“O jornalismo serve apenas aparentemente ao tempo atual. Na verdade, ele destrói a sensibilidade intelectual da posteridade.” – Karl Kraus
Em notícia veiculada pelo site Gazeta do Povo – uma dentre as raríssimas mídias jornalísticas no Brasil que ainda detêm credibilidade e imparcialidade – (06/02/2024), deparamo-nos com o excelente e animador lead: “Milei decreta intervenção em empresas estatais de mídia da Argentina.”
Entendendo o conceito de “propaganda”
Hannah Arendt designa o conceito de propaganda como “um instrumento do totalitarismo, possivelmente o mais importante, para enfrentar o mundo não totalitário.” Ou seja, o que é “permitido” à população “saber” sobre as reais atitudes dos governantes, e que raramente sequer minimamente esboça suas reais intenções, agendas políticas e estratégias de tomada de poder, que contém apenas doses homeopáticas de ideologia para manter as massas anestesiadas, confiantes e calmas, perante as monstruosidades do establishment com as quais não saberiam lidar, caso lhes fossem apresentadas explicitamente.
É óbvio que a propaganda coletivista cumpre diversas funções, e não visa apenas manipular e enganar a população, mas trabalha até mesmo na programação comportamental de suas vítimas. Afinal, como admitiu o próprio Zé Dirceu, “a mídia tem o poder de condenar antes do julgamento”.
Os políticos aprovam as leis que a população deve obedecer, mas é a população quem elege os políticos que decidirão quais leis devem ser aprovadas. E o que pauta as convicções – e a falta delas – sociais e culturais da população é a mídia, o entretenimento de massa. Como escreveu Olavo de Carvalho, “o Código Penal absorve essa distinção, tornando crime a mera apologia do ato criminoso. Se a cultura popular permite ou fomenta o desejo de praticar determinado crime que a polícia ao mesmo tempo reprime, fica declarada a guerra entre a cultura e a polícia, uma guerra que os policiais acabarão perdendo, pois sua mente é formada pela mesma cultura que os envolve e nenhum deles é um gênio capaz de desaculturar a si próprio”. A Rede Globo é o mais notório exemplo disto: Enaltece e homenageia bandidos como heróis, e omite notícias de policiais mortos na luta contra o crime. É premeditado! A linguagem é a base da inteligência humana, o principal mecanismo cognitivo para compreensão da realidade; tolher de um ser humano os mecanismos para que possa desenvolver plenamente seu pleno potencial linguístico –veja nosso artigo “A Era do Engano” –é, além de algo monstruosamente desumano, uma das principais armas de controle das massas. A Novilíngua Orwelliana é real: Substituir termos como criminoso por vítima da sociedade, crime por doença (como fez a Globo com relação à pedofilia), emendas do relator por orçamento secreto, são estratégias extremamente eficazes para distorcer a mentalidade popular. Infelizmente funciona.
“De onde vem essa assustadora inversão das cotações de palavras, homens e crimes na linguagem brasileira? [Da] influência da ‘revolução cultural’ gramsciana que, há 40 anos, contamina de antivalores comunistas –sem esse nome, é claro –os sentimentos e as reações de nossa opinião pública”, escreveu Olavo de Carvalho no livro “A Nova Era e a Revolução Cultural”, publicado em 1993. De lá para cá, nada realmente mudou, e a mídia tradicional continua operando em uníssono aos interesses da mesma e velha elite política esquerdista de sempre, lutando brava e pacientemente para subverter os valores conservadores do povo brasileiro. É a hiper-realidade da qual nos falou Jean Baudrillard, que tem como principal prerrogativa “nos manter em massa integrada”, amorfa e inerme.
A Era da Retórica
No livro “Aristóteles em Nova Perspectiva”, Olavo de Carvalho expõe o conceito dos 4 Discursos de Aristóteles, argumentando que “a retórica tem um propósito puramente prático; ‘não constitui um trabalho teórico’ e sim ‘um manual para o orador'”. O manual de como hipnotizar as massas, mantê-las dóceis às determinações da elite política, por mais contraproducentes que sejam a seus próprios interesses, por tratar-se de um discurso que “parte das convicções atuais do público, sejam elas verdadeiras ou falsas, e procura levar a plateia a uma conclusão verossímil”.
É óbvio: A mídia, aparentemente independente e compromissada para com a verdade, induz o público a percepções pontuais, e o político, em seu discurso retórico, posteriormente encarna tais percepções. É um método já velho e datado, mas que ainda causa inúmeros danos na política brasileira. Quem paga a conta é o povo, que após descobrir que fora (mais uma vez) enganado, diz que “sempre souberam que a afirmação (do político que as enganou) era falsa, e admiram o líder pela grande esperteza tática”. No Brasil, boa parte da militância petista já admite que Lula jamais conseguirá cumprir suas promessas de picanha e cerveja, mas que era necessário tirar Bolsonaro do poder. É assim que eles pensam. Eis o poder do discurso retórico, que, como brilhantemente resumiu Friedrich Hayek, “torna a existência impossível; comprime, enerva, sufoca e entorpece um povo, até que cada nação seja reduzida a nada mais que um rebanho de animais industriais, cujo pastor é o governo – […]Servidão metódica, pacata e suave, […] pode ser combinada com mais facilidade do que em geral se pensa, com alguma forma aparente de liberdade, e que pode estabelecer-se sob as asas de uma falsa soberania popular”. É o método no qual o povo escravizado é levado a acreditar que é livre, pelo próprio discurso que o escraviza; ou, nas palavras de Milton Friedman, “as medidas que, através do governo, forçam as pessoas a agirem contra seus próprios interesses imediatos, com intuito de promover um suposto interesse geral”.
