Circula na Internet um pequeno filme de Steve Cutts, ilustrador e animador britânico, que tem em seu currículo trabalhos realizados para grandes marcas como Coca-Cola e Rebook.
A animação, que atraiu os olhares para Cutts chama-se “Happiness” (Felicidade), e expõe uma forte crítica ao estilo de vida moderno das grandes cidades.
O curta-metragem em formato de fábula empresta o conceito central da expressão “rat race” (corrida de ratos) que, segundo o Dicionário de Cambridge, designa “um estilo de vida moderno no qual as pessoas competem exaustivamente entre si por dinheiro e poder.“
O filme supostamente traz consigo uma crítica ao “capitalismo” que, na hermenêutica Marxista, é o grande “culpado” por todos os “males” do mundo: Miséria, desigualdade, criminalidade, segregação social, racismo, opressão patriarcal, dentre dezenas de outros termos oriundos da “intelectualidade esquerdista”.
No entanto, seria o termo generalizado “capitalismo” o verdadeiro culpado por todas as augúrias do mundo moderno? Seria a resposta para todos os males uma planificação radical de todos os indivíduos humanos? Seria o remédio para a “desigualdade capitalista” a “distribuição igualitária da miséria” socialista, como pontuou Winston Churchill?
É o que disse o economista Milton Friedman: “acredito em uma sociedade que preza pela liberdade de seus indivíduos, onde cada indivíduo, buscando seus objetivos particulares, possa colaborar com seus semelhantes, e não apenas em âmbito econômico.”
Será uma “corrida de ratos” realmente algo a ser preterido em detrimento de uma realidade sócio-econômica na qual os ratos recebem migalhas do Estado interventor e pseudo-assistencialista, e aí não têm mais necessidade (ou sequer possibilidade real) de “correr“, seja para onde for, pois estão presos? A pandemia da Covid nos deu uma pequena amostra do que é o totalitarismo.
Não seria, como observamos nas sensatas palavras de Milton Friedman, a “corrida” algo que, dentro de um determinado contexto, pode ser positiva aos seres humanos? Aliás, ter para onde correr é melhor do que ser condenado à gaiola do controle Estatal extremista.
A realização humana e o chamado vocacional
O final do filme supramencionado termina com o rato que adquiriu qualidades humanas, “preso” por uma ratoeira que tem como isca uma nota de dinheiro, aludindo à “escravidão” do trabalho remunerado. A referência Marxista ao conceito de mais-valia aí é explícita, como se o ratinho tivesse sido aprisionado por sua própria ganância capitalista, tendo como “moeda de troca” imediata apenas sua força de trabalho, estando portanto em desvantagem.
De fato, como nos diz Aldous Huxley em “Regresso ao Admirável Mundo Novo“, os avanços tecnológicos e o gigantesco aumento populacional dos séculos XX e XXI de certa forma plastificaram as dinâmicas de produção e consumo, inevitavelmente afetando também as dinâmicas de trabalho e convivência humanos. Como acertadamente pontuou Aldous Huxley, a vida nas grandes cidades “reduz o homem a uma mera ferramenta social, extraindo dele sua humanidade e uma maior profundidade nas relações interpessoais“, em uma paráfrase mais adaptada ao nosso contexto atual.
No entanto, o que este pequeno filme Marxista falha em demonstrar é que, por mais que a tal “corrida” tenha em alguns o efeito de transformá-los em “ratos”, ou qualquer outro ser desprovido das qualidades inerentes aos seres humanos, nem todos permitem que o mundo ao redor lhes imponha a decadência como conditio sine qua non à sobrevivência. Afinal, como nos disse Ludwig Von Mises, notório defensor da tal “corrida de ratos”: “O valor não está nos bens materiais. Está em nós; está na forma como os homens reagem às condições do ambiente. O valor também não está em palavras ou doutrinas, está refletido na conduta humana. Não é o que grupos de homens dizem sobre valores que conta, mas como eles agem.“
“Ramos secos: Assim são aqueles que pronunciam palavras sem jamais agir“, diz-nos Santo Tomás de Aquino. A realidade capitalista moderna pode não ser a ideal, mas sua substituta é uma efêmera utopia, veneno travestido de remédio, cujos efeitos colaterais são muito mais nocivas do que a moléstia que pretende tratar.
Seja em ritmo “lento” ou “acelerado“, como no filme do Sr. Cutts, que presume “resgatar” as “pobres almas” presas em “ratoeiras ideológicas” de que são exploradas por um “sistema opressor“, mantém-se irrefutável a frase do icônico economista Norte-americano, Dr. Thomas Sowell: “Acreditar na responsabilidade individual destruiria qualquer prerrogativa especial dos ‘ungidos’, cuja visão lhes coloca na posição de ‘salvadores das pessoas tratadas de forma injusta pela sociedade.” Hipocrisia alguém como o Sr. Cutts, que vive do suor de seu trabalho – mais ainda, de sua vocação à arte – reduzir pessoas cujas vocações são outras, talvez menos “glamourosas“, mas não menos importantes do que a dele. Aliás, certamente muito mais importantes.
Enquanto corremos, estamos vivos! É quando paramos de correr, e nos rendemos às promessas de que alguma outra pessoa – principalmente um político – fará isso por nós, e que nossas existências perdem o sentido. Que não percamos o ritmo, e continuemos correndo com bom ânimo! Nem todos os outros corredores estão na corrida para nos derrotar, e não raro, alguns nos ajudam a levantar quando caímos, esperando pouco ou quase nada em retorno por isso.