“Cogito ergo sum.” – René Descartes *
“A existência precede a essência.” – Louis Lavelle (frase erroneamente atribuída originalmente a Jean-Paul Sartre)
Você já deve ter se deparado com esta impressionante e belíssima imagem de um homem que, mesmo em meio a uma multidão de simpatizantes de Adolf Hitler e do Partido Nacional Socialista saudando o genocida austríaco, recusou-se a saudá-lo.
Segundo o site Bill of Rights Institute **, trata-se de do operário August Landmesser (1910 -1944) recusando-se a fazer a saudação nazi no lançamento de um navio de treino naval em Junho de 1936, na cidade de Hamburgo, Alemanha. Landmesser, que havia previamente aderido ao Partido Nacional Socialista de Adolf Hitler e Joseph Goebbels em 1931, foi expulso em 1935 e cumpriu pena de prisão pelo crime de Rassenschande (desonra da raça), quando casou com uma mulher judia. Depois de ter sido libertado, recusou-se a saldar o então já Führer Adolf Hitler, sendo convocado a servir na Segunda Guerra Mundial, e acredita-se que tenha sido morto em combate em 1944. A sua mulher foi levada pela Gestapo (polícia política nazi) e enviada para três campos de concentração diferentes. Acredita-se que ela tenha sido morta no Centro de Eutanásia de Bernburg, em uma câmara de gás. Os dois filhos do casal Landmesser sobreviveram à guerra.
Landmesser, que era um operário e não um soldado, foi condenado à morte no front de batalha. Condenado a morrer pelos ideais Sociali-nacionalistas de uma elite política que também matou brutalmente sua amada esposa, e que jamais representou seus ideais políticos. Landmesser foi condenado a matar aqueles que lutavam pela sua liberdade, e pela liberdade do povo alemão contra a tirania Nacional-socialista – por exemplo, o exército Britânico, liderado por Winston Churchill – e a morrer em nome de genocidas que foram responsáveis pela morte da mulher que amava, e com os quais jamais compactuou.
Sócrates disse que são exatamente as características mais superficiais que expõem as convicções mais profundas da essência individual de um ser humano. August Landmesser não pôde esconder a nobre essência de alguém que jamais se curvaria às imposições absurdas de um tirano socialista insano como Adolf Hitler. Mesmo ao preço de sua vida.
Muitos dizem que Landmesser foi um imbecil por não se curvar aos ditames de Hitler, e assim poder preservar sua vida como operário.
É uma questão de percepção: Ao mesmo tempo em que o absurdismo do meio “ofusca” as percepções individuais, pode também tornar convicções pessoais ainda mais nítidas! É a epítome da definição Hegeliana de que a “essência de uma coisa é aquilo em que ela se torna.” Landmesser havia, como supramencionado, sido membro do Partido Nacional Socialista Alemão. Porém, para corroborar a tese Hegeliana, sua essência corajosa o compele ao não-conformismo perante a monstruosidade totalitária.
O coletivismo busca impor uma visão incontestável e intransponível da realidade, onde o meio imediato e medíocre expele e condena ao fracasso e à morte aqueles que ousarem contestá-lo e não lhe oferecerem total subserviência. Landmesser é um dos mais notórios casos de bravura e resistência à alienação coletiva.
O senso de não-pertencimento à coletividade pode levar um ser humano à depressão profunda. Os seres humanos, já dizia o psicólogo canadense Jordan Peterson, são “extremamente sociais“. Ser “parte” de um determinado meio social, stricto sensu, é o que caracteriza a vida humana em si mesma. Mas, o quê fazer quando o meio social em si é obtuso, limitante ou até mesmo violento, como no caso da Alemanha Nazista?
Vários autores, desde Aldous Huxley em “Regresso ao Admirável Mundo Novo” a Ludwig Von Mises em “Marxismo Desmascarado“, para citar apenas dois exemplos, argumentam que “a verdadeira inteligência é intrinsecamente individual“, e não um “ente coletivo” como acreditam os Marxistas. Thomas Edison descobriu a lâmpada incandescente, e após sua maravilhosa façanha, buscou informar a todos os americanos sobre sua prodigiosa invenção, e não o contrário! Não foi o povo americano quem inventou a lâmpada e posteriormente informou a Edison sobre tal avanço tecnológico. Similares anedotas encontram-se circunscritas em pouquíssimos livros de altíssimo valor.
Existe, por mais que os relativistas tentem ocultar tal fato, uma realidade objetiva a ser desvendada e apreendida; um conhecimento real, cuja intelecção dependerá, segundo Aristóteles, de algo que Edmund Husserl chamou de “nexo causal“, um “ferramental intelectual” que lhe permitirá reconhecer a essência correta do objeto em questão, assim como a luz – tanto a do sol quanto a de Edison – pode nos propiciar captar visualmente as corretas dimensões e proporções diamétricas de um objeto concreto, sendo ela mesma um “objeto em si“, como nos explica o Professor Olavo de Carvalho no livro “Inteligência e Verdade.” Landmesser teve, à luz do amor que nutria por sua esposa judia, a percepção real da bestialidade nazista e do verdadeiro sentido da palavra “liberdade“.