Onde Jair Bolsonaro errou?
O filósofo, escritor e professor Olavo de Carvalho alertou: “O governo Bolsonaro não sabe desarmar seus inimigos” https://www.gazetadopovo.com.br/republica/breves/governo-bolsonaro-nao-sabe-desarmar-inimigos-afirma-olavo-de-carvalho/amp/
Na matéria publicada pela Gazeta do Povo ainda em 2019, ao final do primeiro ano de mandato do então presidente Jair Bolsonaro, Olavo disse ainda que “no meio de tantas medidas econômicas úteis e tantas obras públicas notáveis, [o governo] não teve tempo nem a coragem de fazer um filmezinho anticomunista sequer”. Parece exagerado por parte do saudoso Olavo de Carvalho –que inclusive, à época, foi fortemente criticado pela ala positivista do governo –elevar a guerra cultural como uma das prioridades do governo; mas, para variar, o Professor tinha razão.
No livro “Guerras Híbridas”, o jornalista norte-americano da Sputnik News, Andrey Korybko, nos apresentação conceito de revolução colorida, e a real importância da mídia para obtenção e manutenção da hegemonia cultural, sendo esta conditio sine qua non para a conquista e preservação do poder político:
“As revoluções coloridas são um dos mais novos modelos para a desestabilização do Estado. Elas permitem que atores externos manifestem negações plausíveis quando acusados de interferir ilegalmente nos assuntos domésticos de um Estado soberano, e a mobilização em massa do ‘poder do povo’ faz delas altamente eficazes na óptica da mídia mundial.”
Jair Bolsonaro foi duramente atacado durante a pandemia da Covid-19, sendo rotulado de negacionista, antivacina, e até mesmo genocida, mesmo atuando de maneira exemplar perante diversos outros chefes de estado do mundo todo.
Korybko explica como é a atuação da mídia para destruir, com auxílio de políticos e entidades financeiras cúmplices, a reputação de um político:
Financeiro –> Mídia: financia a cobertura da mídia;
Social –> Mídia: as instituições/organizações oferecem um assunto tangível e legítimo para pautar;
Informação –> Mídia: os veículos de mídia usam as informações fabricadas pelas instituições/organizações
V –‘O acontecimento’
Uma revolução colorida só pode ser oficialmente iniciada após um ‘acontecimento’. Esse acontecimento deve ser controverso e polarizador (ou ao menos retratado dessa maneira) e liberar toda a energia acumulada do movimento. O movimento manifesta-se fisicamente da maneira mais pública possível, e todas as suas partes atuam em sua máxima capacidade possível. O acontecimento é o ‘chamado a público’ do movimento e é o gatilho da revolução colorida.
Os ataques sistêmicos da mídia contra Jair Bolsonaro, as manifestações do grupo Black Lives Matter, os selos de “Antifascista” nas redes sociais, a militância organizada pedindo “vacinas já”, NADA DISSO foi mero acaso. Foi tudo meticulosamente planejado!
É óbvio que a mídia hoje é um instrumento do totalitarismo internacional globalista, financiada por pessoas como George Soros, Lemann e outros metacapitalistas; “Essas mídias cujos donos são bilionários”, como escreveu o ex-presidente americano Donald Trump no livro “Make America Great Again”, amídia que “não está tentando oferecer às pessoas uma justa representação dos assuntos importantes. Ao invés disso, estão tentando manipular as pessoas –e as eleições –a favor dos candidatos que querem ver eleitos”, ainda segundo Trump.
Bolsonaro deixou de fazer o que Javier Milei está fazendo neste momento: Atar as mãos dos inimigos mais perigosos de qualquer democracia que se preze: A mídia financiada pelo estamento político revolucionário-globalista.
Por isso é necessária a criação e divulgação das mídias alternativas de combate ao totalitarismo da mídia marrom, que busca a dominação hegemônica da realidade, pois como nos disse o filósofo e jurista iluminista Jeremy Bentham, em suas belíssimas palavras: “Na proporção em que se desenvolve a individualidade, cada pessoa se torna mais valiosa para si mesma, e, portanto, capaz de ser mais valiosa para os outros.”
Para uma análise mais ampla do livro “Guerras Híbridas” de Andrey Korybko, siga Saber Virtuoso!
Referências:
KRAUS, Karl. Aforismos. Porto Alegre: ARQUIPÉLAGO EDITORIAL LTDA, 2010. (Pg.38)
ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo.
DIRCEU, Zé. Memórias Volume 1. São Paulo: Geração Editorial, 2018. (Pg. 303)
CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural. Campinas: Vide Editorial, 2014. (Pg. 87)
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio D’água, 1991. (Pg. 89)
CARVALHO, Olavo de. Aristóteles em Nova Perspectiva. Campinas: Vide Editorial, 2013. (Pgs. 18, 50, 57)
HAYEK, Friedrich. O Caminho da Servidão. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990. (Pg. 20)
FRIEDMAN, Milton. Capitalism and Freedom. Chicago: The University of Chicago Press, 2002. (Pg. 200)
KORYBKO, Andrey. Guerras Híbridas. São Paulo: Expressão Popular, 2015. (Pgs. 124, 128)
TRUMP, Donald. Make America Great Again.New York: Balantine Books, 2015. (Pg. 15)
DALRYMPLE, Theodore. Em Defesa do Preconceito. São Paulo: É Realizações, 2015. (Pg. 52)