requeiram inovação. Esse cenário de constantes mudanças e surgimento de novos desajustes é completamente diferente do escopo estático e mecânico: ele é dinâmico. Sendo a “eficiência” a habilidade de “extrair algo de”, e o empreendedor como o agente que “extrai retornos a partir da eliminação de novos desajustes”, à sua habilidade de identificar, criar e coordenar identificamos como eficiência dinâmica. O caráter dinâmico envolve criar coisas diferentes, através do processo de criação e coordenação empresarial. A especulação, comércio e arbitragem também são fundamentais, pois coordenam o capital para onde sua demanda seja mais urgente.
Eficiência dinâmica, segundo Huerta de Soto, é a capacidade de um sistema econômico de impulsionar a criatividade e coordenação empresarial. Está indissoluvelmente interligado ao processo empresarial, que tem como características fundamentais:
- Gera informação
- É essencialmente criativo
- Transmite informação
- É coordenador
- É competitivo
- Jamais se esgota
Ainda segundo a eficiência dinâmica, indivíduos, empresas e todo o sistema econômico se tornam mais eficientes conforme impulsionam a criatividade e coordenação empresarial. A partir desse conceito, o novo paradigma não é mais sobre “como evitar desperdícios”, mas sim sobre “como expandir as possibilidades de produção”, a partir de novos processos e inovações. Novos fins e meios surgirão, bem como novos desajustes.
Se não existe estímulo a empreendedorismo, ou se as instituições políticas tolhem essa atividade fundamental, o sistema se torna dinamicamente ineficiente. Conforme aponta Huerta de Soto, o respeito à propriedade privada é a premissa fundamental para que um sistema seja dinamicamente eficiente pois, do contrário, bloqueia-se o incentivo mais importante para criar e descobrir oportunidades de ganho, assim como a criatividade e coordenação empresariais que impulsionam a eficiência dinâmica do sistema (2004, p. 40). Regulamentações excessivas e intervencionistas que não respeitem a propriedade privada empresarial podem sufocar o dinamismo do mercado, podendo torná-lo dinamicamente ineficiente.
“O luxo de hoje é a necessidade de amanhã. Todo avanço primeiro surge como luxo de algumas pessoas ricas, apenas para se tornar, depois de um tempo, uma necessidade indispensável para todos.”
Ludwig von Mises
REFERÊNCIAS
HUERTA DE SOTO, J. La teoría de la eficiencia dinámica. Revista Europea de Economía Política, v. 1, p. 11–71, 2004.
MISES, L. VON. Ação Humana: um tratado de economia. 2ª ed. Campinas: Vide Editorial, 2020.
ZAMIÁTIN, Ievguêni. Nós. 2ªed. São Paulo. Aleph, 2021.