O exercício da vida intelectual é a “luz” que nos possibilita apreender características do “real” de forma cada vez mais correta e minuciosa.
Sem uma “luz própria” e eficaz que nos permita distinguir acertadamente entre conceitos corretos e equívocos, seremos, inevitavelmente, conduzidos, inermes como gado ao matadouro, pelas vontades e anseios de pessoas maledicentes, que conhecem a Verdade, mas assim como Lucifer, a odeiam veementemente (veja nosso artigo sobre a obra literária “Paraíso Perdido” de John Milton: https://sabervirtuoso.com.br/paraiso-perdido-e-a-mentalidade-revolucionaria/) e dedicam suas vazias existências à tentativa de cobrir Sua luz com sombras de maldade, ódio e ignorância. Geralmente, revolucionários e líderes totalitários, como Ernesto “Che” Guevara, Joseph Stálin e o próprio Adolf Hitler, cujo respeito à tão preciosa individualidade humana é nulo. As pessoas saudando Hitler ao redor do bravo Landmesser, mesmo inconscientemente, são o mais nítido exemplo do intelecto vencido pelo mal, cuja força foi derrotada pelas sombras da subserviência cega. São os “cordeiros” dos quais fala Olavo de Carvalho no excelente ensaio sobre o filme “O Silêncio dos Inocentes“, “incapazes de desenvolver qualquer potencial, seja para o bem ou para o mal.”
No entanto, Landmesser ainda é lembrado como um exemplo de resistência, mesmo quase 80 anos após sua morte. Seu exemplo ainda instiga e emociona bilhões de pessoas pelo mundo.
Há, na história da humanidade, exemplos de grandes homens e mulheres que resistiram à violência totalitária, dispostos a entregar suas vidas em nome da Liberdade. Uma menção honrosa neste artigo deve ser atribuída à jovem Anne Frank, sobre quem falaremos detalhadamente em outro artigo.
Outros exemplos são o filósofo francês Louis Lavelle e o Psicanalista de origem Austro-Judáica Viktor Frankl.
“O ser humano não é completamente condicionado e determinado; ele mesmo determina se cede aos condicionantes ou se lhes resiste. Isto é, o ser humano é auto-determinate, em última análise. Ele não simplesmente existe, mas sempre decide qual será a sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte“, disse-nos Viktor Frankl no livro “Em busca de Sentido“, e é difícil duvidar de um homem que saiu de um campo de concentração nazista pesando 25 kilos, e posteriormente atingiu reconhecimento mundial por sua genialidade.
O mesmo pode-se dizer de Louis Lavelle, que também foi prisioneiro em um campo de concentração durante a Primeira Guerra Mundial, e ministrava cursos de filosofia – como menciona Olavo de Carvalho – dentro do próprio campo no qual era mantido cativo.
“Existem espíritos transparentes que deixam passar toda a luz que recebem; outros que, semelhantes a espelhos, a remetem inteiramente à sua volta; outros, enfim, que, como corpos opacos, a enterram em suas próprias trevas. Cada espírito procura, a fim de habitá-la, a zona de luz que lhe convém: poucos podem sustentar a luz pura; alguns se comprazem nas oposições mais violentas entre a sombra e a claridade; outros preferem a penumbra ou a claridade difusa“, escreveu Louis Lavelle no livro “A Consciência de Si“, e podemos afirmar que, assim como Hitler e os nazistas e simpatizantes que o saudaram em Hamburgo no ano de 1936, muitas pessoas vivem na “penumbra” da ignorância como Modus Pensanti, da doutrinação da mídia tradicional, da educação de castas, do ativismo judicial e da militância ideológica imbecilizante, acreditando piamente estarem “livres“.
Viver no caminho da luz requer coragem. É a sublime “preservação do espírito” da qual nos fala Louis Lavelle. Enquanto as sombras escondem nossas fragilidades e imperfeições, a luz nos expõe aos julgamentos do mundo, forçando-nos a superar nossas limitações e a fortalecer nossas fraquezas. A luz machuca os olhos inadvertidos, enquanto as sombras são, muitas vezes, aconchegantes. Mas, somente a luz tem o poder de nos elevar à condição de conhecedores da Verdade, tanto sobre os outros, quanto sobre nós mesmos, e até sobre a luz em si mesma.
Fica uma reflexão aos leitores deste exíguo artigo: Qual é a sua escolha? Esconder-se nas sombras das mentiras ideológicas dos oportunistas que odeiam a Verdade? Ou buscar o brilho luminoso da liberdade?
Pessoas como August Landmesser, Winston Churchill, Viktor Frankl e Louis Lavelle são ainda hoje lembrados como heróis, pessoas que encontraram na luz da verdade, da individualidade e da própria personalidade a espada contra o monstro sombrio do coletivismo ascético, que a todos nós busca devorar. Por mais que as trevas pareçam às vezes tentadoras, lembrem-se:
O outrora “temível” Adolf Hitler suicidou-se, como um covarde.
* Penso, logo existo.
** https://billofrightsinstitute.org/activities/courage-august-landmessers-courage-refusal
Por: Pablo Navarro | Os valores que um indivíduo carrega são exatamente aquilo que ele é.