Inflação, grosso modo, quer dizer que os preços subiram. Agora, quais são os fatores que causaram uma elevação nos preços? A simples alta de preços pode ser momentânea, de curto prazo, não tendo força de alterar substancialmente o poder de compra. E, também, há uma elevação de preços que dura por longos prazos, ou por tempo indeterminado, duradouros, sendo este o fato que realmente importa.
Elevação de preços momentânea ou de curto prazo
Alguns bens de consumo, principalmente alimentos, sofrem com sazonalidade, isso faz com que em determinados períodos alguns produtos sofram elevação de preço.
- Podemos utilizar como exemplo, a saga do tomate. Por várias vezes teve o seu preço aumento a quantidades altíssimas. Inclusive chegando ao ponto de surgirem piadas sobre fazer churrasco de tomate.
Essa duração de um preço mais elevado, via de regra tem curto prazo, geralmente alguns meses, com os preços voltando ao normal assim que a próxima produção esteja pronta.
Estes picos de preço tem a capacidade de alterar os dados da inflação mensal, porém não há um aumento significativo durante o ano. Assim que baixarem os preços haverá uma deflação em relação a este produto em específico, podendo ser possível zerar a inflação no período mensal ou anual.
Além dos alimentos é possível analisar este fenômeno em outros segmentos da economia. Aconteceu com o setor de eletrônicos entre os anos de 2020 e 2022. A pandemia foi um dos fatores preponderantes, mas não o único. Houve, também, uma falta de insumos para a produção de chips de computadores e de alguns metais, iniciando uma supervalorização de todo o setor que dependia destes insumos.
- O setor de placa de vídeos, uma peça de computador, teve um aumento de, em alguns casos, até 300%.
Atualmente os preços estão normais, inclusive alguns produtos de informática estão com preços de venda abaixo do preço de custo. Ou seja, o produto é vendido com prejuízo.
Pode-se dizer, então, que existem produtos que possuem uma maior volatilidade nos preços, mas não que isso essencialmente, seja uma forma de inflação capaz de criar uma base de preços duradoura.
- Atualmente o setor de produção de chips computacionais teve uma superprodução puxando os preços de diversos produtos para baixo.
Elevação dos preços por um longo prazo
Apesar de alguns economistas defenderem uma inflação de aproximadamente 2% ao ano como benéfica, trata-se de uma inflação que será acumulada ao longo do tempo.
- Para facilitar façamos um cálculo simples, este cálculo estará abaixo do cálculo real, tendo em vista que a forma correta seria uma forma de cálculo composto, similar a aquele que é utilizados para fazer cálculos de juros composto. Para tanto, imagine um país que tenha 2% de inflação anual por um período de 10 anos. Ao longo de 10 anos, na forma de cálculo simples, haveria uma inflação de 20%. Portanto, em dez anos é provável que o custo de vida seja elevado em no mínimo 1/5 do que era a 10 anos atrás. Um produto que custava 10 reais passará a custar 12 reais.
- Como exemplo de cálculo, utiliza-se no presente artigo, a analogia entre juros e inflação, como se a inflação fosse uma espécie de juros que a pessoa teria de pagar pelo resto da vida, nunca sendo abatido. O juro simples, que é o cálculo utilizado no exemplo acima, é com base apenas no capital, não havendo somatória dos juros acrescidos em períodos anteriores. Já o juro composto se dá com a soma dos juros ao capital sendo adicionado a cada período subsequente.
A inflação, de forma mais didática, possui um cálculo de juros composto, por este motivo que uma inflação de 2% ao ano por um período de 10 anos, será superior a 20%. Contudo, como o intuito do presente artigo é demonstrar os danos causados pela inflação no longo prazo, a base de cálculo na forma simples, de certa forma, pode ser uma maneira eficaz de demonstrar a desvalorização da moeda.
Qual a inflação acumulada no Brasil desde o início do plano real?
A tabela abaixo trás o levantamento de todos os acúmulos em períodos anuais da inflação desde o plano real.
Agora vem a parte onde será possível notar a diferença entre o cálculo simples e o cálculo composto. A inflação total em cálculo simples é pouco mais de 187%, um número já bem elevado, considerando que o plano real é de 1994. Para piorar, calculando a inflação de forma de cálculo composto, chaga-se a incríveis 653%, no período acumulado de 1994 a 2021.
Com este dado é possível extrair a informação de que R$ 100,00 em 2021 equivalem a apenas R$ 13,95 em 1994.
- Literalmente, o poder de compra foi derretido.
Além do valor preço que sobe, há a desvalorização da moeda
Já que o dinheiro perdeu muito do seu poder de compra, é por óbvio que flutuações no preço dos produtos são muito mais sensíveis. As flutuações sazonais tornam-se mais penosas ao bolso, criando sempre o sentimento de piora.
Apenas de forma didática, pode-se dizer que estes são dois fatores que estão diretamente ligados a inflação:
1 Perca do valor da moeda;
2 Aumento no custo da cadeia produtiva.
A moeda desvalorizada se dá por vários fatores, dentre os principais estão: expansão monetária, má gestão política, má gestão econômica e instabilidades civis. Praticamente, qualquer fato que seja capaz de ter conotação econômica em larga escala terá a possibilidade de causas desvalorização de uma moeda.
- Atualmente é o que ocorre com o Euro. A Rússia tem o poder de gerar uma crise energética em boa parte da Europa, algo que está bem próximo de se tornar realidade. Então objetivando não correr riscos, investidores e empresas começam a migrar seus capitais a outros países e em moedas mais estáveis. (Normalmente o dólar será a opção.)
Quanto ao aumento no custo da cadeia produtiva, os fatores também são diversos. Tudo aquilo que direta ou indiretamente faz parte da cadeia de mercado tem a capacidade de alterar o valor final de um produto.
- O aumento no preço do petróleo tem o poder de aumentar praticamente o preço de qualquer produto no Brasil. Da mesma forma que o aumento do custo da borracha utilizada para a fabricação de pneus. Está consequência decorre da forma como se dá a logística no país, sendo majoritariamente realizada por caminhões.
Não há necessidade de uma correlação direta entre o aumento do preço de um produto e do insumo que sofreu aumento. Desde que, de alguma forma, mesmo que indiretamente, faça parta da cadeia de mercado em questão.
- Um exemplo esdrúxulo, mas que terá a capacidade de trazer maior clareza ao argumento. Pense em um pintor, os materiais por ele utilizado são pincel, tinta, moldura, tela e removedor de tinta, nada mais. Um aumento na energia elétrica não tem uma correlação direta com o custo de sua produção. Contudo, haverá um aumento em seu custo de vida, acarretando um repasse em seus produtos, tornando-os mais caros.
Não é necessário a existência de um custo direto para que um produto tenha seu preço final aumentado.
É muito comum que aumentos em commodities sejam capazes de elevar os preços em vários seguimentos do mercado, mesmo que aparentemente não possuam relação alguma.
A perca do poder de compra
Seja qual for a causa da inflação o poder de compra da moeda sofrerá redução.
A causa da inflação é um fator que deve ser entendido para que seja possível evitar o agravamento. No entanto, o que tem importância no dia a dia são as consequências causadas pela inflação, dentre elas a perca do valor da moeda.
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