Assim, a coragem deve ser uma espécie de conhecimento ou sabedoria. Se a coragem é uma espécie de conhecimento, ela é o conhecimento de que? – Sócrates.
Sócrates, como sempre, muito questionador, fazendo com que a própria pessoa tente entender e aprender por via do raciocínio.
Então, que tipo de conhecimento é a coragem?
Todos temos de enfrentar nossos problemas, inclusive, a poucos passos de um abismo. Será necessária muita coragem para agir, pois ficar à beira de um abismo não é muito agradável. Muitos irão preferir cair de olhos fechados, esperando uma queda infinita, enquanto muitos outros estarão lá de olhos abertos, quase caindo, à beira do precipício, para salvar suas vidas.
Mas como saber se a ação é uma manifestação de coragem ou imprudência?
Partindo da premissa de Sócrates é possível retirar uma informação muito importante: a coragem é uma forma de conhecimento, portanto, a coragem é passível de ser aprimorada, de valoração e aplicabilidade.
Passemos então as variáveis que podem ser definidas com o maior alcance para as diversas situações:
1 – Perigo;
2 – Causa;
3 – Chance de êxito;
4 – Chance de falha;
5 – Riscos envolvidos;
6 – A importância e o valor daquilo que se defende e o custo para o enfrentamento.
Após a análise de todas as variáveis, será possível dizer se há ou não coragem.
Vale ressaltar que nem sempre é possível a racionalização devido a instantaneidade do ato. Com a necessidade de uma reação imediata o que se pode levantar é: qual as condições de valor que a pessoa possui?
Para tanto, Sócrates dá a seguinte resposta:
“O conhecimento do passado, do presente e do futuro não são diferentes, mas o mesmo tipo de conhecimento. Assim a coragem não é simplesmente o conhecimento de coisas temíveis e de coisas promissoras, mas o conhecimento de todas as coisas, incluindo aquelas que estão no presente e no passado. Um homem que possuísse tal conhecimento não poderia ser descrito como de pouca coragem, mas também não poderia ser descrito como carente de quaisquer das outras virtudes, como a justiça, a piedade ou a sobriedade.”
Com esta explicação fica mais fácil entender os requisitos da coragem. O conhecimento daquilo que o cerca dá a devida noção de como agir.
O agir pautado na coragem carrega consigo a esperança, neste sentido tanto Sócrates como Aristóteles convergem em perfeita simetria:
Sócrates: “O medo é produzido pela antecipação de coisas más, mas não por coisas más que aconteceram ou estão acontecendo. Ao contrário, a esperança é produzida pela antecipação de coisas boas, ou pela antecipação de coisas não más.”
Aristóteles: “O covarde é, portanto, um tipo de homem sem esperança, pois ele teme tudo. Para o homem corajoso, é exatamente o contrário, pois sua confiança é a marca de uma disposição voltada para a esperança.”
A soma destes dois pensamentos pode indicar o seguinte: a coragem está para aquele que sabe das consequências e perigos que irá enfrentar, assim como os atos necessários a serem executados. Enquanto a covardia, está para aquele que não sabe ou não vê a consequência e os riscos de seus atos, inclusive de sua falta de agir.
A junção do conhecimento com a esperança tem a capacidade de criar uma coragem inabalável, real, que não terá situação que lhe seja tão ruim que não possa ser enfrentada.
A coragem é um combustível para a vontade humana, abrindo espaço para o seu próprio futuro.
A coragem é a demonstração do respeito que temos pelas nossas vidas e por aqueles que deram suas vidas por nós. Reconhecendo o passado, defendendo o presente e propiciando um futuro.
Covardes viverão apenas enquanto a vida durar. Corajosos viverão nas lembranças durante tanto tempo quanto durar seu legado.
Seja como for, a coragem é uma virtude, enquanto a covardia é um vício.
Fontes:
O mundo de Platão (livro)
Ética a Nicômaco (livro)
Que chacoalhada , excelente!
Davi: sua coragem em avançar contra Golias veio da plena convicção de que o Deus dos Exércitos estaria o auxiliando. A esperança de Davi estava depositada no Altíssimo. Paulo: sua força e coragem para passar por calamidades demasiadas aqui na terra era a esperança de que as aflições deste mundo não pode ser comparada com a Glória que há de ser revelada.